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Vaticano explica supressão do título de Patriarca do Ocidente no Anuário Pontifício
2006-03-23 22:21:46

O Vaticano confirmou hoje oficialmente que no Anuário Pontifício de 2006 não constará, na enumeração dos títulos do Papa, o de “Patriarca do Ocidente”. Um comunicado do Conselho Pontifício para a promoção da Unidade dos Cristãos (CPPUC) afirma que esta decisão “foi comentada de muitas maneiras e exige um esclarecimento”.

“O título «Patriarca do Ocidente», pouco claro desde o início, tornou-se obsoleto e, com o decorrer da história, praticamente impossível de voltar a utilizar. Parece, por isso, privado de sentido insistir na sua permanência”, refere o comunicado desta manhã.
“Actualmente, o significado do termo Ocidente refere-se a um contexto cultural que vai para além da Europa Ocidental, estendendo-se dos Estados Unidos da América até à Austrália e Nova Zelândia, diferenciando-se, assim, de outros contextos culturais. Obviamente, este significado do termo Ocidente não pretende designar um território eclesiástico, nem pode ser adoptado como definição de um território patriarcal”, prossegue a nota oficial.
Numa aplicação do termo Ocidente à linguagem jurídica eclesial, o mesmo poderia ser entendido como referência à Igreja de rito Latino. O CPPUC, contudo, esclarece que, após o II Concílio do Vaticano, a Igreja Latina já dispõe de “um ordenamento canónico adequado para as necessidades de hoje”, na forma de Conferências Episcopais e das suas reuniões internacionais.

História
Os Patriarcas do Oriente eram os Bispos das grandes cidades de onde irradiou o Cristianismo, nos primeiros séculos, mantendo amplos poderes jurisdicionais na sua área de influência, o que foi confirmado pelos primeiros Concílios ecuménicos: Patriarcas de Constantinopla, Alexandria, Antioquia e Jerusalém, os quais, antes do cisma ortodoxo, reconheciam a primazia do Papa como Patriarca do Ocidente. O título de “Patriarca” foi utilizado pela primeira vez em referência aos chefes da Igreja pelos imperadores bizantinos, no século V.
A jurisdição directa dos Patriarcas vai para além de uma diocese, incluindo uma família ritual. A verdade é que, no Ocidente, o entendimento da autoridade eclesial foi sendo cada vez mais ligado à terminologia jurídica, e não à sacramental.
O CPPUC explica que, dum ponto de vista histórico, “os antigos Patriarcados do Oriente, fixados pelo Concílios de Constantinopla (381) e de Calcedónia (451), eram territórios bastante circunscritos, enquanto que o território da sede do Bispo de Roma permanecia vago”.
Como assinala o documento vaticano, no Oriente, dentro do sistema eclesial imperial de Justiniano (527–565), ao lado dos quatro Patriarcas Orientais (Constantinopla, Alexandria, Antioquia e Jerusalém), o Papa era visto como o Patriarca do Ocidente; no Ocidente, contudo, foi privilegiada a ideia das três “sedes episcopais petrinas”: Roma, Alexandria e Antioquia.
“Sem utilizar o título de «Patriarca do Ocidente», o IV Concílio de Constantinopla (869–70), o IV Concilio de Latrão (1215) e o Concílio de Florença (1439) elencaram o Papa como o primeiro dos então cinco Patriarcas”, lembra o CPPUC.
O título de “Patriarca do Ocidente” foi adoptado em 642 pelo Papa Teodoro I, mas apenas raramente voltou a ser utilizado e nunca teve um significado claro. Ressurgiu nos séculos XVI e XVII, no quadro da multiplicação dos títulos do Papa; o Anúario Pontifício utiliza-o, pela primeira vez, em 1863.

Ecumenismo
A mudança tem potenciais consequências no diálogo ecuménico: A opção de Bento XVI foi acolhida como “sinal de sensibilidade ecuménica”, mas poderia provocar reacções negativas se entendida como uma diminuição da autoridade patriarcal, dado que o Papa tem jurisdição universal. Assim, o CPPUC observa que “a renúncia a este título quer exprimir um realismo histórico e teológico, ao mesmo tempo que pretende ser a renúncia a uma pretensão, renúncia que poderia ser útil para o diálogo ecuménico”.
“Deixar o título de «Patriarca do Ocidente» não muda nada ao reconhecimento declarado pelo Concílio Vaticano II às antigas Igrejas patriarcais (Lumen Gentium 23). Muito menos pode querer dizer, tal supressão, que se subentendam novas reivindicações”, precisa o CPPUC.
Muitos teólogos católicos defendiam que esta designação não tinha nenhum fundamento histórico ou teológico, para além de ser redutora, por se referir apenas ao Ocidente.
O Papa passará a ter os títulos ou funções de Bispo de Roma, Vigário de Jesus Cristo, Sucessor do Príncipe dos Apóstolos, Sumo Pontífice da Igreja Universal, Primaz da Itália, Arcebispo Metropolita da Província Romana e Soberano do Estado da Cidade do Vaticano.

Fonte Ecclesia

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