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Jesus e as mulheres: a resposta dos Evangelhos Canónicos
2006-04-06 21:57:34

Jesus teve discípulas, que o acompanharam ao longo da sua vida pública e assumiram um papel de serviço (diakonia) junto dele e dos 12. Esta é uma das evidências que, à luz dos Evangelhos Canónicos (Marcos, Mateus, Lucas e João), foi ontem destacada pelo Pe. Joaquim Carreira das Neves na UCP.

A Agência ECCLESIA acompanhou a terceira sessão do seminário internacional “O «Jesus Histórico». Perspectivas sobre a investigação recente”, desta vez dedicada ao tema das mulheres nos Evangelhos canónicos e gnósticos. A leitura de Lc 8, 2-3 revela, por exemplo, que aos 12 Apóstolos se tinham juntado “algumas mulheres, que tinham sido curadas de espíritos malignos e de enfermidades: Maria, chamada Madalena, da qual tinham saído sete demónios; Joana, mulher de Cuza, administrador de Herodes; Susana e muitas outras, que os serviam com os seus bens”.
Para Joaquim Carreira das Neves é evidente que “havia um número de mulheres que seguiam Jesus e o serviam, como outros discípulos homens”. Isso, contudo, não quer dizer que o fizessem “à maneira dos 12”, sendo, assim, discípulas e diaconisas (servidoras) em sentido lato.
Estas mulheres foram mais sensíveis, em determinadas situações, ao anúncio do Reino de Deus por Jesus Cristo. A sua fidelidade levou-as mesmo a procurar dar a Jesus um enterro condigno, o que as tornaria testemunhas da ressusrreição (Lc 24, 10 refere-se a Maria de Magdala, Joana e Maria, mãe de Tiago, bem como a “outras mulheres que estavam com elas”) e personagens importantes nas primeiras comunidades cristãs.
O exegeta português lembrou que, no seu tempo, Jesus foi uma pessoa “diferente” na sua relação com as instituições judaicas, com as mulheres e com os “Códigos familiares” que colocavam as mulheres numa posição de subalternidade. mbora os Evangelhos Sinópticos não façam nenhuma referência ao termo discípulas, é plausível que as mulheres estivessem incluídas nos grupos de “discípulos” que muitas vezes são referidos.
O Pe. Carreira das Neves frisou que, entre esses discípulos/as e o grupo dos 12 Apóstolos, há uma diferença substancial no que diz respeito ao chamamento, sendo admissível que na Ceia Pascal – um momento fundamental para a questão do ministério ordenado na Igreja – pudessem estar apenas aqueles que Jesus chamou e não aqueles por quem se deixou acompanhar na sua subida para Jerusalém, a fim de celebrar a Páscoa.
Nesse sentido, o exegeta recusou tirar quaisquer conclusões sobre o que deve ser o futuro da Igreja no que diz respeito à possibilidade de admitir mulheres ao ministério sacerdotal, admitindo, contudo, que é preciso “repensar” o sistema e “recolocar a mulher no lugar que lhe compete, apresentando o verdadeiro desígnio de Deus a partir da história da Criação (Gn 1,26)”.
A ordenação de mulheres, disse, “é uma questão da Igreja, não do Jesus da história”.

A revolução dos Gnósticos
A sessão contou com uma abordagem à figura das mulheres nos chamados “evangelhos gnósticos”, particularmente divulgados a partir do sucesso da obra “O Código da Vinci” de Dan Brown. Para Joaquim Carreira das Neves, estas são “histórias alternativas” que é preciso conhecer e compreender, para evitar “respostas hipotéticas de má-fé”, como a que Dan Brown oferece, nas palavras de Umberto Eco.
Estes textos, lembrou, não anteriores aos Canónicos (c. 70-90) e demonstram a filosofia gnóstica, que defendia a androginia e desprezava a carne, para que pudesse ressurgir “a faulha divina” anterior à separação entre homem e mulher.
O Pe. Carreira das Neves citou um “logion” do já conhecido evangelho gnóstico de Tomé, no qual se afirma que “as mulheres não são dignas da vida” para mostrar quais as convicções destes escritos a respeito das mulheres – que se teriam de “transformar” em homens para poderem ser iniciados aos segredos do verdadeiro conhecimento (veja-se o final do referido logion 114 - “Jesus disse: ‘Eu mesmo vou guiá-la, para torná-la homem, para que ela também possa tornar-se um espírito vivo semelhante a vós, homens. Porque toda a mulher que se tornar homem entrará no Reino do Céu"). Os gnósticos desprezavam ainda o casamento e tudo o que relacionava com a sexualidade.
A importância atribuída a Maria Madalena nasce, assim, mais do confronto com a “Igreja de Pedro” do que por alguma relação especial com Jesus, dado que os gnósticos “metamorfosearam” estas figuras.
Os Evangelhos canónicos, historicamente mais próximos dos acontecimentos da vida de Jesus, fazem referência à presença de Madalena no momento da crucifixão e como testemunha da ressurreição. Os gnósticos, partindo da proeminência de que ela goza nos Evangelhos, como discípula, filtram pessoas e acontecimentos à luz de uma filosofia religiosa que, em muitos pontos importantes, difere do Cristianismo do Novo Testamento.

Fonte Ecclesia

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