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O mundo afasta-se da Igreja?
2009-06-27 11:18:18

Sentimos todos que o Homem contemporâneo se mantém religioso. Ainda recentemente, Tony Blair vaticinou que «a fé religiosa poderá ter para o século XXI o mesmo significado que a ideologia teve para o século XX». Atrever-me-ia, contudo, a ir mais longe: não será que o mundo está a dar sinais de ser mais religioso que a própria Igreja?

De facto, há indícios de que a religiosidade cresce no mundo e de que, ao mesmo tempo, a secularização aumenta na Igreja. Estaremos em vias de ter uma Igreja secularizada no meio de um mundo religioso?

Há um número crescente de pessoas que prefere manifestar as suas crenças nas ruas ou nos salões a fazê-lo nas igrejas. Será que até para expressar a sua fé as pessoas se vão afastando da Igreja?

Se olharmos para as procissões desta época do ano, depressa verificaremos que nelas participam não só muitos dos que vão à Igreja, mas também bastantes dos que lá não vão ou vão muito raramente.
Porque é que o costume do povo congrega mais que o apelo dos pastores?

2.O problema não está na religiosidade popular. A relação com o divino está mesmo entranhada no ser humano. O antropólogo Robert Marett já sugeriu que, mais do que homo sapiens, o ser humano devia ser designado homo religiosus. Mircea Eliade reconhece que o sagrado é um elemento da estrutura da consciência humana e não um mero estádio da história da consciência. E Rudolf Otto anota que o sagrado é um a priori inato da mente humana.

A esta luz, podemos dizer que a religião não é um mero fenómeno religioso. É um verdadeiro fenómeno humano.
É neste sentido que, como assevera José Antonio Marina, «a matriz de todas as culturas foi religiosa». Na verdade e como acrescenta Clyde Kluckkon, «até ao emergir das sociedades comunistas, não conhecemos nenhum grupo humano sem religião».

S. Justino sustenta que as sementes do Verbo de Deus estão espalhadas por todos os homens. Tertuliano proclama que «a alma humana é naturalmente cristã».
Mais recentemente, Karl Rahner desenvolveu a teoria do cristianismo anónimo e Edward Schillebeeckx debruçou-se sobre o cristianismo implícito. Também Xavier Zubiri propõe a ideia de haver, em toda a parte, um cristianismo intrínseco, um cristianismo germinal.

3. Estaremos nós, em Igreja, a optimizar devidamente este ADN espiritual da humanidade?
É bom não esquecer que, já em 1985, os bispos do mundo inteiro, reunidos em Sínodo, perguntavam se a difusão das seitas não era o sinal de que nós, católicos, estávamos a perder o sentido do sagrado. D. Walmor Oliveira de Azevedo assinalou, recentemente, que «um católico abandona a Igreja porque, muitas vezes, não encontra Deus nela». Na sua óptica, «muitos, no fundo, não querem abandonar a Igreja; o que querem é procurar sinceramente a Deus».

4. Em conexão com a espiritualidade vem sempre a caridade. Se não praticamos o acolhimento e a delicadeza, se não nos envolvemos nas causas da justiça e da defesa dos mais pobres, não convenceremos ninguém.
As pessoas necessitam de ouvir a verdade. Mas precisam igualmente de ver o amor. Se não o virem na nossa vida, não acreditarão nas nossas palavras. D. Adriano Bernardini, Núncio Apostólico na Argentina, advertiu em tom autocrítico: «Explicamos ao povo as sublimes palavras de Jesus e, na prática, descobrimo-nos, com frequência, rudes e até desumanos».

É por isso que, como refere Louis Mangkhanekhoun, «o mundo está cansado de escutar, mas não está cansado de se maravilhar e de admirar um testemunho verdadeiro. Há fome e sede de pastores que vivam aquilo que pregam e que preguem aquilo que vivem».

João António Pinheiro Teixeira
Padre
Sol


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