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Cristãos podem desaparecer da Terra Santa
2006-06-28 09:58:01

Num documento que divulgará brevemente, a Ajuda à Igreja que Sofre (AIS) diz que "a presença cristã na Terra Santa, berço do Cristianismo, está em risco de desaparecer".

O alerta sucede ao relatório de 2006 sobre a Liberdade Religiosa do Mundo, ontem divulgado, e onde a situação nos países do Médio Oriente aparece como uma das mais graves (ver PÚBLICO de ontem).
Nos últimos 40 anos, diz o novo documento da AIS, a que o PÚBLICO teve acesso, a percentagem de cristãos baixou de 20 por cento para pouco mais de 2 por cento. Actualmente, são pouco mais de 150 mil os cristãos que vivem em Israel e na Palestina - numa população total que ultrapassa os nove milhões de pessoas.
A responsável da AIS para os projectos no Médio Oriente, Marie-Ange Siebrecht, acrescenta, em declarações ao PÚBLICO, que nos territórios palestinianos a situação é "catastrófica" e diz que "há famílias inteiras a passar fome" em localidades como Belém.
Ontem, na apresentação do Relatório 2006, esta dirigente afirmou que, na cidade onde a tradição diz que Jesus nasceu, as pessoas não podem sair para trabalhar fora, por estarem cercadas pelo "muro da vergonha", construído por Israel à volta dos territórios palestinianos. "Demora-se quatro a cinco horas para fazer uma deslocação para trabalhar", diz Marie-Ange Siebrecht.
A comunidade cristã denunciou já as consequências dessa construção, mesmo nas datas mais importantes do calendário litúrgico, como a Páscoa e o Natal. Por exemplo, a estrada que conduzia à Basílica da Natividade, em Belém, ficou bloqueada, "impondo aos peregrinos uma passagem forçada e demorada pelos postos de controlo à saída da cidade". "Uma flagrante discriminação religiosa", queixaram-se.
Entalados entre dois mundos, os cristãos - que são, na maior parte, árabes e palestinianos - enfrentam, muitas vezes, discriminações nos empregos ou nas escolas. O bispo cristão melquita da Galileia, Elias Chacour, afirmava recentemente que os cristãos de Israel são "árabes mas não muçulmanos, católicos mas não de rito latino, orientais mas não ortodoxos e cidadãos israelitas mas não judeus" - o que os remete para uma dupla condição de exclusão.

"Precisamos
de pedras vivas"
Nos últimos anos, de um modo especial desde a Segunda Intifada, iniciada em Setembro de 2000, muitos cristãos emigraram para países vizinhos. De acordo com o relatório da AIS, alguns regressaram. "Os países árabes não os querem receber e a vida nesses países, maioritariamente islâmicos, não é confortável para nós", afirma um padre não identificado, citado no documento. Pelo contrário, os que emigraram para países ocidentais já não pensam em regressar.
Com a guerra que se tem vivido nos últimos anos, também o turismo, o comércio e as peregrinações aos lugares santos do Cristianismo ficaram estrangulados. O acesso mais difícil e condicionado, a par do medo óbvio de ataques terroristas, são as razões principais para a situação.
Marie-Ange Siebrecht diz que muitas famílias ficaram sem rendimentos. No relatório da AIS, contam-se histórias de quem tenta manter abertas as suas lojas de artigos religiosos, que lhes garantia o sustento. Ramon Zablah, a mulher e os seus três filhos têm uma pequena oficina onde fazem terços em madeira de oliveira. A ausência de visitantes levou a oficina praticamente à falência. Dependem agora da ajuda de familiares e amigos para comprar comida.
A situação, diz Marie-Ange Siebrecht, é mais grave na Palestina do que em Israel. Além da falta de trabalho e da situação social, os cristãos têm que enfrentar a hostilidade crescente de muitos muçulmanos. O padre Nazaih, pároco de Ramallah, sede da Autoridade Palestiniana e do Governo, diz que tem crescido um "sentimento anticristão generalizado".
São realidades como esta que levam a responsável da AIS para o Médio Oriente a dizer que os cristãos, quando vão à Terra Santa, deveriam procurar contactar e animar os cristãos locais. "São pedras vivas o que precisamos que haja lá. É preciso pensar nos cristãos antes de pensar nos edifícios", alerta.

António Marujo

Fonte Público

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