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Católicos regressam a Roma
2006-04-01 21:24:57

Uma imensa multidão dirige-se este fim-de-semana a Roma para participar nas cerimónias evocativas do primeiro aniversário da morte de João Paulo II. O ponto alto está marcado para as 20h30 (menos uma em Portugal), com a realização de uma vigília de oração, recriando o ambiente vivido há um ano, quando o Papa peregrino se preparava para a última viagem.

O Coro da Diocese de Roma interpretará cânticos marianos e serão lidas passagens de textos de Wojtyla. À hora exacta da sua morte (21h37 em Roma), Bento XVI falará aos fiéis e concluirá a oração com a tradicional bênção apostólica.

Em Portugal, a figura de João Paulo II será recordada nas homilias dominicais, mas pouco mais do que isso. Nem no santuário mariano da Cova da Iria o ‘Papa de Fátima’ é merecedor de qualquer iniciativa particular. “Não está previsto nada. Esta semana realiza-se a peregrinação da Diocese de Leiria-Fátima, que será presidida por D. Serafim, e é natural que o sr. bispo se refira na missa. Mas só isso”, confessou a fonte. O Patriarcado de Lisboa também não preparou “nada de especial” para assinalar a data, como informou ao CM um responsável do Patriarcado.

Longe de chegar ao fim está o processo de beatificação do Papa polaco – tornado ‘santo’ há um ano pelos fiéis que, de todo o mundo, convergiram a Roma para o último adeus a Wojtyla.

Bento XVI abriu uma excepção, ao aceitar dar início ao processo antes do prazo mínimo previsto no Direito Canónico (cinco anos após a morte), mas o caminho de João Paulo II para os alteres ainda é longo. No Vaticano a palavra de ordem é “paciência”, pois é preciso respeitar todos os passos.

Segundo informou o padre Slawomir Oder, em comunicado oficial, “são completamente infundados os boatos de que a fase diocesana estaria quase concluída”. E vai mais longe ao afimar que serão seguidas todas “as modalidades exigidas habitualmente para todos os processos de beatificação e canonização”.

A documentação em estudo é volumosa e o rol de testemunhas extenso. Só depois se entra na fase do ‘milagre’. Têm sido muitos os casos relatados de curas não explicaveis à face da ciência actual, atribuídas à intercessão de João Paulo II. Mas a prova é um processo tão moroso e complexo como os anteriores, pelo que não há, ainda, nenhum milagre atribuído ao Papa polaco – condição sine qua non para Karol Wojtyla ser elevado aos altares.

Desfaz-se, assim, a esperança dos muitos católicos que esperavam ouvir, amanhã, Bento XVI anunciar a beatificação do ‘viajante de Deus’, embora em todos exista a convicção de que tudo será uma questão de tempo.

ENCONTRO COM 17 600 100 PEREGRINOS

Desde o começo do seu pontificado, João Paulo II realizou 104 viagens pastorais fora de Itália e 146 pelo interior deste país. Como bispo de Roma, visitou 317 das 333 paróquias romanas. Nenhum outro Papa se encontrou com tantas pessoas como João Paulo II: em números, mais de 17 600 100 peregrinos participaram nas cerca de 1160 Audiências Gerais que se celebram todas as quartas-feiras.

Este número não inclui as outras audiências especiais e cerimónias religiosas (mais de oito milhões de peregrinos durante o Grande Jubileu do ano 2000) e os milhões de fiéis que foram ao seu encontro durante as visitas pastorais.

João Paulo II presidiu a 147 cerimónias de beatificação – nas quais proclamou 1338 beatos – e 51 canonizações, com um total de 482 santos. Celebrou nove consistórios, durante os quais criou 231 cardeais – além de um ‘in pectore’ – e presidiu a seis assembleias plenárias do Colégio Cardinalício. Escreveu, ainda, cinco livros, 14 encíclicas, 15 exortações apostólicas, 11 constituições apostólicas e 45 cartas apostólicas.

"NÃO TENHAIS MEDO"

Trabalhou numa mina e numa fábrica de produtos químicos. Praticou esqui, montanhismo e remo. No Natal, costumava oferecer aos amigos, cardeais e todos os trabalhadores do Vaticano uma garrafa de vinho e um pão doce de limão com passas. Karol Józef Wojtyla, polaco, filho de um oficial do exército, nasceu em Wadowice a 18 de Maio de 1920. Perdeu a mãe quando tinha nove anos, o irmão (médico) aos doze e o pai aos 21. Não chegou a conhecer a irmã, que faleceu antes dele nascer.

