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«Paz» é um dos nomes mais belos de Deus - Meditação de Advento de Bento XVI
2006-12-06 23:06:01

Publicamos a homilia que Bento XVI pronunciou no sábado à tarde na Basílica de São Pedro, no Vaticano, durante a celebração das I Vésperas do primeiro Domingo do Advento.

“Voltamos a escutar a primeira antífona desta celebração vespertina, que se apresenta como abertura do tempo de Advento e que ressoa como antífona de todo o Ano Litúrgico: «Anunciai a todos os povos: Deus vem, nosso Salvador». No início de um novo ciclo anual, a liturgia convida a renovar o seu anúncio a todos os povos e o resume em duas palavras: «Deus vem». Esta expressão tão sintética contém uma força de sugestão sempre nova.

Detenhamo-nos um momento a reflectir: não usa o passado - Deus veio - nem o futuro, - Deus virá -, mas o presente: «Deus vem». Se prestarmos atenção, trata-se de um presente contínuo, ou seja, de uma acção que acontece sempre: está a ocorrer, ocorre agora e ocorrerá mais uma vez. Em qualquer momento, «Deus vem».

O verbo «vir» apresenta-se como um verbo «teológico», inclusive «teologal», porque diz algo que tem a ver com a natureza própria de Deus. Anunciar que «Deus vem» significa, portanto, anunciar simplesmente o próprio Deus, através de uma de suas marcas essenciais e significativas: é o «Deus-que-vem».

Advento convida os crentes a tomar consciência desta verdade e a actuar coerentemente. Ressoa como um chamado proveitoso que acontece com o passar dos dias, das semanas, dos meses: «Desperta! Recorda que Deus vem! Não veio ontem, nem virá amanhã, mas hoje, agora! O único verdadeiro Deus, o Deus de Abraão, de Isaac e de Jacob não é um Deus que está no céu, desinteressando-se de nós e de nossa história, mas é o Deus-que-vem».

É um Pai que não deixa nunca de pensar em nós, respeitando totalmente a nossa liberdade: deseja encontrar-nos, visitar-nos, quer vir, viver no meio de nós, permanecer em nós. Este «vir» deve-se à sua vontade de livrar-nos do mal e da morte, de tudo aquilo que impede nossa verdadeira felicidade; Deus vem para salvar-nos.

Os Padres da Igreja observam que o «vir» de Deus - contínuo e, por assim dizer, co-natural com seu próprio ser - concentra-se nas duas principais vindas de Cristo, a da sua Encarnação e a do seu regresso glorioso no fim da história (cf. Cirilo de Jerusalém, «Catequese» 15, 1: PG 33, 870). O tempo de Advento vive entre estes dois pólos. Nos primeiros dias sublinha-se a espera da última vinda do Senhor, como demonstram também os textos da celebração vespertina de hoje.

Ao aproximar-se o Natal, prevalecerá, no entanto, a memória do acontecimento de Belém, para reconhecer nele a «plenitude do tempo». Entre estas duas vindas, «manifestadas», há uma terceira, que são Bernardo chama «intermediária» e «oculta»: acontece na alma dos crentes e tem uma espécie de ponte entre a primeira e a última.

«Na primeira -- escreve são Bernardo --, Cristo foi nossa redenção; na última manifestar-se-á como nossa vida, nesta será nosso descanso e nosso consolo» («Disc. 5 sobre o Advento», 1).

Para a vinda de Cristo, que poderíamos chamar «encarnação espiritual», o arquétipo é Maria. Como a Virgem conservou no seu coração o Verbo feito carne, assim cada uma das almas e toda a Igreja estão chamadas, na sua peregrinação terrena, a esperar Cristo que vem, e a acolhê-lo com fé e amor sempre renovados.

A Liturgia do Advento sublinha que a Igreja dá voz a essa espera de Deus profundamente inscrita na história da humanidade, uma espera com frequência sufocada e desviada para direcções equivocadas. Corpo misticamente unido a Cristo Chefe, a Igreja é sacramento, ou seja, sinal e instrumento eficaz dessa espera de Deus.

De uma forma que só Ele conhece, a comunidade cristã pode abreviar a vinda final, ajudando a humanidade a sair ao encontro do Senhor que vem. E isto fá-lo antes de nada com a oração, mas não somente dessa forma. As «boas obras» são essenciais e inseparáveis da oração, como recorda a oração deste primeiro Domingo de Advento, com a qual pedimos ao Pai Celestial que suscite em nós «a vontade de sair ao encontro de Cristo, com as boas obras».

Deste ponto de vista, o Advento é mais adequado que nunca para converter-se num tempo vivido em comunhão com todos aqueles - e graças a Deus são muitos - que esperam um mundo mais justo e fraterno.

Este compromisso pela justiça pode unir em certo sentido os homens de qualquer nacionalidade e cultura, crentes e não crentes. Todos, de facto, estão animados por um anseio, ainda que diferente pelas suas motivações, de um futuro de justiça e de paz.

A paz é a meta a que toda a humanidade aspira! Para os crentes, «paz» é um dos nomes mais belos de Deus, que quer o entendimento entre todos seus filhos, como tive a oportunidade de recordar na minha peregrinação destes dias passados à Turquia.

Um canto de paz ressoou nos céus quando Deus se fez homem e nasceu de uma mulher, na plenitude dos tempos (cf. Gálatas 4, 4).

Comecemos, pois, este novo Advento - tempo que nos presenteia o Senhor do tempo -, despertando nos nossos corações a espera do Deus-que-vem e a esperança de que o seu nome seja santificado, de que venha o seu reino de justiça e de paz, e que se faça a sua vontade assim na terra como no céu.

Deixemo-nos guiar nesta espera pela Virgem Maria, mãe do Deus-que-vem, Mãe da Esperança, a quem celebraremos dentro de uns dias como Imaculada: que nos conceda a graça de ser santos e imaculados no amor quando aconteça a vinda de nosso Senhor Jesus Cristo, a quem, com o Pai e o Espírito Santo, se louve e glorifique pelos séculos dos séculos. Amen".

Traduzido por Zenit

Fonte Zenit

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