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Bento XVI apresenta o apóstolo Tomé
2006-09-28 22:03:26

Publicamos a intervenção de Bento XVI na audiência geral desta quarta-feira, dedicada a apresentar a figura do apóstolo Tomé.

Queridos irmãos e irmãs:

Continuando com nossos encontros com os doze apóstolos escolhidos diretamente por Jesus, hoje dedicamos nossa atenção a Tomé. Sempre presente nas quatro listas do Novo Testamento, é apresentado nos três primeiros evangelhos junto a Mateus (cf. Mateus 10, 4; Marcos 3, 18; Lucas 6, 15), enquanto nos Atos dos Apóstolos aparece junto a Felipe (cf. Atos 1, 13). Seu nome deriva de uma raiz hebraica, «ta’am», que significa «gêmeo». Não fica claro o motivo deste apelido.
O quarto Evangelho, em particular, dá-nos dados sobre algumas características significativas de sua personalidade. A primeira é a exortação que fez aos demais apóstolos quando Jesus, em um momento crítico de sua vida, decidiu ir a Betânia para ressuscitar Lázaro, aproximando-se assim de maneira perigosa de Jerusalém (cf. Marcos 10, 32). Naquela ocasião, Tomé disse a seus condiscípulos: «Vamos também nós morrer com ele» (João 11, 16). Sua determinação de seguir o Mestre é verdadeiramente exemplar e nos oferece um ensinamento belíssimo: revela a total disponibilidade de adesão a Jesus até identificar a própria sorte com a sua e querer compartilhar com Ele a prova suprema da morte. De fato, o mais importante é não se afastar nunca de Jesus. Quando os Evangelhos utilizam o verbo «seguir», querem explicar que aonde ele se dirige, tem de ir também seu discípulo. Deste modo, a vida cristã se define como uma vida com Jesus Cristo, uma vida ao seu lado. São Paulo escreve algo parecido quando tranqüiliza com estas palavras os cristãos de Corinto: “Na vida e na morte, estais unidos ao meu coração” (2 Coríntios, 7, 3). O que acontece entre o apóstolo e seus cristãos tem de acontecer antes de tudo na relação entre os cristãos e o próprio Jesus: morrer juntos, viver juntos, estar em seu coração como Ele está no nosso.

Uma segunda intervenção de Tomé se registra na Última Ceia. Naquela ocasião, Jesus, predizendo sua iminente partida, anuncia que irá preparar um lugar para os discípulos para que eles também estejam onde Ele estiver; e especifica: «E para onde eu vou, já sabeis o caminho» (João 14, 4). Então Tomé intervém, dizendo: «Senhor, não sabemos aonde vais, como podemos saber o caminho?» (João 14, 5). Na realidade, com estas palavras, ele se coloca em um nível de compreensão baixo; mas oferece a Jesus a oportunidade para pronunciar a famosa definição: «Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida» (João 14, 6). Portanto, em primeiro lugar, faz esta revelação a Tomé, mas é válida para todos nós e para todos os tempos. Cada vez que escutamos ou lemos estas palavras, podemos pôr-nos com o pensamento junto a Tomé e imaginar que o Senhor também fala conosco como falou com ele. Ao mesmo tempo, sua pergunta também nos dá o direito, por assim dizer, de pedir explicações a Jesus. Com freqüência não o compreendemos. Devemos ter o valor de dizer-lhe: não te entendo, Senhor, escuta-me, ajuda-me a compreender. Deste modo, com esta franqueza, que é o autêntico modo de rezar, de falar com Jesus, expressamos a pequenez de nossa capacidade para compreender, mas ao mesmo tempo assumimos a atitude de confiança de quem espera luz e força de quem é capaz de dá-las.

Depois, é muito conhecida, inclusive proverbial, a cena de incredulidade de Tomé, que aconteceu oito dias depois da Páscoa. Em um primeiro momento, ele não havia acreditado que Jesus tinha aparecido em sua ausência, e disse: «Se não vejo em suas mãos o sinal dos pregos e não coloco meu dedo no lugar dos pregos e não coloco minha mão no seu lado, não acreditarei» (João 20, 25). No fundo, destas palavras emerge a convicção de que já não se reconhece Jesus pelo rosto, mas pelas chagas. Tomé considera que os sinais característicos da identidade de Jesus são agora sobretudo as feridas, nas quais se revela até que ponto nos amou. Nisto o apóstolo não se equivoca.

