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40 dias para mudar em profundidade
2006-03-07 23:23:05

O Pe. José Manuel Pereira de Almeida, Assistente da Comissão Nacional de Justiça e Paz (CNJP), fala à Agência ECCLESIA do potencial transformador que a Quaresma oferece a cada comunidade cristã, chamadas a contribuir com a sua generosidade na transformação da Igreja e do mundo, através de projectos diocesanos e da Igreja Universal.

Agência ECCLESIA - Qual é a importância deste tempo para os católicos?
Pe. José Manuel Pereira de Almeida - Em primeiro lugar, os 40 dias da Quaresma existem por causa da Páscoa, é a meta que determina o sentido do percurso. Partir numa peregrinação interior é já, de algum modo, participar do destino, o que importa é lançar-se.
Claro que este tempo é de exercício efectivo, exigente, mas é um tempo que chamaria da Esperança. A Quaresma está para além da visão negativa, da necessidade de excluir, da renúncia, mas como qualquer escolha, há que preferir o mais importante, o que não é acessório, o que é significativo.

AE - Essa caminhada implica mudanças profundas...
JMPA - Em grego, conversão significa uma mudança de olhar e de mentalidade, logo, mudança de atitude. Ver as coisas com olhos novos, ter outro olhar sobre a vida, o mundo em que vivemos, permite mudar a nossa mentalidade, como referiu a CNJP: facilmente nos instalamos no pessimismo, no dizer mal e no deixar correr, demitindo-nos de fazer o bem, aqui e agora.
É importante recuperar a alegria de viver, comprometendo-nos com os necessitados, com aqueles que estão desamparados, para mudar as situações de dificuldade no desemprego ou no acolhimento aos que vêm de fora, por exemplo.

AE - Este tempo é um desafio à generosidade das comunidades paroquiais, que são chamadas a contribuir para uma série de projectos diocesanos e da Igreja Universal?
JMPA - Com certeza. Depois é preciso estender essa generosidade, numa dimensão tão importante e central para o Evangelho, como é a coerência de vida: não podemos anunciar com palavras e depois desmentir o Evangelho nos actos.
Creio que há uma não-educação das comunidades cristãs para a Doutrina Social da Igreja e que algum crescimento a esse propósito seria oportuno. Acredito que essa dimensão global da vida cristã já esteve presente nas comunidades cristãs, mas agora há a tentação de empurrar responsabilidades para a Cáritas ou para alguma instituição, sem compromisso pessoal.
As instituições têm o seu lugar, há implicações económicas, políticas e sociais de que os cristãos têm de tomar consciência para lhes poderem dar resposta.

AE - Oração, jejum e esmola interligam-se nesse "olhar" solidário?
JMPA - Bento XVI, na sua primeira encíclica, lembra que não pode haver, num primeiro círculo da comunidade cristã, pobres entre nós. O horizonte é, de facto, o da radical erradicação da pobreza, ao menos nas comunidades.
Isto, para mim, aparece como uma provocação: eu não posso viver como vivo sabendo que em Lisboa há outro cristão que vive sem condições. Alguma coisa tem de ser feita. É claro que isso não depende só de cada um, mas também depende de cada um.

AE - A Quaresma não deveria revolucionar a Igreja?
JMPA - Há quem pergunte como é que a Igreja pode defender os pobres se é sustentada pelos ricos. Esta questão dá que pensar.
A Quaresma tem um potencial enorme para mudar as pessoas, porque acreditamos que Deus reconstrói tudo, contra todas as expectativas. Se esse potencial se manifestasse em cada um, em cada comunidade, a transformação seria profunda.

Fonte Ecclesia

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