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Orações Regressam ao Convento dos Capuchos
2001-07-30 13:14:07

Uma neblina vinda da serra de Sintra teima em abater-se sobre o alpendre do Terreiro do Fontário, no Convento dos Capuchos, onde o padre Paulo Gerardo, pároco de Colares, celebra a primeira missa naquele local desde a sua chegada à paróquia há cinco anos.

Neste despojado monumento, habitado no passado por frades franciscanos, os apelos à oração do prior, em frente ao altar montado para a ocasião, assumem um simbolismo especial. Sobretudo para a população do Penedo ali presente que, com esta eucaristia, assinalou o início das celebrações da centenária Festa dos Capuchos, realizada todos os anos no último domingo de Julho.

"Esta missa significa o abençoar do piquenique que realizamos a seguir e das famílias que aqui estão. Digamos que primeiro tratamos do espírito e depois do corpo", explica Rosário Domingos, membro da direcção da Tuna Euterpe União Penedense, responsável pela realização da festa nos últimos três anos, que às 9h30 da manhã já andava de roda das bancadas improvisadas de comes e bebes.

Para o padre Paulo Gerardo, que no decorrer da eucaristia sublinhou o carácter de abnegação dos franciscanos, este momento de celebração da fé foi igualmente único. "O local é muito especial e esta foi uma oportunidade muito bonita de poder celebrar a missa aqui", confessou.

A realização da Festa dos Capuchos chegou a estar comprometida este ano. Com a reabertura do convento após obras de restauro, a população viu-se impossibilitada pela empresa Parques de Sintra-Monte da Lua, por razões que se prendem com a preservação do espaço, de fazer o tradicional piquenique no largo fronteiro ao monumento. "Até certo ponto, compreendo os argumentos da empresa mas, por outro lado, é muito difícil explicar à população que não pode fazer a festa no local onde esta sempre se realizou", sublinha Rosário Domingos.

A comissão organizadora da festa e a empresa responsável pela recuperação dos parques históricos de Sintra acabaram, no entanto, por chegar a um consenso e o repasto foi afastado para as imediações da Casa da Tapada D. Fernando, situada fora da zona de protecção do convento. Ainda assim, entre os populares, havia quem não se conformasse. "Esta era uma festa tão grande! Vinham pessoas do Mucifal, Colares, Almoçageme, Malveira da Serra, Azóia... Isto estava sempre à cunha. Agora já tem muito menos pessoas e, ainda por cima, este ano nem sequer nos deixam fazer o piquenique cá dentro", queixa-se António Pinto da Costa, 84 anos.

Com uns olhos azuis cheios de vida, Pinto da Costa recorda outros tempos com emoção."Isto é muito antigo, já se faz há mais de 100 anos, se calhar até há mais de 200! Antigamente chamava-se a Festa das Moléstias, porque foi realizada pela primeira vez num ano em que houve muitas moléstias na vinha e o povo fez aqui a festa para pedir que viessem melhores dias", conta.

À prece estava associado o espírito de sacrifício. Por isso, no passado, o caminho entre o Penedo e os Capuchos era feito a pé. "Chegávamos a vir de madrugada, ou até mesmo na véspera, para arranjarmos um sítio direitinho para estendermos as mantas", lembra Georgina Lopes.

A euforia da festa era tanta, que houve até quem perdesse o padre pelo caminho. "Íamos sempre buscar o padre de carroça. Mas uma vez, na parte mais íngreme do percurso, o padre caiu. O mais engraçado é que só deram por isso quando cá chegaram sem o prior!", recorda Delfina Torres, entre risos.

Ontem, ao longo de todo o dia, o tradicional convívio foi acompanhado por bifanas e cervejas fresquinhas. Depois do almoço, houve bailarico e entre um pé de dança e uma febra no pão, os populares aproveitaram para fazer gratuitamente uma visita guiada ao convento.

Fonte Público

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