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Silvio Berlusconi quer comungar, mas o Papa Bento XVI não deixa
2008-06-25 21:23:55

Em Abril foi o ex-mayor Rudy Giuliani que comungou. Agora foi o primeiro-ministro italiano que tentou, mas a hóstia foi-lhe recusada. São católicos, mas são divorciados.

Sardenha. Estava um dia de calor e o primeiro-ministro italiano assistia à inauguração do novo campanário da igreja de São Lourenço, em Porto Redondo. Chegada à hora da comunhão, Silvio Berlusconi levantou-se, dirigiu-se ao altar, estacou frente ao bispo Sebastiano Sanguinetti e perguntou-lhe: "Excelência, porque é que a lei não muda para os divorciados e não nos deixam comungar?"
A resposta foi como que um pedido: "O senhor, que tem poder, pergunte a uma instância mais alta do que eu." Delicadamente, o bispo de Tempio Pausania recusou-se a dar a hóstia ao político, que regressou ao lugar, na primeira fila.
Aconteceu sábado passado e não foi preciso o primeiro-ministro marcar uma reunião com o Papa, porque a resposta chegou logo no dia seguinte. É quase certo que Bento XVI desconhecia os dilemas religiosos de Berlusconi quando gravou uma videomensagem para ser emitida no final do 49.º Congresso Internacional Eucarístico, no Quebeque, Canadá.
Nessa mensagem, o Papa falou sobre os divorciados. O que disse não surpreendeu: "Só os puros, aqueles que não estão manchados pelo pecado, podem receber a sagrada comunhão. Os outros - que não podem comungar por causa da sua situação -, encontrarão no desejo da comunhão e na participação na santa missa uma força e uma eficácia salvadora." As palavras foram citadas pelo jornal espanhol ABC e pela BBC online. "Temos que fazer tudo para receber a comunhão de coração puro", reforçou o Papa.
Estas palavras não são boas notícias para os milhares de católicos espalhados por todo o mundo, e que estão na situação de Berlusconi ou de Rudolph Giuliani. O ex-mayor de Nova Iorque que, à revelia do que a doutrina da Igreja Católica diz, comungou em meados de Abril, quando Bento XVI esteve de visita aos EUA. Mas não devia fazê-lo porque tem dois divórcios e um terceiro casamento no seu currículo.
Na altura, a sua decisão dividiu os católicos norte-americanos. De um lado, os que seguem à risca o que a Igreja diz; do outro, os que acreditam que aqueles que se divorciam não estão a cometer nenhum pecado mortal.
Mas o que a Igreja Católica diz é que quem comunga tem de estar de acordo com a doutrina. E essa diz que o casamento é um sacramento indissolúvel, que não deve ser quebrado. Portanto, quem se divorcia, quebra o sacramento e não pode confessar esse pecado - não pode ser puro de coração, como pede o Papa -, porque também não se pode confessar. A confissão é o sacramento que permite a reconciliação da pessoa com Deus.
O currículo de Berlusconi é mais modesto do que o de Giuliani. Tem apenas um divórcio e um segundo casamento a declarar. Por isso, não comungar representa para o político um enorme sofrimento, confidencia o seu director espiritual, o padre Antonio Zuliani, que acompanha o empresário há meio século.
Tema controverso
Dizem os jornais italianos que a pergunta directa que Berlusconi fez ao bispo de Tempio Pausania, durante a missa, abriu uma nova frente de discórdia com a hierarquia católica. E trouxe de novo o debate sobre o tema.
Em Portugal, os divorciados também não comungam. Contudo, a Igreja acompanha-os através, por exemplo, do movimento Equipas de Santa Isabel. Muitos padres conhecem a vida pessoal destes católicos, reconhecem que eles estão integrados na vida da Igreja, e aconselham-nos a fazer como o Papa recomenda, isto é, a encontrar na eucaristia, mesmo não comungando, "uma força e uma eficácia salvadora". Outros divorciados, no anonimato da cidade e aconselhados pelos seus directores espirituais, comungam.
O argumento é o da "consciência pessoal". Há 15 anos, três bispos alemães (dois deles, Karl Lehmann e Walter Kasper, são actualmente cardeais) propunham que um divorciado pudesse comungar se, em consciência, concluísse que o casamento anterior era nulo. Mas, em 1994, o cardeal Joseph Ratzinger (o actual Papa), responsável pela Congregação para a Doutrina da Fé, negou essa possibilidade, com o apoio de João Paulo II.
Segundo o jornal italiano La Repubblica, pouco antes de ser eleito Papa, em Abril de 2005, Ratzinger tinha, em cima da sua secretária, um documento que, a ser aprovado, traria uma verdadeira revolução ao modo como este tema é encarado pela Igreja. Era um documento que abria a possibilidade dos divorciados, que voltassem a casar civilmente, poderem ser admitidos aos sacramentos.
Depois de ser eleito, nem o Papa nem nenhum dos seus mais directos colaboradores voltaram a falar desse documento. A verdade é que a Igreja continua a insistir na negação da comunhão aos divorciados. Para mal dos pecados de Berlusconi...

Bárbara Wong

Fonte Público

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