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39 anos com João Paulo II
2008-11-04 22:54:49

Portugal nas conversas do Papa polaco com o seu secretário pessoal, Cardeal Stanislaw Dziwisz, que recorda também os ferimentos provocados pelo atentado, na Cova da Iria, em Maio de 1982.

Em Portugal para inaugurar a exposição «Karol Wojtyla – a fé, o caminho, a amizade. Excursões com os amigos (1952-1954)», o Cardeal Stanislaw Dziwisz revelou como o Papa João Paulo II falava de Portugal, o significado da Mensagem de Fátima para o seu Pontificado e recordou os ferimentos provocados pelo atentado, na Cova da Iria, em Maio de 1982.

Quais as maiores recordações do Papa João II?

São tantas recordações! Todos temos grandes recordações do Grande Papa JPII. É difícil responder a uma questão dessas com uma frase.

Posso dizer que tenho grandes recordações das visitas do Papa a Portugal. Não posso esquecer a primeira, quando veio para agradecer à Virgem de Fátima pela sua vida. Ele estava convencido que a sua vida foi salva pela Virgem de Fátima, tão grande foi o perigo do atentado no dia 13 de Maio, na Praça de S. Pedro, dia do aniversário das aparições.


Sentiu-se salvo e trouxe mesmo a bala que o Bispo de Fátima, muito gentilmente, colocou na coroa da imagem de Nossa Senhora. É uma grande recordação.

Depois houve as outras vindas, nas quais foi importante a entrega do mundo do Leste da Europa, da Rússia, à Virgem, segundo desejo de Nossa Senhora expresso à Irmã Lúcia, em mensagens.

Quando venho aqui, surgem estes pensamentos, que provocam grandes intenções de oração e gratidão pelo Papa João Paulo II e também pelas ocasiões das quais falei.


João Paulo II falava consigo sobre Fátima?

Posso dizer que o Santo Padre, antes do atentado, não se ocupava muito da mensagem. Certamente que conhecia o Santuário, conhecia Fátima, a devoção à Senhora de Fátima, muito difundida na Polónia. Mas não se interessava tanto.

Depois do atentado, de repente, uniu este facto de Fátima ao seu sofrimento com o atentado. Estava convencido que a Senhora o salvou, que ele também tinha entrado no segredo da Mensagem de Fátima.

O Segredo dizia respeito a ele…

Não digo o segredo, mas o mistério da Mensagem de Fátima. Mesmo ontem pensei nisso: que a providência escolheu-o para cumprir tudo o que a Senhora de Fátima pediu aos três Pastorinhos, como aqui se diz.

A Senhora, antes da guerra, pediu para consagrar a Rússia ao Imaculado Coração e Maria. Isto dizia respeito ao comunismo, que provocou grandes danos, não só à Rússia, falta de liberdade, sobretudo, de consciência, de palavra, de soberania.

A Senhora disse que não haveria paz sem a consagração ao Coração Imaculado. E a Senhora esperou muito tempo, até à chegada de João Paulo II. Talvez seja um exagero, da mina parte, mas digo que através deste atentado cumpriu-se esta consagração com todos os Bispos, na Praça de São Pedro

Também pelo testemunho de diversos encontros com os bispos do Leste da Europa, ouviu dele que depois dessa consagração, apareceram sinais de mudança. Dizemos hoje, mudanças enormes, uma grande revolução, a maior do mundo, sem derramamento de sangue.

Falavam sobre tudo isto?

Falávamos e sobretudo ouvia dele este pensamento, porque ele era um homem de grande pensamento e de grande oração.


Como se referiam a Portugal?

Sobre Portugal falava-se muitas vezes, cantava-se, rezava-se, sobretudo essa melodia do dia 13 de Maio. Quando ia com o Papa ao terraço, cantava-se esse cântico famoso que se canta Portugal. Todos estes factos aproximaram-no de Fátima, não tanto do país, mas do povo: as multidões, a penitência que fazem as pessoas, a oração do Rosário, não se deixar de amar esta gente, este lugar...


Que significado atribuiu João Paulo II à beatificação dos pastorinhos?

Era um sinal do céu. Para beatificar e canonizar é preciso um sinal do céu - um milagre - e a fama, da parte do povo, de santidade. Também aqui houve um processo normal para a beatificação dos dois (Francisco e Jacinta, ndr). Eu pessoalmente espero que a Ir. Lúcia se una aos dois.


Para quando a beatificação de João Paulo II?

O processo está em curso. O trabalho principal está feito - a positio - e também os sinais do céu são muitos e verdadeiramente estupendos... Eu chamo-lhe graças, mas são milagres, não há problema a esta respeito.

Penso também nesta multidão contínua no túmulo de João Paulo II, as pessoas vão lá para encontrá-lo, para lhe apresentar intenções ao Senhor por diversas coisas. Cada um de nós tem algo a dizer-lhe, a pedir-lhe...

