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Não tenhais medo - Intenção Geral de Oração do Papa para o mês de Março: Que a Palavra de Deus seja cada vez mais ouvida, meditada, amada e vivida
2007-03-06 22:02:56

1. «No princípio era o Verbo...» (Jo 1, 1). Ao fim de quase dois milénios, a afirmação inicial do Evangelho segundo S. João não perdeu nada da sua força. Habita-a o mistério dos inícios, a realidade primordial, origem e sustentáculo de tudo quanto existe: Deus. Mistério insondável, convidando ao recolhimento e à escuta, pois só esta – atenta, repetida, obediente – permite adentrar-se, como quem tacteia, na beleza inaudita desta Palavra primeira, por quem tudo foi feito.

E embora esta Palavra se tenha dito em palavras humanas, a que chamamos Revelação, ela continua eternamente anterior a tudo quanto foi dito. Escutá-La é atitude de quem reconhece a limitação de tantas palavras sem sentido, falhas da verdade essencial, perdidas daquela originalidade primeira que é a verdade das criaturas e, nelas, a verdade de Deus. Escutá-La é o princípio da sabedoria, sobretudo num tempo de tantas palavras lutando por se substituírem ao Verbo eterno, renovando o pecado original vertido em palavras enganosas, vazias de sentido mas repletas de sedução: «...sereis como Deus» (Génesis, 3, 5).

2. Meditar a Palavra. Ninguém medita títulos de jornais ou notas de rodapé em noticiários de televisão. Ninguém medita discursos de políticos em desgaste rápido nem romances baseados em supostos escândalos para consumo imediato. E, no entanto, tudo isso deixa marcas e faz o seu caminho, sensibilizando e alertando ou corroendo e destruindo. No fim, restam conchas vazias, à espera de conteúdos novos, tão passageiros como os anteriores. A Palavra de Deus não é de consumo rápido. Pede tempo, disponibilidade... Escutá-La significa deixá-La empapar o solo, como a água da chuva que primeiro refresca, depois fecunda – «Assim como a chuva e a neve descem do céu e não voltam mais para lá, senão depois de empapar a terra, de a fecundar e fazer germinar (...), o mesmo sucede à palavra que sai da minha boca: não voltará para Mim vazia, sem ter realizado a minha vontade e sem cumprir a sua missão» (Isaías 55, 11).


3. Amar a Palavra. Eis uma experiência quase sempre arredia do coração de grande número de crentes. Toma-se a Palavra de Deus como outras palavras, umas vezes mais agradável, outras mais agreste... Pode-se escutá-La, pode-se até meditá-La... mas amar?! E, no entanto, a Palavra de Deus é verdadeiramente amável, pois não se trata simplesmente de mais uma palavra, trata-se de uma Pessoa: «O Verbo fez-Se carne», um de nós, veio habitar connosco (João 1, 14). A Palavra é Jesus Cristo. Como não amá-La? Como não amar este Deus feito homem para nos divinizar? Como não amar quem viveu e morreu por cada um de nós, por mim? Como deixá-Lo, em troca de qualquer «novidade», «progressismo», «modernidade», tantas vezes ignorante de tudo, excepto da própria auto-suficiência? Ele está aí, dois mil anos depois, vivo, apaixonante e desafiador como sempre! Que é feito de tantos que O deram por ultrapassado, vencido, morto, enterrado?...


4. Viver a Palavra. Afinal, viver Jesus Cristo. Como se «vive alguém»? Diga-o o marido verdadeiramente enamorado da sua esposa ou a mãe entregue ao cuidado do seu filho... Vinte e quatro sobre vinte e quatro horas, é assim que se «vive alguém», quando se ama verdadeiramente – nos momentos bons e maus, quando «apetece» ou não, com disponibilidade total para renunciar a si, criando lugar para o outro. Jesus não pede menos e, porque é Deus, pede-o de um modo sempre novo e surpreendente... ao jeito de Deus. O segredo de viver esta Palavra, que é uma Pessoa, que é Deus, está aí – dar-Lhe lugar, mais ainda, deixá-La fazer o lugar que Lhe pertence por direito, depondo-se do próprio eu. O resto virá «por acréscimo» (Lucas 12, 31).


5. A tempo e fora de tempo. Não faz sentido escutar, meditar, amar, viver a Palavra e guardá-La para si. Como no tempo do Apóstolo, importa, hoje mais ainda, anunciar a Palavra, «oportuna e inoportunamente» (2 Tim 4, 2). O «mundo» não vai gostar deste anúncio, vai arranjar todos os argumentos para não ouvir: conservadores, reaccionários, inimigos do progresso e da liberdade, incultos... A Igreja, porém, só precisa de saber «em Quem acreditou» (cfr. 2 Tim 1, 12) e anunciá-Lo, «com toda a humildade, mansidão e paciência» (Col 3, 12) – mas também com a coragem de quem ouviu do Mestre: «Não tenhais medo, Eu venci o mundo» (João 16, 33).

Elias Couto

Fonte Ecclesia

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