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Liberdade religiosa, tema a tratar com pinças
2006-11-29 22:26:56

Será um tema para bordar com pinças, mas o Papa Bento XVI não deverá deixar de se referir à questão da liberdade religiosa na Turquia. Ainda mais delicado, porque constitui também uma pedra de toque nas negociações para a eventual entrada da Turquia na União Europeia.

O problema é vasto. No relatório de 2005 sobre a Liberdade Religiosa no Mundo, a Ajuda à Igreja que Sofre (AIS) assinala que a Turquia não reconhece juridicamente as confissões religiosas minoritárias. De acordo com a AIS, organização dependente do Vaticano e vocacionada para apoiar crentes perseguidos e a viver em países pobres, não há na Turquia qualquer lei sobre o direito de propriedade das comunidades religiosas que lhes permita "manter as actuais e recuperar as que foram confiscadas ao longo dos últimos 70 anos".
As dificuldades não acabam no plano formal. A Constituição turca garante a liberdade de consciência, de expressão e de religião, mas qualquer conversão de um muçulmano ao cristianismo é muito mal encarada num país com 72,5 milhões de habitantes, dos quais 97 por cento são muçulmanos (dois por cento são agnósticos e menos de um por cento são cristãos). E, como nota o relatório da AIS, nem os muçulmanos escapam às leis que proíbem a pregação do Alcorão fora dos lugares actualmente permitidos ou o uso do véu pelas mulheres que o desejem.
Perante estas dificuldades, o Papa deverá insistir no diálogo "sincero e respeitador" a que já se referiu, quando recebeu diplomatas e líderes religiosos islâmicos, no final de Setembro. Esse diálogo implica, na perspectiva do Papa e do Vaticano, o respeito pleno pela liberdade de as minorias religiosas poderem expressar a sua fé.
Os cristãos gozam apenas de liberdade de culto e por isso são penalizados quando, por exemplo, ousam falar em espaços públicos. Foi o caso de dois protestantes que na quinta-feira começaram a ser julgados, acusados de insultos ao islão (ver notícia nesta página).
A pequena comunidade protestante de Ancara, por exemplo, teve que recorrer a um espaço arrendado num edifício de apartamentos. Conta a AP que a comunidade não obteve autorização das autoridades para comprar um terreno e construir uma igreja.
Mesmo que tenha que se colocar na defensiva, na sequência do seu discurso de Ratisbona, Bento XVI não deverá deixar de falar do tema. Essa é também a expectativa dos católicos e, mesmo, da pequena comunidade ortodoxa que é liderada pelo patriarca Bartolomeu, anfitrião do Papa nesta visita.
O próprio Bartolomeu dá conta desse desejo. Em entrevista recente à revista Famiglia Cristiana, de Itália, afirmou: "Espero que o Papa fale em favor dos católicos que aqui vivem, mas também em favor de todas as minorias" e que "reafirme a sua posição em favor da liberdade religiosa e dos direitos do homem".

António Marujo

Fonte Público

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