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Como encontrar Deus nos «blogs»
2006-05-04 00:56:30

O padre Antonio Spadaro, SJ, redator da revista italiana «La Civiltà Cattólica», acaba de publicar o livro «Conexões, novas formas da cultura em tempos de internet» --«Connessioni, Nuove Forme della cultura al tempo di internet» (Pardes Edizioni).

No prólogo, Xavier Debanne, diretor de Siemens Informática S.A. e professor do Centro Interdisciplinar de Comunicação Social da Universidade Pontifícia Gregoriana de 2002 a 2004, escreve que o livro do padre Spadaro «anima a refletir sobre a fenomenologia do encontro com a internet, enquanto lugar freqüentado por milhões de pessoas a cada dia, espaço que ninguém possui e que favorece as conexões».

«Este espaço converteu-se em um ambiente cultural e educativo freqüentado por milhões de pessoas, crentes ou não, e é para a Igreja uma formidável oportunidade de comunicação, porque permite multiplicar os links, sejam conexões pessoais ou a criação de novas formas de agrupamento social», afirma Debanne.

Nesta entrevista concedida a Zenit, o padre Antonio Spadaro explica a influência que a rede, e em particular os «blogs» exercem na cultura e no modo de viver a religião, abrindo espaços antes inexistentes de diálogo inter-religioso e teológico.

--Deus está nos blogs? O que se deve fazer para encontrá-lo?

--Padre Spadaro: Na internet nota-se um aumento de necessidades religiosas. Em meu livro falo sobre o fenômeno, faço notar seus riscos (penso, por exemplo, nas chamadas «cyber-religiões» e nas seitas), mas sobretudo tento assinalar os desafios que se devem olhar com otimismo e discernimento: a resposta às necessidades religiosas mais autênticas. O «blog», termo nascido da contração de duas palavras inglesas, web e log (diário), é uma das realidades mais interessantes da rede. É um «diário na rede». Quem tem um, escreve a cada dia pensamentos, idéias, notas, mas também autênticas e extensas reflexões, inclusive muito lúcidas. Cada «blog» está unido a outros «blogs» e todos juntos constituem um verdadeiro sistema, definido pelo comum como «blogsfera».

Existe Deus nestes mundos dos diários na rede? Ainda que o dado seja muito relativo, há cerca de 130 milhões de sites nos quais aparecem juntas as palavras «God» (Deus, em inglês) e «blog». Se buscamos «blogs» religiosos na web mundial observamos um aumento contínuo de presenças. Não faltam idéias estimulantes. A revista «Christianity today» fala de uma verdadeira «revolução teoblógica» e de «blogsfera cristã». É muito variada e inclui espaços de reflexão e debate teológico entre estudantes, «blogs» ligados a revistas cristãs, espaços pessoais, inclusive de pastores e sacerdotes de inspiração religiosa.

--É possível percorrer um caminho espiritual na rede?

--Padre Spadaro: O homem em busca de Deus hoje se põe também frente a uma tela e inicia uma navegação. Fica o risco de fazer-se a ilusão de que o sagrado e o religioso estão ao alcance do «mouse»: basta um clique para passar de um site de neo-bruxaria ao de uma aparição mariana, ou de um templo neo-pagão a um site de cristãos tradicionalistas. A rede, pelo fato de que contém de tudo, pode-se comparar a uma espécie de grande supermercado do religioso. A Igreja, ao contrário, não é nunca um «produto» da comunicação.

A fé, também, não está feita só de informação, nem é lugar de mera transmissão, ou seja, não é só uma emissora. E, contudo, ao observar esta proliferação do religioso na rede, é possível ter uma idéia da necessidade profunda de Deus que agita o coração humano, sempre vivida de maneira com freqüência alienante e distorcida. Dar-se conta destas exigências significa aprender a mover-se neste ambiente digital de maneira apropriada, propondo iniciativas adequadas: a possibilidade de um diálogo espiritual, de ter pontos de meditação publicados de maneira periódica, ou enviados via correio eletrônico, e outras iniciativas.

--A falta de uma relação que não seja virtual não é um limite grave?

--Padre Spadaro: O motivo que impulsiona a estabelecer relações em rede depende do tipo de relação que se cria. Apresenta por sua vez elementos contraditórios. Em si mesmo é anônimo e impessoal, já que cada um pode fazer crer o que não é quanto a idade, sexo, profissão, expressando-se sem os limites que dá a própria identidade publicada. Na rede, dialoga-se como «aquele que se quer ser». Precisamente por isso o diálogo é também muito confidencial, porque permite dizer de si mesmo coisas que de outro modo uma pessoa dificilmente diria em seu papel cotidiano. Pode-se dar uma abertura completa e um grande nível de autenticidade, mas, por outro lado, pode-se também cair em uma espontaneidade sem limites e sem pudor. O cyberespaço é um lugar emotivamente quente e não rigidamente tecnológico, como se poderia pensar.

