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Franciscanos convidaram jovens a pintar graffiti no muro da Igreja
2006-05-04 22:22:26

O painel agora exposto numa das principais avenidas de Setúbal foi feito com base em dois textos de S. Francisco de Assis.

Desenhar graffiti à luz do dia é algo pouco comum. Fazê-lo no muro de uma igreja, com autorização do sacerdote local parece ainda mais inacreditável. Mas aconteceu há poucas semanas, em Setúbal, numa iniciativa inserida nas comemorações dos 800 anos da fundação da Ordem Franciscana.
O Grupo de Graffiti de Setúbal foi convidado a pintar um dos muros do edifício da Comunidade Franciscana pelo próprio guardião da Fraternidade de Nossa Senhora dos Anjos, que assim quis assinalar uma Páscoa diferente para aqueles jovens e sensibilizá-los para as temáticas religiosas.
"Fiquei admirado com a receptividade deles e para mim foi uma experiência muito enriquecedora", explicou ao PÚBLICO frei Miguel de Castro Loureiro. "A minha função enquanto sacerdote e enquanto franciscano é chegar também ao povo de Deus que não vem à Igreja", acrescentou.
O pároco sugeriu-lhes a leitura de dois textos franciscanos - o Cântico das Criaturas e a Carta a Todos os Fiéis - para servirem de inspiração ao graffiti. Após algumas reuniões e troca de impressões sobre os textos, Vítor Serrano e Paulo Gil elaboraram o esboço do desenho que viria a ser aprovado, para ser reproduzido num muro de 6 metros de comprimento e mais de dois metros de altura. "Dei-lhes total liberdade criativa para fazerem a sua interpretação", frisou frei Miguel de Castro Loureiro.
Quando receberam o desafio, por intermédio da Câmara de Setúbal, Vítor Serrano e Paulo Gil acharam estranho. "Ao princípio estranhámos, porque não é muito normal sermos chamados para estas coisas, muito menos numa igreja, mas depois achámos interessante", contou Paulo Gil.
O desenho faz referência aos quatro elementos, à fertilidade, à paz e à oração, e faz agora parte do cenário de uma das principais e mais movimentadas avenidas da cidade de Setúbal - a 22 de Dezembro.
"O graffiti é uma espécie de arte ilegal e com este tipo de iniciativas podemos caminhar para a legalidade", referiu ainda Vítor Serrano, lembrando que a Câmara de Setúbal já promoveu experiências semelhantes no Jardim de Vanicelos e no túnel do Quebedo.
O objectivo da iniciativa foi não só chamar os artistas de rua para as celebrações da comunidade como tentar "regular" as suas práticas. "O graffiti tem sentido dentro da expressão plástica mas não de uma forma anárquica, como muitas vezes é feito, e por isso optei por dar um tema e uma parede", disse frei Miguel Loureiro.
A ideia foi bem acolhida pela comunidade franciscana da Setúbal, que na altura se juntou para testemunhar o desenvolvimento do graffiti. Ivone Sousa, 71 anos, disse estar "absolutamente de acordo" com a ideia do Frei Miguel. "É preferível assim do que depois virem fazer desenhos sem jeito nenhum", comentou. Iniciativas como esta podem "combater o vandalismo" e o facto de esta ter coincidido com a Páscoa dá-lhe particular significado. "Alguma coisa lhes ficou dos textos que leram, com certeza", disse ainda Ivone Sousa.


Cláudia Veloso

Fonte Público

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