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Igreja deve acordar para as potencialidades da Web
2006-09-22 22:52:59

Manuel Pinto, professor do Departamento de Ciências da Comunicação - Instituto de Ciências Sociais da Universidade do Minho, explica à Agência ECCLESIA qual é a pertinência de se falar de "Jornalismo em Rede" e quais as potencialidades que as novas tecnologias podem abrir para o trabalho da Igreja.

Agência ECCLESIA (AE) - Como podemos definir a expressão "Jornalismo em Rede"?

Manuel Pinto (MP) - Podemos conceber o jornalismo - tal qual ele tem existido - para a rede que é uma modalidade possível e tem sido praticada mas, julgo eu, é pobre relativamente à possibilidade do ambiente digital. Há três características fundamentais: interactividade, multimedialidade e hipertextualidade. Três ferramentas que enriquecem, enormemente, a prática tradicional de jornalismo quer do ponto de vista da produção quer da recepção.

Esta modalidade que tira partido destas ferramentas do digital é um jornalismo mais horizontal com mais pólos de enunciação e mais vozes. Potencialmente é mais participado e com maior capacidade de questionar o jornalismo mais tradicional. Este continua ser imprescindível mas tem que contar mais com os interlocutores e os cidadãos.


AE - Então o conceito de "rede" é primordial no jornalismo dos nossos dias?

MP - Se queremos fazer jornalismo e cultivar aquela ideia original - alimentar a conversação social e a participação - de facto a rede vem criar possibilidades. Isto não quer dizer que nós a saibamos ou estejamos a aproveitar. Uma coisa é existirem possibilidades técnicas e outra coisa é o uso efectivo e o tirar partido destas ferramentas.

Nesta área colocam-se outros poderes: o querer e o poder. Sabemos que existe uma grande desigualdade social e uma nova disparidade entre os que têm acesso e capacidade de uso e os que ficam à margem.

AE - As novas formas de participação enriquecerá o jornalismo?

MP - Estou convencido que sim. Temos um capital de experiência e perspectivas práticas que indiciam isso. Por um lado, os próprios jornalistas e os meios de Comunicação Social estão a tirar partido dessas formas de participação dos cidadãos e, por outro lado, os grupos de cidadãos dispõem desse tipo de ferramentas: blogues, RSS, Podcasts e os Wikis. Estas ferramentas permitem gerir e apresentar novas propostas - tanto informativas como comentários - que criam uma nova tensão e um alargamento de campo no jornalismo. Isto apesar de alguns defenderem que este modo de funcionamento é um jornalismo dos cidadãos a sobrepor-se ao jornalismo profissional.

Neste mundo da informação, o jornalista ocupa cada vez mais um lugar central porque tem de saber gerir todas estas ferramentas.


AE - Deus também tem espaço nestas novas ferramentas?

MP - Deus é um actor fundamental. Primeiro como desafio porque encontramos sinais surpreendentes de procura daquilo que nos transcende. Por outro lado, a rede em si - na sua infinitude e nas suas possibilidades - é um chamamento absoluto. Deus está presente também através de um linguajar babélico. Fiz uma pesquisa sobre a presença de Deus na Web e fiquei espantado. Não imaginava como Deus e o fenómeno religioso era tão convocado. Deus é um grande actor e uma grande presença na Net.


AE - A Igreja sabe aproveitar estas potencialidades?

MP - Vejo alguns sinais interessantes de aproveitamento. O portal e tudo o que gira à volta da ECCLESIA é uma proposta muito interessante e com uma presença reconhecida. Quando se fala numa agência digital é impossível não inscrever a Agência ECCLESIA nesse quadro. Mesmo no espaço dos Blogues existe um debate com características ecuménicas e de diálogo inter-religioso.


AE - Mas ainda existe receio de entrar nestas novas fórmulas?

MP - Temos dificuldade em acreditar que o valor e a qualidade das coisas vai-se decantando e depurando por caminhos inesperados. Esta liberdade de vozes faz parte também de um processo de aprendizagem. Não esquecendo que há riscos associados a qualquer caminho novo.


AE - De norte a sul do país existem muitos jornais ligados à Igreja. Isto é um autêntico manancial?

MP - É uma questão de aproveitar as vantagens da Internet. O que muitas vezes acontece - não apenas na Igreja - é uma mera transposição do que existe impresso, radiofónico ou televisivo para a Web. Esta exige uma nova aprendizagem, uma nova gramática, um novo paradigma de comunicação. Só que nesta área ainda somos bastante analfabetos. Temos que pedalar bastante para aprender a ler e a escrever hipertexto. Só assim ultrapassamos a ileteracia digital.

Fonte Ecclesia

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