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Jovens dão as boas-vindas ao Papa
2008-07-17 22:32:26

Bento XVI foi hoje recebido num ambiente de festa pelas muitas dezenas de milhares de jovens que se encontram em Sidney para celebrar a Jornada Mundial de Juventude 2008.

Num longo discurso, o Papa aproveitou este contacto inicial para deixar desafios aos presentes, sobretudo em relação à dignidade humana, à violência e à defesa da natureza.
“Somos levados a reflectir sobre o lugar para os pobres e os idosos, os imigrantes e os que não têm voz na nossa sociedade. Como é possível que a violência doméstica atormente tantas mães e crianças? Como é possível que o mais sagrado espaço humano – o ventre – se tenha tornado um lugar de violência indizível?”, questionou.

Segundo o Papa, “as preocupações pela não-violência, o desenvolvimento sustentável, a justiça e a paz, pelo cuidado com o ambiente são de importância vital para a humanidade”, mas não podem “ser entendidas sem uma reflexão profunda sobre a dignidade inata de cada vida humana desde a sua concepção até à sua morte natural: uma dignidade conferida pelo próprio Deus e, por isso, inviolável”.

Tal como tinha prometido antes da chegada ao país, Bento XVI falou da necessidade de defender o ambiente, frisando que “existem feridas que desfiguram a superfície da terra: a erosão, o desflorestamento, o esbanjamento dos recursos minerais e marítimos para alimentar um consumismo insaciável”.
“Alguns de vós chegam das ilhas-Estado, que se vêem ameaçadas na sua própria existência pelo aumento do nível das águas; outros de nações que sofrem os efeitos de secas devastadoras”, precisou.

Para Bento XVI, “não é só o ambiente natural que tem as suas cicatrizes, mas também o ambiente social, o habitat que nós mesmos criamos; feridas essas que indicam que alguma coisa não está certa”.
“Entre os mais salientes, contam-se o abuso de álcool e de drogas, a exaltação da violência e a degradação sexual, frequentemente apresentados na televisão e na Internet como divertimento. Pergunto-me como alguém, colocado face a face com pessoas que estão realmente a sofrer violência e exploração sexual, poderá explicar que tais tragédias, reproduzidas de forma virtual, devem considerar-se simplesmente como «divertimento»”, questionou.

Na sua primeira aparição neste evento, iniciado na passada Terça-feira, o Papa falou de todos os presentes “uma família de Deus”, frisando a diversidade de proveniência de todos os presentes. “Jesus está ao vosso lado”, destacou.
“A variedade de nações e culturas donde provindes demonstra que a Boa Nova de Cristo é verdadeiramente para todos e cada um; ela chegou aos confins da terra. E, no entanto, sei também que um bom número de vós ainda anda à procura duma pátria espiritual”, indicou, falando em especial aos que “não são católicos nem cristãos”.

Bento XVI afirmou que “o nosso mundo está cansado da ambição, da exploração e da divisão, do tédio de falsos ídolos e de respostas parciais, e da mágoa de falsas promessas. O nosso coração e a nossa mente anelam por uma visão da vida onde reine o amor, onde os dons sejam partilhados, onde se construa a unidade, onde a liberdade encontre o seu próprio significado na verdade, e onde a identidade seja encontrada numa comunhão respeitosa”.

Relativismo e secularização

Entre mais de 150 mil jovens (a que se terão somado mais 350 mil noutros pontos de Sidney), o Papa voltou a um dos temas mais marcantes do seu pontificado, o relativismo.
“Há algo de sinistro que nasce do facto de liberdade e tolerância serem tantas vezes separadas da verdade. Isto é alimentado pela ideia, hoje largamente espalhada, de que não há uma verdade absoluta para guiar as nossas vidas”, indicou.

“Na prática dando indiscriminadamente valor a tudo, o relativismo fez da «experiência» a coisa mais importante. Na realidade, as experiências, desligadas de qualquer consideração do que é bom ou verdadeiro, podem conduzir, não a uma liberdade genuína, mas a uma confusão moral ou intelectual, a uma atenuação dos princípios, à perda da auto-estima e mesmo ao desespero”, disse ainda.

