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Emoção e fé no adeus à Senhora do Cabo Espichel
2000-09-20 20:29:48

"Ainda a Nossa Senhora não se foi embora e já estou com saudades dela, só volta daqui a 25 anos", contou ao Correio da Manhã Maria Emília Santos, 65 anos, enquanto assistia emocionada à partida da imagem peregrina de Nossa Senhora do Cabo Espichel que ontem foi transportada em procissão, como manda a tradição, da freguesia de Montelavar para a de Rio de Mouro, no concelho de Sintra.

As festas em honra da santa regressaram assim a Rio de Mouro, depois de 50 anos de interregno.
A imagem de Nossa Senhora do Cabo Espichel conta com um círio (peregrinação) que percorre 25 freguesias dos concelhos de Oeiras, Loures, Sintra, Cascais, Mafra e Lisboa, permanecendo um ano em cada paróquia. Ontem foi o dia em que Montelavar entregou a imagem à Igreja de Nossa Senhora de Belém, em Rio de Mouro velho.
"Já só voltamos a receber a Nossa Senhora daqui a 25 anos, mas vou com certeza visitá-la às paróquias onde ela estiver", acrescentou, triste, Maria Emília Santos.
De Rio de Mouro vieram dois autocarros e cerca de 50 automóveis particulares para acompanhar a imagem "de regresso à paróquia", onde já não se realizava festa em sua honra há 50 anos.
"Há 25 anos recebemos a imagem, mas devido ao período conturbado vivido com a pós-revolução do 25 de Abril não se fez a festa. Assim, hoje (ontem) trata-se de um dia muito feliz para nós", referiu ao CM Alexandre Gaspar, de 45 anos, elemento da Comissão de Festas da paróquia de Rio de Mouro.
A imagem despediu-se de Montelavar com uma cerimónia religiosa realizada no largo principal da localidade e seguiu em procissão para Rio de Mouro transportada numa charrete acompanhada por cerca de 50 cavaleiros envergando as típicas vestes saloias da região, a charanga da GNR, três carroças (onde seguia o clero e algumas crianças), uma dezena de elementos do Moto Clube de Sintra e inúmeros fiéis, que acenavam lenços brancos e estendiam colchas à passagem da Senhora do Cabo.
"É a primeira vez que assisto a esta festa, devido ao interregno de alguns anos. Este ano organizou-se uma comissão de carolas para levar a cabo, preservar e honrar esta tradição digna e importante para as gentes de Rio de Mouro, principalmente as mais idosas", realçou Alexandre Gaspar.
Para o próximo ano a imagem deverá seguir para a freguesia da Ajuda, em Lisboa, situação que ainda não está certa porque, como explicou Alexandre Gaspar, "a Ajuda não recebeu a imagem há 25 anos e os mais velhos dizem que a regra manda que não volte a receber".
A procissão, até chegar a Rio de Mouro, passou pela freguesia de Pêro Pinheiro, parou na Base Aérea nº 1 - seguindo a tradição do tempo do Marquês de Pombal, que tinha a sua quinta na zona - e visitou a Igreja do Algueirão.
Esta romaria, tradicionalmente quinhentista, foi perdendo, com o decorrer dos anos, as suas linhas tradicionais, havendo mesmo um interregno a seguir à implantação da República, para em 1927 receber novo impulso, recomeçando o giro pelas freguesias da região.
Segundo a lenda, o culto de Nossa Senhora do Cabo Espichel vem do ano de 1215, quando a tripulação de uma nau inglesa se salvou de um naufrágio, na noite de Natal, junto ao Cabo Espichel. O milagre foi atribuído a Nossa Senhora e a tripulação decidiu construir uma pequena e rústica ermida em acção de graças.
As festas populares em Rio de Mouro começaram ontem e terminam no dia 24, com um programa recheado de animação que privilegia a cultura popular sintrense.

Fonte CM

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