paroquias.org
 

Notícias






"Matem todos os infiéis", pede-se no Paquistão
2006-06-28 09:59:16

O Paquistão é um dos países onde a violência contra os cristãos aumentou exponencialmente nos últimos anos, disse ontem em Lisboa o bispo Joseph Coutts, de Faisalabad (Paquistão).

Coutts conta mesmo que, recentemente, uma faixa numa rua pedia: "Matem todos os infiéis". Os infiéis, está bem de ver, são, neste caso, os cristãos. "Até a polícia tem medo" e, por isso, a faixa permanece tempo de mais, afirma o bispo. "Infelizmente, nem todos os muçulmanos são capazes de ver os outros como crentes."
Coutts é um dos responsáveis da pequena Igreja Católica que vive no país: são pouco mais de um milhão e 200 mil católicos, menos de um por cento dos 150 milhões de habitantes do país. Ao todo, incluindo protestantes e ritos orientais, os cristãos paquistaneses são 2,5 por cento ao lado de uma esmagadora maioria de 96 por cento de muçulmanos.
"Mas nós somos filhos do mesmo solo", clamava ontem o bispo, no colóquio onde, em Lisboa, foi apresentado o Relatório 2006 sobre a Liberdade Religiosa no Mundo. O problema é que, no Paquistão como em outros países daquela região do Mundo, há responsáveis islâmicos que incitam ao ódio "contra os infiéis". "Confundem as coisas, têm uma interpretação errónea do Islão e identificam os cristãos com os ocidentais e com os Estados Unidos", lamenta o bispo.
As televisões repetem as mesmas ideias, diz Joseph Coutts, espalhando conceitos errados sobre o Islão e sobre o Cristianismo. Apesar de o presidente e de o primeiro-ministro estarem empenhados em promover o diálogo inter-religioso, afirma o bispo. "Mas é o ambiente social" que provoca os conflitos que, sobretudo desde 2001 e os atentados de Nova Iorque, se multiplicaram no país. A ponto de o relatório citado falar de 2005 como um ano "caracterizado por um dramático aumento dos ataques contra as minorias religiosas".

País tem "protecção legal para as minorias"
A embaixadora do Paquistão em Portugal, Fauzia Sana, presente na sala a ouvir o seu compatriota, fez questão de intervir para dizer que existe no país "toda a protecção legal para as minorias" e que corre actualmente um profundo debate público sobre a lei da blasfémia. Joseph Coutts acrescenta que esta lei tem feito mais vítimas entre os próprios islâmicos: "Há mais muçulmanos na prisão por causa da lei da blasfémia do que cristãos". Já este mês, dois crentes do Islão foram mortos pelo povo, acusados precisamente de blasfémia.
Coutts faz questão de contar experiências positivas que também existem, como os comités inter-religiosos de paz criados em muitos distritos e que ele, pessoalmente, tem "vários bons amigos muçulmanos". "Mas isto é uma gota de água", admite.
O diálogo inter-religioso, um fenómeno ainda muito recente, tem muito que caminhar, no sentido de se tornar um caminho para a construção da paz. Outro bispo presente no colóquio de ontem, o belga e monge beneditino Willem de Smet, afirmou que o diálogo entre crentes de diferentes fés tem que incluir uma dimensão de "vida, de acção comum, de experiência religiosa e de intercâmbio teológico".
Contando a experiência de ter sido tratado por um médico sírio-italiano no mosteiro de Itália onde vive, Smet recordou as conversas "sobre Deus" que teve com o seu assistente e acrescentou: "O diálogo não é feito com abstracções, mas com pessoas concretas".

A.M.

Fonte Público

voltar

Enviar a um amigo

Imprimir notícia