Como sabemos, oito dias depois, Jesus volta a aparecer a seus discípulos e nesta ocasião Tomé está presente. E Jesus o interpela: «Aproxima aqui teu dedo e olha minhas mãos; traz tua mão e coloca-a em meu lado, e não sejas incrédulo, mas crente» (João 20, 27).

Tomé reage com a profissão de fé mais esplêndida do Novo Testamento: «Meu Senhor e meu Deus» (João 20, 28). Neste sentido, Santo Agostinho comenta: Tomé «via e tocava o homem, mas confessava sua fé em Deus, a quem nem via e nem tocava. Mas o que via e tocava o levava a crer no que até então tinha duvidado» («In Iohann» 121, 5). O evangelista continua com uma última frase de Jesus dirigida a Tomé: «Porque me viste, acreditaste. Felizes os que não viram e creram» (João 20, 29).

Esta frase pode ser dita também no presente: «Felizes os que não vêem e crêem». De qualquer forma, Jesus enuncia aqui um princípio fundamental para os cristãos que viriam depois de Tomé, ou seja, para todos nós. É interessante observar como outro Tomé, o grande teólogo medieval de Aquino, une esta bem-aventurança a outra referida por Lucas que parece oposta: «Felizes os olhos que vêem o que vedes» (Lucas 10, 23).

Mas Tomás de Aquino comenta: «Tem muito mais mérito quem crê sem ver que quem crê vendo» («In Johann. XX lectio» VI 2566). De fato, a Carta aos Hebreus, recordando toda a série dos antigos patriarcas bíblicos, que creram em Deus sem ver o cumprimento de suas promessas, define a fé como «garantia do que se espera; a prova das realidades que não se vêem» (11, 1). O caso do apóstolo Tomé é importante para nós, ao menos por três motivos: primeiro, porque nos consola em nossas inseguranças; em segundo lugar, porque nos demonstra que toda dúvida pode ter um final luminoso, além de toda incerteza; e, por último, porque as palavras que Jesus lhe dirigiu nos recordam o autêntico sentido da fé madura e nos estimulam a continuar, apesar das dificuldades, pelo caminho de fidelidade a ele.

O quarto Evangelho nos conservou uma última nota sobre Tomé, ao apresentá-lo como testemunha do Ressuscitado no momento sucessivo à pesca milagrosa no Lago de Tiberíades (cf. João 21, 2). Nessa ocasião, é mencionado inclusive imediatamente depois de Simão Pedro: sinal evidente da notável importância de que gozava no âmbito das primeiras comunidades cristãs. De fato, em seu nome, foram escritos depois os «Atos» e o «Evangelho de Tomé», ambos apócrifos, mas de qualquer forma importantes para o estudo das origens cristãs.

Recordemos, por último, que segundo uma antiga tradição, Tomé evangelizou em um primeiro momento a Síria e a Pérsia (assim afirma Orígenes, segundo refere Eusébio de Cesaréia, «Hist. Eccl.» 3, 1), e logo chegou até a Índia ocidental (cf. «Atos de Tomé» 1-2, 17 e seguintes), desde onde depois o cristianismo chegou também ao sul da Índia: com esta perspectiva missionária terminamos nossa reflexão, desejando que o exemplo de Tomé confirme cada vez mais nossa fé em Jesus Cristo, nosso Senhor e nosso Deus.

[Traduzido por Zenit. Ao final da audiência, o Papa saudou os peregrinos em vários idiomas. Estas foram suas palavras em português:]

Amados Irmãos e Irmãs,

Prosseguindo estes nossos encontros, narrando a vida dos Doze Apóstolos, dedicamos nossa catequese de hoje ao apóstolo Tomé. Pela sua determinação em seguir o Mestre e à luz dos seus ensinamentos, Tomé evangelizou o Oriente Médio e a Índia. Que o seu exemplo nos ajude a reforçar sempre mais nossa fé em Jesus Cristo, nosso Senhor e nosso Deus.

Saúdo os peregrinos de língua portuguesa aqui presentes, nomeadamente os brasileiros de Patos de Minas, Santo André, Marília e Fortaleza. Que Deus vos dê paz e alegria, em união com Maria Santíssima, Mãe do Redentor.

[© Copyright 2006 - Libreria Editrice Vaticana]
ZP06092704

Fonte Zenit

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