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DOIS PAPAS, DOIS ESTILOS PARA UMA MESMA IGREJA
2008-04-03 22:39:14

A Igreja de Bento XVI é a mesma de João Paulo II. Os temas e as preocupações são comuns aos dois papados, só o estilo é, em absoluto, distinto.

Enquanto João Paulo II foi "uma espécie de papa superstar", recorda Aura Miguel, jornalista da Rádio Renascença que o acompanhou ao longo de quase duas décadas, que ao "longo do pontificado chamou a atenção para Deus", a Bento XVI preocupa-o "a crise de valores, o relativismo".

Mas o carácter do papado de João Paulo II, a "genialidade da sua mensagem", a "empatia com católicos e não católicos", a disponibilidade para percorrer o mundo, lembra a jornalista autora de dois livros sobre o papa polaco, "só foi possível pela presença do cardeal Ratzinger em Roma". Este, que foi prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé durante quase todo o pontificado de João Paulo II, contribuiu para a definição e tratamento teológico de toda uma série de temas presentes nas encíclicas do papa polaco.

"Há uma evidente continuidade nos temas e nas perspectivas", sustenta Anselmo Borges, padre e professor de Filosofia na Universidade de Coimbra, mas "o estilo é diferente". Com Bento XVI, "estamos perante um Papa professor", autor de encíclicas que as povoa de referências "e autores extra-eclesiásticos". "Platão, Jurgen Habermas, John Rawls" são nomes que, explica aquele professor, "não se esperaria encontrar em textos oficiais do Papa".


Este aspecto de Bento XVI como intelectual, é algo também assinalado por Aura Miguel. Este "é um Papa que tem a admiração da classe intelectual"; os seus textos e intervenções comprovam-no, afirma a jornalista que distingue as personalidades dos papas alemão e polaco. O primeiro, intelectual e tímido, "um homem de pensamento"; o segundo, um homem "virado para a acção", o que lhe permitiu protagonizar "um pontificado único", alguém "profundamente místico, mais do que Bento XVI.

Anselmo Borges, que teve oportunidade de se encontrar com o então cardeal Joseph Ratzinger partilha impressão semelhante, apresentando o Papa alemão como "uma personalidade muito afável, reservada, tímido", que não cultiva as multidões e "que escolhe pontos considerados estratégicos nas suas viagens, como a Alemanha, Espanha, Brasil, Turquia", países centrais no catolicismo, por um lado, e no último caso, um país muçulmano, plataforma de encontro (mas também conflito) de religiões e civilizações, hoje candidato à adesão à UE. Até hoje, um espaço exclusivamente cristão. "Não é por acaso que escolheu o nome de Bento" - "em homenagem a Bento XV, é claro, mas também a São Bento", fundador da ordem beneditina no século VI, instrumental na afirmação do cristianismo na Europa ao longo da época medieval.

A questão da identidade cristã da Europa é este um tema central no Papado de Bento XVI. "É sua preocupação chamar a atenção para as raízes cristãs" do Velho Continente, sublinha Aura Miguel. Por outro lado, a jornalista da Renascença apresenta também como prioridade do Papa alemão uma iniciativa de João Paulo II: o diálogo interreligioso materializado nos encontros de Assis.

As batalhas de Bento XVI travam-se ainda na liturgia. Este é um Papa que pretende uma liturgia da fé, liberta de aspectos acessórios. O regresso à missa em latim, a celebração versus Deum - dita de costas para os fiéis - são aspectos do combate que trava o sucessor de João Paulo II. Com um estilo distinto, por meios semelhantes e com a idêntica determinação.

ABEL COELHO DE MORAIS

Fonte DN

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