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Igreja diz que não tolera padres na política
2001-09-08 02:22:18

A IGREJA não tolera candidaturas políticas de padres. Em vésperas de eleições autárquicas, e pela primeira vez na sua história, a Arquidiocese de Braga tomou uma posição firme sobre o assunto e não volta atrás. A primeira «vítima» desta decisão foi o padre Albino Carneiro, que anunciou a sua candidatura pelo PSD à Câmara de Vieira do Minho.

Como consequência, foi suspenso da sua actividade como pároco e, caso perca as eleições de Dezembro, pode ser transferido.

«Só em caso de catástrofe se justifica a intervenção política de um padre, como aconteceu na oposição ao comunismo no pós-25 de Abril», disse ao EXPRESSO o vigário-geral da Diocese de Braga, monsenhor Eduardo Melo. O polémico «cónego Melo», que teve uma participação activa no período a seguir à revolução de 1974, dá o seu próprio exemplo para justificar os casos de excepção.

Situação que não se aplica ao pároco Albino Carneiro, cuja candidatura autárquica em Vieira do Minho não agrada à Igreja. O arcebispo-primaz de Braga, D. Jorge Ortiga, evocou normas internas para suspender a actividade dos párocos que aceitem entrar na política.

A posição oficial da Arquidiocese, em período pré-eleitoral, foi pela primeira vez tornada pública de forma clara e inequívoca, apesar de no passado terem existido situações idênticas sem que tenha existido uma intervenção como a que ocorreu agora.

As queixas de forças políticas sobre a intervenção de sacerdotes que, a coberto da actividade pastoral, influenciaram os paroquianos na hora da votação é frequente, chegando com frequência ao bispo protestos dos partidos.

Argumentando que a política «divide os homens», monsenhor Melo compara a incompatibilidade com os cargos de Presidente da República ou de primeiro-ministro, que são exercidos em exclusividade.

Apesar de suspenderem a actividade como porta-vozes do Arcebispo, os sacerdotes podem continuar «a exercer o ministério», ou seja, esclarece, «não ficam impedidos de celebrar missas ou de dar a extrema-unção entre outras actividades próprias do clero. Simplesmente deixam de ser a mão longa do bispo na paróquia». No caso de perder, «o sacerdote pode ser transferido para outras paróquias», explica o vigário-geral, que rejeita a ideia de se tratar de qualquer retaliação: «Ele não ficaria em boas condições. Torna-se odioso, fica-se marcado».

O caso não é excepção na Arquidiocese de Braga. O padre Sousa Fernandes, eleito nas listas do PS, nos últimos mandatos, continua à frente da Assembleia Municipal de Braga.

A decisão de Albino Cardoso de se candidatar foi tomada em Novembro de 2000 e comunicada ao arcebispo-primaz de Braga. Segundo monsenhor Melo, o sacerdote justificou a sua opção como forma de «defender o povo», justificação que para a hierarquia da Igreja não é suficiente: «Por que é que tem de ser um padre? Não há necessidade de se meter na vida política quando outros podem fazer isso».

O sacerdote, de 42 anos e natural de Vieira do Minho, explicou ao EXPRESSO que há uma razão mais forte: «Em dois anos, pude verificar que a atitude das pessoas em relação ao poder político era de medo». A explicação foi dada a D. Jorge Ortiga, que, mesmo assim, tentou demovê-lo: «Aconselhou-me a pensar bem, mas não me manifestou hostilidade».

A total ausência de participação cívica é «clara» para este sacerdote, que admite ter tido dificuldade em constituir as listas para as 21 freguesias do concelho: «As pessoas têm medo de dar a cara por aquilo que pensam».

O candidato, que avança como independente na lista do PSD, revela que o principal receio manifestado pelas pessoas diz respeito «aos pedidos de emprego ou à possibilidade de verem os seus projectos chumbados ou atrasados na secretaria».


Fonte Expresso

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