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Conclusões do Colóquio Europeu de paróquias
2007-07-31 21:56:40

Ao longo dos quatro dias do encontro (9 a 12 de Julho) foram apresentados por peritos, a quem foram pedidas intervenções, os seguintes temas, a que sempre se seguiam reuniões de grupos: “Após a secularização, uma Europa cristã?”, por Joel Morlet, do Instituto Católico de Paris; “Habitar este mundo: do interior ou do exterior? – perspectivas bíblicas”, por J. Franclim Pacheco, da Universidade Católica, Aveiro; “O cristianismo: uma maneira de habitar o mundo”, por Salvador Pié-Ninot, da Faculdade de Teologia da Catalunha e da Universidade Gregoriana de Roma.

Os participantes visitaram várias paróquias da diocese do Porto, contactando com as suas estruturas e seus movimentos, partilhando experiências e projectos, e celebraram uma Eucaristia solene, presidida pelo Bispo do Porto, na Igreja de Cedofeita, que contou com a participação do Coro daquela paróquia e em que foi utilizado também o latim na oração eucarística e nas aclamações.

Na sessão de encerramento, foram lidas as conclusões, que apresentamos no seu texto integral, traduzido a partir do original francês (as línguas oficiais eram o português, o espanhol, o francês, o inglês o alemão e o flamengo, e mesmo o ucraniano, havendo tradução simultânea).

Conclusões do Encontro: Habitar cristãmente o nosso tempo

Ao longo do seu desenvolvimento – pelas intervenções dos conferencistas e as trocas de impressões nos grupos de trabalho – o Colóquio ofereceu a possibilidade de entrar em conjunto na compreensão do tema que importa agora explicitar em jeito de conclusões gerais dos trabalhos. Duas anotações prévias se impõem, antes de expor as conclusões sob a forma de três verbos:

Notas gramaticais: discursos que nos impliquem

Aprendemos, em primeiro lugar, a falar em “nós”. Estamos de facto habituados a discursos que começam por “Nós”. Quando se trata da Igreja, como do mundo, falar de “eu” ou “vós” sugere que falamos em termos de separação ou de distanciamento. Ora, nesta matéria, não há lugar para elaborar discursos que edifiquem separações, como se estivéssemos “de fora” do mundo e da Igreja. Desde que falamos da Igreja, a que pertencemos pela graça do nosso Baptismo, ou tratamos do mundo, a que pertencemos pela nossa humanidade, cabe-nos manter um discurso de responsabilidade.

Este mundo foi-nos confiado pelo Criador e a história é-nos oferecida para ser conduzida à sua realização segundo a Páscoa de Cristo e o dom do seu Espírito. Por isso somos chamados a edificar discursos que prioritariamente nos impliquem. Aí se encontra uma descoberta maior que exprime bem a nossa implicação essencial no seio da comunidade eclesial que caminha no coração da história da humanidade. Aprendamos pois e edificar discursos que sempre nos impliquem. É a partir desta consideração “comunitária” do “nós” que nos podemos em seguida concentrar sobre o “eu” ou sobre outros sujeitos particulares.

Em segundo lugar, o Colóquio ensinou-nos que é conveniente explicitar a identidade cristã por verbos, mais que por substantivos. A imagem do sal, clara o forte, recorda-nos que o cristianismo é tanto uma graça como uma tarefa – Gabe und Aufgabe – para tornar este mundo mais “habitável”. O cristianismo é, neste sentido, uma qualificação activa do nosso ser e do nosso agir que nos leva a transformar a realidade, a conduzi-la à sua plena realização.

Três verbos

“Habitar cristãmente o nosso tempo” requer das nossas realidades eclesiais, e em primeiro lugar das nossas paróquias, mas também das pessoas e dos grupos as três posturas seguintes:

Ouvir

Nestes dias falou-se muito de escuta. Com o verbo “escutar” indicamos, ou ao menos sugerimos uma disposição de abertura activa do sujeito em direcção ao outro, uma vontade de aprender com os outros, um reconhecimento, ao menos implícito, da necessidade e da falta. Esta escuta, é conveniente pô-la em acção na relação com a Palavra de Deus – este Deus que nos fala no coração deste mundo. Importa escutar este “mundo” ou este “tempo”, porque é no seio da história dos seres humanos que se inscreve a história do povo de Deus.
A escuta convida-nos a activar três atitudes que os trabalhos de grupo fizeram ressaltar no fim dos trabalhos:
- ultrapassar todas as tentações de medo; este paralisa-nos e fecha-nos em nós próprios, impedindo-nos de escutar;
- aprender a paciência daqueles que possuem a tranquila segurança de que a história é conduzida por Deus, pela graça do seu Espírito, para ser conduzida ao seu término;
- fomentar uma abertura à transcendência, uma relação directa com Deus na oração, uma postura de louvor e de acção de graças – enquadrado em tudo isso a comunhão dos santos.

