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Fé deve casar com a política
2001-08-19 11:37:23

Promover o casamento entre a fé e a política é um dever de todos os cristãos, defendeu D. Carlos Ximenes Belo, administrador Apostólico de Dili, durante um congresso de antigos alunos salesianos que estes dias se realizou na vila de Fatumaca, próximo de Baucau.

Para o prelado, são os leigos, e não a hierarquia, a não ser em casos excepcionais, que devem envolver-se na construção da sociedade civil. Com a sua visão do Evangelho, é a eles que compete defender os interesses da Igreja, disse. O bispo apelou, assim, para que marquem presença na composição da Assembleia Constituinte que as eleições do dia 30 de Outubro hão-de ditar.

"Homens da Igreja no poder? Porque não?" - continuou D. Carlos, sublinhando que a todos cabe participar na política para que a fé nela se inculture.

Explicou, no entanto, que a opção partidária é de cada um, sem que a hierarquia ou padres devam orientar o voto. "Essa é uma decisão que nos obriga a uma séria e profunda reflexão inspirados nos princípios da fé que os faz mover", afirmou.

Igreja no poder? - esta é uma perspectiva que, na opinião expressa por D. Carlos, deve ser refutada. "Não gostaríamos de ver os ministros a ajudar à missa", adiantou, provocando na assembleia uma gargalhada geral. E sublinhou: "O voto é em consciência e não de cruz."

No contexto, recordou os que o conotam com o partido da Fretilin, esclarecendo: "O bispo não pertence nem à Fretilin nem a nenhuma outra força partidária."

O Estado, frisou em seguida, "deve ser neutro, imparcial, preocupado com a promoção da liberdade religiosa para todas as confissões e a defesa dos direitos humanos". A acção política e partidária só têm sentido, na sua perspectiva, quando no centro dos seus desejos e acções estiver nada mais do que o bem comum.

D. Carlos Ximenes Belo defendeu, neste sentido, a existência de um Estado laico, com os poderes bem distribuídos e completamente separados da Igreja.

Do mesmo modo, explicou depois, os bispos devem ser neutros, imparciais, relativamente acção governativa.

No entanto, isto não significa indiferença perante o desenrolar dos acontecimentos. A Igreja tem o direito de criticar sempre que surjam leis que firam valores considerados fundamentais. Mas, sem provocar um golpe de Estado, explicitou.

D. Carlos Ximenes Belo, antigo aluno dos missionários salesianos, dirigia-se aos seus outrora colegas de escola durante o congresso que estes organizaram, tendo-lhes lembrado, a propósito, a educação que lhes foi oferecida inspirada na pedagogia e espiritualidade de São João Bosco, o fundador daquela instituição religiosa.

D. Ximenes Belo começou por sublinhar a importância da serenidade perante as fricções e provocações entre as forças partidárias que já se fazem sentir no presente processo eleitoral em Timor, tendo sublinhado: "A política deve ser obra de todos com perseverança e temperança."

Em seguida, salientou também o optimismo, frisando que Timor, após a independência, tem muito trabalho burocrático para resolver e precisa de competência e profissionalismo.

Neste tempo de renascimento nacional, o prelado apelou ainda para que ninguém se assuste com a grande variedade de forças políticas que surgem no panorama político.

Timor para ser independente e livre exige a existência de vários partidos e a participação de todo o povo nos actos eleitorais. Neste sentido, considerou que abster-se de ir às urnas, neste período de reconstrução, pode significar um recuo.

O bispo, recorrendo frequentes vezes ao documentos do Vaticano II, foi claro na sua mensagem aos congressistas: "Os cristãos, com a sua visão do Evangelho, não se podem alhear deste processo de reconstrução de Timor."

Fonte DN

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