A relação na rede, portanto, pode ser anônima mas também extremamente «verdadeira». Contudo, sempre há que recordar que a Igreja é espaço de comunicação e testemunho vivido da mensagem que se anuncia. As relações na rede, ao contrário, correm o risco de se acostumar à inutilidade da mediação, encarnada em um certo momento ou lugar, e, portanto, à inutilidade do testemunho e da comunicação com autoridade. Bento XVI sublinhou isso recentemente: deve-se «lamentavelmente constatar que nem sempre hoje as novas tecnologias e os meios de comunicação favorecem as relações pessoais» (Discurso ao Encontro «Univ2006»). Portanto, a relação na rede há de ser considerada uma oportunidade que se deve acolher com espírito confiante, mas também de atento discernimento, em particular observando se cria relações «verdadeiras». Sucede com freqüência que, quando uma relação iniciada na rede torna-se significativa, logo impulsiona ao encontro real. Começa a não ser raro encontrar pessoas com direção espiritual ou inclusive em caminho vocacional que iniciaram seu itinerário na rede.

--É possível levar a cabo um diálogo teológico?

--Padre Spadaro: Se a rede pode ser lugar de diálogo espiritual, também certamente pode abrir ao diálogo inter-religioso e teológico espaços que antes não existiam. A articulação crítica e a mediação do saber da fé, tarefa primeira da teologia, realizam-se sempre em um contexto de pensamento, linguagem, imagens, cultura e, portanto, de «comunicação». A rede provoca uma mutação no modo de viver as instâncias de comunicação e de comunhão. Pensamos na comunicação constante entre pessoas que trabalham em uma mesma idéia que, contudo, vivem em diversas partes do mundo e que não se conhecem pessoalmente. Realizam mutuamente, entram em uma forte relação, uma espécie de «consciência comum». Isto certamente tem repercussões no âmbito teológico, tanto mais se a comunicação se dá entre pessoas que, por cultura e formação, usam metáforas, imagens e linguagens diferentes para falar de Deus e comunicar a fé. Que efeitos isso terá sobre o conhecimento e a comunicação teológica? É uma pergunta que afeta a teologia em vários níveis. Os primeiros níveis são certamente os do estudo, que usa teorias, modelos, métodos da ciência das comunicações capazes de ajudar a própria reflexão sobre a fé e a maneira de comunicar a teologia. Um modelo de teologia da Revelação de tipo «verbal», que enquadra o homem como «ouvinte da Palavra» e, se queremos, o modelo da antena parabólica apontada ao céu, ou o do homem-radar, correm o risco de não ser tão explícitos como no passado. Se antes o homem era «visualizável» como um ser em busca de uma resposta a sua vida, pode agora ser marcado mais como uma pessoa em espera de eleger, selecionar, discernir, ante a resposta mais adequada e satisfatória. Deve, em resumo, aprender tanto a buscar como a encontrar. A rede oferece à teologia novas oportunidades e, ao mesmo tempo, lança desafios tanto de tipo metodológico como especulativo.

--Em um capítulo o senhor fala da rede como modelo de Igreja, por quê?

--Padre Spadaro: As relações na rede funcionam se as conexões estão sempre ativas: no momento em que um nó ou uma conexão se interrompe, a informação não passa e a relação é impossível. Se se pensa na videira, na qual pelos galhos correm a mesma seiva, damo-nos conta de que não estamos muito longe da imagem da internet. Portanto, a rede é uma imagem da Igreja na medida em que é entendida como um corpo vivo, se todas as suas relações internas são vitais.

Por outro lado, a universalidade da Igreja e a missão do anúncio «a todos os povos» reforçam a percepção de que a rede possa proporcionar um modelo de um certo valor eclesiológico.

Mas a imagem pode resultar ambígua: A Igreja não poderá nunca ser entendida unicamente como uma «comunidade virtual», nem se «reduzir» a uma rede auto-referencial. A Igreja não é uma rede de relações imanentes, mas tem sempre um princípio e um fundamento «externo». Se as relações em rede dependem da presença e do eficaz funcionamento dos instrumentos de comunicação, a comunhão eclesial é radicalmente um «dom» do Espírito.

ZP06050335

Fonte Zenit

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