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Carta Pastoral - O Nascimento de uma Nação
2001-08-29 19:05:46

Timor Oriental está a preparar-se para viver uma das fases mais aliciantes da sua História, a de pegar em mão o seu destino, e de viver um acontecimento apaixonante, o de se preparar para a independência, o primeiro país a nascer neste terceiro milénio. O maior desafio que a História levanta aos timorenses é se nós somos ou não capazes de erguer um país, embora pequeno na sua dimensão, e de o fazer sentar-se com dignidade no meio da Comunidade das Nações e de ser considerado e respeitado pela comunidade internacional.
A Igreja Católica em Timor, tendo partilhado e acompanhado a caminhada do povo timorense, sucessivamente como defensora, consoladora, conciliadora, refúgio nos momentos mais conturbados da história recente deste povo, não podia deixar de participar neste momento de euforia colectiva, lembrando ao povo timorense em geral e aos católicos em particular, a responsabilidade de cada cidadão timorense na construção deste seu novo país.



A memória da História
A História é o conjunto de acontecimentos sucessivos experimentados no seio da comunidade humana e que testemunham as acções e perpetuam a memória de um povo. É nessa memória que cada povo se apoia e se fundamenta para construir a sua existência e afirmar a sua identidade perante outros povos.
Depois de a nossa história ser vista através dos olhos de Portugal durante mais de quatro séculos, através dos olhos da Indonésia durante vinte e quatro anos, através da ONU neste breve período de transição, eis-nos chegados ao tempo de nos vermos a nós mesmos através dos nossos próprios olhos. Chegou o tempo de nós, os timorenses, carregarmos como o destino de Timor sobre os nossos ombros e de escrever uma nova página da História desta terra, mas desta vez como um país independente.

A construção de uma Nação
Esta comunidade humana, actualmente de quase 800.000 pessoas, vai gozar de um privilégio que não se apagará nunca mais da História de Timor: o privilégio de ser, ou de sermos os PAIS DA NAÇÃO. Uma geração que fez nascer um país. Porém, este privilégio deixa-nos por outro lado uma responsabilidade que será também colada para sempre a esta geração: que nação vai esta geração deixar aos vindouros ou que bases vai esta geração deixar aos timorenses de amanhã para que Timor venha de facto a ser uma nação sólida, respeitada e próspera?
Em 30 de Agosto próximo seremos todos chamados a contribuir para o lançamento da primeira grande infra-estrutura da vida desta nação que é a eleição para a Assembleia Constituinte. Esta Assembleia é aquela que vai pensar, criar, definir e redigir as leis fundamentais que vão orientar a vida desta nação, no futuro. Ela vai ser constituída pelos membros dos partidos políticos que forem mais votados e pelos cidadãos que se apresentam como independentes, isto é, sem filiação partidária. Nem todos os timorenses poderão sentar-se na Assembleia Constituinte para fazer as leis, mas todos nós temos a possibilidade de contribuir para que aqueles que venham a fazer as leis fundamentais deste país sejam as pessoas mais competentes, mais idóneas e as de maior confiança do povo. Esta nossa contribuição será dada através da única arma do povo, em democracia, que é o voto.
Por isso, nós os Bispos, conscientes desta fase da nossa História e deste acto tão fundamental para a vida do povo e da nação timorenses, apelamos aos timorenses em geral e aos católicos em particular para que participem no nascimento e na construção desta país, através do voto, lembrando-lhes o dever e a obrigação de contribuírem para o melhoramento daquilo que o Criador deixou à criatura humana.

Algumas recomendações
- Para que o voto seja consciente é necessário que todo o cidadão timorense procure informar-se o melhor possível sobre o pensamento, a doutrina e o programa de cada partido. É verdade que a respeito de programas, é coisa que tem estado muito ausente, mas mesmo assim procure cada um informar-se participando nos comícios e sessões de esclarecimento organizados pelos partidos e também através dos meios de comunicação social, jornais, rádio, televisão e na conversa com os amigos.

- É necessário termos todos consciência de que o bem de Timor deve ser o objectivo fundamental de todos os timorenses. A construção deste país é um projecto comum e não deve ser preocupação de partidos políticos apenas. Nenhum timorense pode pensar que a construção da nação não faz parte da sua preocupação.

- Numa campanha eleitoral há sempre muitas promessas. Isso faz parte do jogo e da propaganda partidária. Porém, é necessário ver e saber quem tem capacidade para realizar as promessas, isto é, quem tem quadros para cumprir o que promete. Timor precisa neste momento de toda a estabilidade, de segurança, de confiança naqueles que o representam para poder organizar-se em paz.

- Por último, uma observação e um pedido aos responsáveis dos partidos políticos. Não ignoram certamente que há uma ideia muito errada a respeito da existência e da actividade dos partidos políticos, pois considera-se, pelo menos o povo simples assim o pensa, que a existência de partidos significa forçosamente o reatar, ou o recomeço de conflitos, o regresso a um passado de guerras e de mortes. Cabe aos partidos políticos a ingente tarefa de valorizarem o papel, a credibilidade e a força da democracia, tentando conquistar e recuperar a confiança deste povo nas forças políticas partidárias, apagando a má memória colectiva que a actividade partidária deixou no passado, e tentando cicatrizar as feridas que a negativa experiência abriu. Nesta odisseia em que todos nós amos participar, os louros e os fracassos, as perdas e os ganhos serão sobretudo para o povo timorense, particularmente os mais indefesos, e para a credibilidade da democracia.

FELICIDADES PARA TIMOR ORIENTAL E PARA O POVO TIMORENSE

Timor Oriental, Agosto 2001

D. Carlos Filipe Ximenes Belo
Adm. Apostólico de Dili

D. Basílio do Nascimento
Adm. Apostólico de Baucau

Fonte Ecclesia

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