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O que nos revela o judaísmo de Cristo
2006-04-14 21:56:26

A third quest, ou terceira busca, a mais recente fase de investigação sobre Jesus histórico, tem dado mais atenção ao judaísmo de Cristo.

"O judaísmo é o contexto essencial para compreender a mensagem de Jesus", dizia o exegeta bíblico Frédéric Manns, no seminário da Faculdade de Teologia (FT) dedicado à investigação recente sobre Jesus.
Manns, ex-director e investigador do Studium Biblicum Franciscanum, em Jerusalém, afirma mesmo que "a pesquisa feita por judeus acerca de Jesus é fundamental para perceber a third quest", o nome que na exegese bíblica se dá a esta fase das investigações históricas.
A primeira fase da investigação inicia-se no final do século XIX, quando a arqueologia favoreceu o desenvolvimento de estudos bíblicos mais rigorosos. Nessa fase, os investigadores insistem na ideia de que Jesus não queria fundar uma nova religião, mas apenas anunciar um reino messiânico. Era já uma perspectiva muito judaica na abordagem da pessoa de Jesus.
Armand Puig i Tàrrech, director do Instituto de Ciências Religiosas de Tarragona, recordava, no mesmo seminário, o francês Ernest Renan. Autor de uma biografia de Jesus, Renan "fustigava um cristianismo aterrorizado perante o avanço implacável da razão".
A segunda etapa, que se desenvolve após a II Guerra Mundial, insiste antes nas "tensões perceptíveis entre a mensagem de Jesus e o judaísmo que lhe é contemporâneo". A terceira fase recupera, assim, a perspectiva do início. Este último estádio de investigação nasce com investigadores do judaísmo liberal do Reino Unido que se aproximam de Jesus por ele falar como judeu. Nomes como Montefiori, Friedlander, Abrahams ou Klausner são as figuras de referência no início da investigação. Actualmente, destacam-se Shmel Safrai, Hanna Safrai e Dani Schwarz.
Para alguns destes investigadores o conceito-chave de Jesus é o do Reino de Deus. Mas este é um tema que, esclarece Manns, "nada deve à ideologia política", antes se manifesta pela "pobreza, pacifismo, justiça e perdão". A forma como Jesus é visto pelos investigadores privilegia ou a sua proximidade aos fariseus, o seu carisma de profeta, ou a sua dimensão de messias.
Os exegetas cristãos da third quest - na sua quase totalidade biblistas norte-americanos - retomam grande parte da investigação judaica e acrescentam-lhe alguns critérios. Um deles é a integração dos evangelhos apócrifos. Os apócrifos (não confundir com os gnósticos, tratados também nestas páginas) eram textos que não foram integrados no Novo Testamento por não serem utilizados nas comunidades cristãs dos primeiros séculos mas que, em alguns casos, apresentam dados históricos.
Que Jesus revelam estes investigadores? De novo, uma figura plural: ele é o nómada itinerante, sem preocupação de constituir qualquer movimento de discípulos; o mestre sapiencial ou filósofo galileu, mas "aberto à helenização da Palestina"; ou um místico. Sanders, autor de Uma Biografia de Jesus (ed. Casa das Letras), Tyssen ou John P. Meier (Um Judeu Marginal, Dinalivro) são nomes que se destacam entre os actuais exegetas - a par dos autores do Jesus Seminar, o Seminário de Jesus, que se colocam na "esquerda social e eclesial", diz Armand Puig.
Tyssen, por exemplo, defende que Jesus "enfrentou os poderes" do seu tempo para "defender os pobres". Mas não queria ser rei, antes mudar "a mentalidade das pessoas".

Fonte Público

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