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Casamentos: cada vez menos e mais
2001-06-16 19:12:33

De acordo com as estatísticas, os portugueses estão, de uma forma geral e em tendência crescente, a casar menos e a casar mais tarde.

Isto tem a ver com muitas causas, nomeadamente com o prolongamento da formação académica, a dificuldade de procura do primeiro emprego, a instabilidade da vida profissional, particularmente no início de vida, a dificuldade de aquisição de habitação; mas também a ver com uma cultura que não promove, antes subverte, o sentido do compromisso, o valor da fidelidade e da responsabilidade.
Qual tem sido a atitude da Igreja Católica perante as alterações dos comportamentos pré-nupciais, nomeadamente este que se deduz das estatísticas?
Há cerca de 40-50 anos, os responsáveis pastorais descobriram que muitos jovens pediam o casamento católico sem uma preparação mínima que os ajudasse a ultrapassar as dificuldades da vida conjugal e familiar. O recurso ao divórcio começava a tornar-se frequente, no pós-guerra. Era necessário “alertar” os jovens noivos para os perigos que adviriam da ausência do diálogo e da cooperação entre os esposos, da incapacidade de cortarem as amarras de uma vida de solteiros e mimados pelos pais, dos tabus que persistiam acerca da sexualidade, etc.
Foi então criado o CPM (Centro de Preparação para o Matrimónio), e outras formas de preparação imediata para o casamento, com bastante êxito e eficácia.
Hoje, porém, os responsáveis pastorais dão-se conta da insuficiência deste meio de preparação para o matrimónio, por várias razões. Em primeiro lugar, e porque os jovens casam mais tarde, quando eles decidem realizar o casamento católico já tiveram tempo de tomar todo o género de decisões sobre a vida conjugal e familiar (vida sexual, procriação, organização económica, relação com os pais de ambos, educação dos filhos, etc.) e alguns já vivem mesmo em comum. Por outro lado, o pedido de casamento católico raramente traduz uma motivação genuína de fé cristã; muitos noivos que pedem o casamento católico apresentam-se sem iniciação nem prática cristã.
Que fazer com os noivos que já definiram e estabeleceram opções de fundo acerca da sua vida conjugal e familiar segundo critérios que nem sempre são de genuína inspiração cristã e, às vezes até já as vivem, e que vêm pedir o casamento católico?
Os jovens continuam a pedir o casamento católico, embora em menor número, mas numa idade mais adulta. Estão talvez mais amadurecidos e certamente com uma mais clara e assumida decisão quanto à sua vida conjugal e familiar, mais auto-suficientes e com menos disponibilidade para escutar exortações e conselhos.
Para estes, a Igreja parece estar desprevenida.
Em 1981, João Paulo II publicava uma exortação apostólica, Familiaris consortio, que introduziu, no conceito de preparação para o matrimónio, as seguintes etapas: a preparação remota (que se identifica com a educação desde os primeiros anos), a preparação próxima (que coincide com a formação catequética dos jovens, com uma clara dimensão de descoberta e aprofundamento vocacionais) e a preparação imediata (que incide especialmente na preparação da celebração sacramental). Esta sistematização recolheu a aprovação dos responsáveis pastorais, mas está ainda longe de ser posta em prática. Andamos quase todos um pouco atarantados à procura de formas para preparar os noivos que vêm às paróquias pedir o casamento católico e apresentando, na maior parte das vezes, motivações muito frágeis – ou mesmo nulas – para a celebração de um sacramento que, como todos os outros, supõe a fé minimamente consciente e amadurecida.
É necessário, neste campo, uma profunda “revolução” pastoral, ainda mais exigida pelas mudanças que se vão acentuando, sobretudo de um casamento que já foi pensado e definido segundo valores e critérios que nem sempre são os mais “católicos”...
Importa, quanto antes, valorizar pastoralmente o tempo de namoro – hoje mais longo do que era habitual. É preciso encarar este período da vida como uma grande oportunidade de evangelização, a partir do próprio facto do amor, ainda incipiente, mas mesmo assim já manifestação da presença e da acção de Deus. O tempo de namoro deve ser visto como um tempo favorável para renovar o encontro dos namorados com a pessoa de Jesus Cristo, com a mensagem do Evangelho e com a Igreja, na Igreja e com a Igreja, a partir da experiência do amor.
Por outras palavras: mais do que insistir numa preparação imediata – que terá sempre lugar e deve ser motivo de especial cuidado pastoral – é necessário “investir” na evangelização do e no tempo mais prolongado de namoro, quando se começam a definir nos jovens e nos jovens-adultos as opções quanto à vida conjugal, à sexualidade, procriação, organização familiar, etc.

Pe. José João Aires Lobato
Secretário da Comissão Episcopal da Família


Fonte Ecclesia

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