Como dizia alguém, ele pouco falava, mas ouvia tudo o que os outros diziam. Penso que são poucos os que sabem – eu sei, porque estando com eles tantos anos, vi – que o Santo Padre, quando recebia pessoas em audiência, rezava por eles, por todos. O mesmo durante as audiências gerais. Isso era mais importante do que o diálogo, porque entregava os problemas das pessoas ao Senhor e o Senhor sabe o que fazer.


Referiu que o Papa João Paulo II ficou ferido com sangue, no dia 12 de Maio de 1982. O que é que aconteceu realmente?

Foi um facto gravíssimo. O Papa dirigia-se ao altar quando um homem com vestes eclesiásticas tentou atingi-lo (ndr: na peregrinação de 1982 à Cova da Iria, o padre espanhol Fernandez Krohn logrou aproximar-se de João Paulo II armado com um punhal), mas graças a Deus que foi impedido. O Papa pôde acabar a celebração e abençoou este homem. Ficou desolado por tudo o que aconteceu, mas penso que ficou mais desagradado por terem atirado este homem ao chão e procurou defendê-lo.

Havia uma grande confusão. Quando regressámos (ao quarto), vimos marcas do sangue, pelo que nalgum momento – como, não sei – (Krohn) chegou até ele. Mas foi algo pouco significativo, sem risco para a sua saúde e muito menos para a sua vida.

Para não aumentar a tensão, para não manchar a festa, quando se percebeu que a situação não era perigosa, o Papa não quis criar esta atmosfera... Como não foi atingido de forma perigosa ou que colocasse em risco a sua vida, deixou passar, também por respeito este homem.

Ele era muito sensível, muito dedicado às pessoas. Meu Deus! Quando houve o atentado da Praça São Pedro, mesmo no limite da sobrevivência, ele ainda no carro perdoou a quem o tentou assassinar (Ali Agca).

Isto é o que fazem os santos. Quis também ir à prisão para visitá-lo e num texto que escreveu, que não está publicado, chama-o irmão. Grande exemplo para nós...


Há continuidade entre o pontificado de João Paulo II e o de Bento XVI?

Certamente. Mas como vemos, pelo menos no último século, em que conhecemos grandes Papas, cada um tem a sua personalidade. Isto não é copiar um pelo outro, continuar é diferente de copiar.

O Papa Bento XVI tem o seu carácter, a sua preparação pessoal, a sua proveniência, com grandes dotes que servem a Igreja de hoje.

João Paulo II teve o seu tempo, hoje temos outro Papa, chamado pelo Senhor e que levará adiante a Igreja. Isto é a beleza da Igreja, quando a vemos com fé e um juízo correcto.

A dada altura, João Paulo II referiu que os Papas poderiam abdicar. Qual a sua opinião?

O Código de Direito Canónico prevê, quando existam motivos graves, que o Papa possa abdicar., deixar o seu ofício, mas devem ser motivos gravíssimos. Sobretudo que não possa desenvolver o seu ministério, não possa continuar tudo o que está chamado a fazer pela sua missão pastoral, mas devem ser motivos muito graves. O Santo Padre (João Paulo II) disse: o Senhor chama, o Senhor saberá quando me devo retirar.

A responsabilidade de um Papa ao decidir é grave. Mas a Igreja tem a possibilidade, quando um Papa já não pode continuar, mas aconteceu apenas uma vez na história e a própria história mostrou que essa decisão trouxe frutos muito negativos.

Continua viva a herança do Papa João Paulo II na Polónia?
Não só continua viva, mas também queremos aprofundar esta herança. Eu estive com João Paulo II 39 anos. Mas devo dizer que o descubro também hoje, como homem, como pastor e também como poeta, escritor. O mundo ainda pode viver desta herança, de facto, durante muito tempo. Esta herança é a da Igreja, de Jesus Cristo. Ele não ensinava outra verdade, apenas sabia explicá-la de forma convincente.


Reza todos os dias ao Papa João Paulo II?

Certamente, sobretudo quando há problemas graves, que são muitos para um bispo, e nos simples também. Dou um exemplo: tenho de celebrar e está um grande temporal e eu digo - Santo Padre, ajude-me. E ele ajuda. Sabe que quando chovia na Praça de S. Pedro, muitas vezes a chuava acabava por desaparecer.

Aconteceu o mesmo na Ucrânia, num grande encontro com a juventude, quando chovia de tal maneira que não se ouvia o que o Papa dizia. Deixou de lado os papéis e começou a cantar um cântico popular. A chuva desapareceu e surgiu o sol.

E digo a tanta gente, quando têm problemas sérios, da vida da família, de saúde, que lhe rezem. Eu faço o mesmo. Mandam-nos muitas cartas para Cracóvia, pedindo orações, e nós colocamos as cartas nas capelas, celebramos Missas, imitamos João Paulo II.


Que conselho dá aos portugueses...

Não daria nenhum conselho, tendes muitos conselheiros, Bispos notáveis, o Patriarca. Mas posso dizer que se procurais um grande protector diante de Deus, conheceis bem o João Paulo II que vos amava.

(Entrevista a emitir no Programa Ecclesia de quinta-feira, dia 6, às 18h30, na RTP2).

Fonte Ecclesia

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