Por isso, Bento XVI fez questão de sublinhar que “a vida não é governada pela sorte, nem é casual”, mas “querida por Deus”. “É uma busca da verdade, do bem e da beleza. É precisamente para tal fim que fazemos as nossas opções, exercemos a nossa liberdade e nisso mesmo, isto é, na verdade, no bem e na beleza, encontramos felicidade e alegria”, precisou.

Esta tarefa, alertou, é particularmente difícil porque “hoje, há muitos que pretendem que Deus deva ficar de fora e que a religião e a fé, embora aceitáveis no plano individual, devam ser excluídas da vida pública ou então utilizadas somente para alcançar determinados objectivos pragmáticos”.

“Esta perspectiva secularizada procura explicar a vida humana e plasmar a sociedade com pouca ou nenhuma referência ao Criador. Apresenta-se como uma força neutral, imparcial e respeitadora de todos e cada um. Na realidade, porém, como qualquer ideologia, o secularismo impõe um visão global”, alertou.

Segundo o Papa, “se Deus é irrelevante na vida pública, então a sociedade poderá ser plasmada segundo uma imagem alheada de Deus, e o debate e a política relativos ao bem comum serão conduzidos mais à luz das consequências que dos princípios radicados na verdade”.

Aborígenes

No seu discurso, o Papa agradeceu aos aborígenes pelo acolhimento que lhe foi reservado à entrada do barco que o levou no porto de Sidney pelos “guardiães” da região.
“Sinto-me profundamente emocionado por me encontrar na vossa terra, sabendo dos sofrimentos e injustiças que esta suportou, mas ciente também da beneficiação e esperança agora em acto, de que justamente todos os cidadãos australianos podem ser orgulhosos. Aos jovens indígenas – aborígenes e habitantes das Ilhas do Estreito de Torres – e Tokelauanos, exprimo o meu obrigado pela tocantes boas-vindas. E, através de vós, envio cordiais saudações aos vossos povos”, disse.

Anciãos destas comunidades nativas apresentaram uma dança específica para este momento, após terem feito uma guarda de honra, e deixaram uma saudação na sua língua ancestral, gadigal.

O latim misturou-se com o gadigal – uma fusão que começa a ser a imagem de marca das celebrações desta JMJ –, antes de uma série de cânticos típicos da tradição aborígene acompanhados pelo didgeridoo.

Neste momento, uniram-se aborígenes de outras localidades australianas, com danças que marcaram a unidade entre os povos nativos e os peregrinos acolhidos na Austrália.
A bordo do barco que transportou o Papa estavam 530 pessoas, entre os quais 10 jovens aborígenes, 168 peregrinos dos outros continentes, 32 da Oceânia e 20 australianos. 16 destes jovens tiveram oportunidade de encontrar-se com o Papa.

O director dos serviços de comunicação do Vaticano, Pe. Federico Lombardi, destacou o acolhimento feito ao Papa “não como alguém que vem colonizar ou um amigo, mas como um amigo e pai espiritual”.

No final da cerimónia de boas-vindas, Bento XVI dirigiu-se para o papamóvel e passou pelo meio da multidão em festa, com bandeiras de dezenas de países dos cinco continentes.

Antes da partida, muitas forma as palmas e os cânticos dos jovens quando o Papa os saudou em várias línguas. Aos lusófonos, frisou que “ viagem mais ou menos longa que enfrentastes para chegar até aqui, à Austrália ou – de seu nome cristão completo – «Terra Austral do Espírito Santo», não deixou em vós a sensação de terdes chegado aos confins do mundo? Pois bem! É com grande alegria que o Papa vos acolhe para vos confirmar como testemunhas de Jesus, por Ele acreditadas com o dom do seu próprio Espírito”.

Fonte Ecclesia

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