Discernir

A escuta exige da nossa parte uma segunda postura, a de “discernir”. Acabaremos por tirar proveito da nossa escuta. É preciso “reconhecer” o que devemos reter dessa escuta. Quais são os frutos da nossa escuta de outrem, de Deus, etc.? Tal é o discernimento que devemos operar para habitar o nosso tempo. O discernimento entende-se a partir daí como uma capacidade activa que nos é dada pela presença do Espírito. Este permite-nos reconhecer os sinais da presença do Senhor na história. Permite-nos descobrir as marcas que Deus inscreve na história da nossa humanidade. Este exercício conduz-nos à descoberta maravilhada de sermos reunidos como um povo, o povo de Deus

O discernimento ajuda-nos a desenvolver três atitudes:
- tomar permanentemente como nosso o convite dos Padres conciliares do Vaticano II a descobrir os sinais dos tempos;
- tomar como nossa igualmente a imagem de uma Igreja que faz do diálogo amável o seu estilo habitual de anunciar o Evangelho, para transmitir a memória cristã, para conduzir à fé;
- fazer nossa a imagem de uma Igreja que se desprega em redes que implicam por títulos diversos as pessoas e as comunidades que provaram já alguma coisa da Boa Nova;
- fazer nossa a imagem de uma Igreja que já não sonha ser um mundo à parte, mas que tem a capacidade requerida para se inserir na pluralidade e na diversidade dos homens e das mulheres do nosso tempo.

Caminhar

Igrejas, paróquia, cristãos que praticam o discernimento e reconhecem os sinais dos tempos são definitivamente conduzidos a imaginar as suas instituições na caminhada com todos os homens. É pelo menos a convicção que se retira claramente das nossas trocas de experiências. Trata-se de rasgar estradas, de traçar caminhos ao longo dos quais Deus se dá a reconhecer como companheiro da nossa humanidade.

É assim que fazemos a experiência duma Igreja itinerante, “peregrina”. Os instrumentos para abrir estes caminhos são múltiplos e variados. Citamos sobretudo a diaconia, a cultura, a educação, a formação, a transmissão de valores, etc.

A itinerância eclesial e a condição peregrina dos crentes encorajam-nos a desenvolver quatro atitudes, tais como foram retiradas dos nossos diálogos:
- estar ao lado dos pobres, permanecer junto deles, ser solidários com os “novos” pobres que a sociedade não consegue ver, como os imigrados;
- mobilizar-se para uma Igreja que se desprega numa pluralidade de ministérios para anunciar o Evangelho, que dá a primazia às linguagens do serviço e da missão;
- ocupar-se, segundo as competências e as responsabilidades de cada um, das grandes questões colectivas, tais como a economia e a ecologia, principalmente no contexto da mundialização;
- ter a ânsia do “nós” da Igreja, tanto na nossa forma de falar como na de agir, particularmente no terreno de formação, descobrindo-nos desta forma como solidários para o testemunho e a missão.

Conclusão

Será que o colóquio foi um laboratório? Esta é a nossa convicção enquanto “peritos”, na tarefa que nos foi atribuída de acompanhar a reflexão dos participantes no vai-e-vem entre as propostas dos intervenientes e as trocas de opinião nos grupos de trabalho. Pensamos com efeito que o nosso colóquio foi um belo exemplo duma Igreja que “habita o nosso tempo”, na procura do “mundo que Deus ama”. O Colóquio mostrou-nos as dificuldades, os limites, mas também as energias e os recursos que são os nossos na caminhada com os nossos irmãos e irmãs na humanidade.

Foi esta dinâmica de “habitação” que conseguimos descobrir melhor no Colóquio – neste tempo de convivialidade e de reflexão que foi o encontro destes dias. Importa agora que “nos” preparamos para viver um outro tempo – o tempo “seguinte” – desta dinâmica, a saber, o tempo do envio, da missão. Porque é nos caminhos do mundo, no coração deste tempo, que o Ressuscitado nos precede.

Alphonse Borras, Luca Bressan & Gaspar Mora

Fonte Ecclesia

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