“As suas ideias são diferentes da maioria dos mortais: são maiores”, escreveu, um dia, a revista ‘Time’, sobre esta figura incontornável da história do século XX.

Eleito Papa a 16 de Outubro de 1978, exerceu o seu ministério petrino com incansável espírito missionário. Visitou 129 países e mais de mil cidades. Percorreu o equivalente a três viagens entre a terra e a lua e a 29 voltas ao mundo. O seu amor aos jovens levou-o a iniciar, em 1985, as Jornadas Mundiais da Juventude, tendo reunido, ao longo de 19 edições, milhões de jovens de todo o mundo. A 13 de Maio de 1981 escapou a um atentado na Praça de São Pedro. Um acontecimento que marcou todo o seu Pontificado, quer na sua relação com a morte – um tema exaustivamente tratado no seu Testamento, colocando-se incondicionalmente ao serviço do Pai – quer na sua relação com Fátima, já que atribuiu o facto de ter sobrevivido à intervenção de Nossa Senhora, “a mão materna que desviou a bala”. João Paulo II recuperou para a Igreja o seu lugar na sociedade, cativando gente de todas as idades, crentes e não crentes, pela presença, pelo carisma, pela palavra: “Não tenhais medo! Abri, mais, escancarai, as portas do vosso coração a Cristo”.

VENDIDA HABITAÇÃO

A casa onde nasceu João Paulo II foi vendida, mas apenas na segunda-feira serão conhecidos pormenores da transacção. O edifício, de um andar, foi construído por volta de 1845. O contrato de venda obriga o novo proprietário a conservar o Museu João Paulo II que ali funciona.

"ADVOGADO DOS POBRES" (D. ANTÓNIO MARTO, BISPO DE VISEU)

“Ficará na história como uma das duas ou três figuras religiosas, morais, culturais e políticas que marcaram o século XX. Ergue-se, na verdade, como um gigante da História, pois lutou contra tudo o que fere e impede a vida e a dignidade na história e nas sociedades, contra todos os totalitarismos. Foi o Papa dos direitos humanos, advogado dos pobres, promotor e artífice da Paz. A guerra é sempre uma derrota da consciência humana, uma derrota da humanidade.

Ergue-se como um gigante da Igreja ao lutar contra tudo o que fere ou impede a vida espiritual e o espírito de comunhão. Ergue-se como um gigante da fé ao afirmar que Jesus é o caminho que conduz à felicidade, ao coração do Pai e ao encontro dos homens. Manteve-se firme frente a todas as provações e ameaças, porque tinha contemplado o mistério do Senhor glorioso. Este é o segredo da sua força e do seu ministério.”

"ABRIU O CORAÇÃO A FÁTIMA" (PADRE LUÍS KONDOR, VICE-POSTULADOR PARA A CAUSA DA CANONIZAÇÃO DE FRANCISCO E JACINTA)

“Nenhum Papa entrou tão profundamente em Fátima como João Paulo II, que abriu o seu coração aos pastorinhos. Muita da importância que o santuário mariano da Cova da Iria alcançou deve-se a ele.

Quando foi tornado público que o Santo Padre se identificou com o tal bispo vestido de branco, referido na terceira parte do segredo de Fátima, isso foi visto como um grande milagre, uma profecia, pois realizou--se o que os pastorinhos viram em 1917.

Foi ele que me encorajou a avançar com o processo de beatificação. Esse acontecimento que veio dar, ainda, uma grande força ao movimento do ecumenismo. Os muitos padres e até bispos anglicanos que hoje visitam o Santuário são disso exemplo.”

"PREPAROU A IGREJA" (D. JACINTO BOTELHO, BISPO DE LAMEGO)

“Papa extraordinário e de uma humanidade e sensibilidade profundas. A sua preocupação foi a de preparar a Igreja para o novo Milénio. Uma Igreja extraordinariamente renovada. Todo o seu Pontificado centrou-se nesse ponto, nessa nova fase. Não com festas, mas sobretudo uma preparação interior, que era necessário empreender em toda a Igreja. Na linha da aplicação do Concílio Vaticano .

Segundo, procurou que a reforma do Concílio fosse vivida em toda a Igreja. Foi um homem verdadeiramente enamorado de Cristo. Notava-se nele essa profundíssima relação com Cristo, que procurava transmitir em todas as comunicações. Recordo, ainda, a sua enorme devoção a Nossa Senhora.”


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