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Padre Jardim Moreira critica referendo à despenalização do aborto nas homilias
2006-10-06 13:48:38

O presidente da Rede Europeia Antipobreza, o padre Jardim Moreira, decidiu criticar o referendo à despenalização do aborto durante as homilias que celebra nas paróquias de São Bento da Vitória e São Nicolau, no centro histórico do Porto.

Numa atitude que parece contrastar com o apelo ao não envolvimento da Igreja Católica, o padre Jardim Moreira tem questionado a pertinência do referendo à despenalização do aborto, previsto para Janeiro de 2007, proclamando do altar que "nenhuma lei pode pôr em causa do direito à vida".
Ao PÚBLICO, o pároco alegou que a obrigação da Igreja Católica é "defender a vida desde o momento da concepção". "Chamei, e vou continuar a chamar, a atenção dos católicos para a posição da Igreja, porque entendo que o meu dever é defender a vida humana em todos os momentos e não apenas quando estamos a falar de crianças de risco ou deficientes", sustentou o presidente da Rede Europeia Antipobreza.
Colocando-se ao lado "da corrente científica que diz que a vida começa no momento da concepção", o pároco criticou também, a partir do altar, o facto de o ministro da Saúde, Correia de Campos, ter anunciado que irá fazer campanha a favor da despenalização da interrupção involuntária da gravidez. "Disse que achava que o ministro não se devia meter nisso, porque ele não é a fonte da consciência ética ou moral do país", sustentou Jardim Moreira.
Considerando que "um Estado laico deve exercer a sua laicidade sem pretender influenciar consciências", Jardim Moreira qualifica ainda como "inadmissível" que Correia de Campos tenha considerado como reduzido o número de abortos praticados no Serviço Nacional de Saúde (cerca de mil por ano) e atribuído esse facto à relutância dos profissionais do sector. "Essa posição traduz um claro desrespeito pela corrente da ciência que defende que a vida começa no momento da concepção", acrescentou, acusando Correia de Campos de quebrar a autonomia de poderes.
A posição do pároco portuense poderá esbarra nos apelos ao não envolvimento da Igreja católica na campanha do referendo, lançados nos últimos dias pelo cardeal patriarca de Lisboa, José Policarpo. "Não é um assunto religioso", alegou este responsável, declarando como desejável que fossem "os leigos, os pais e os médicos a liderar a campanha do não".
Ao PÚBLICO, Jardim Moreira alega que não há aqui nenhuma contradição. "Fazer campanha é ir para a rua, promover movimentos quanto ao que se chama referendo. O que eu estou a fazer é simplesmente esclarecer os católicos que me ouvem nas homilias sobre a doutrina oficial da Igreja, que permanece inalterada", argumentou.
O bispo do Porto, Armindo Lopes Coelho, não se mostrou disponível para comentar a pedido do PÚBLICO a posição do pároco da sua diocese. Já o director do gabinete de informação da diocese do Porto, Américo Aguiar, informou o PÚBLICO de que "não houve, nem a nível nacional nem a nível da diocese do Porto, nenhuma circular ao clero sobre a participação directa ou não na questão do referendo ao aborto".
No primeiro referendo à lei da despenalização do aborto, realizado em 1998, a Igreja participou activamente na campanha do "não", que ganhou por escassa margem. A proposta de realização de uma nova consulta popular, que partiu do grupo parlamentar do PS, vai ser discutida e votada na Assembleia da República no dia 19 de Outubro. Caberá depois ao Presidente da República, Cavaco Silva, convocar o referendo, que, ao que tudo indica, deverá realizar-se em Janeiro de 2007.

Natália Faria

Fonte Público

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