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Biografia (im)possível de Jesus em debate na UCP
2006-02-16 21:43:53

As possibilidades e impossibilidades da investigação histórica sobre a figura de Jesus estão, por estes dias, no centro dos trabalhos da XXVII Semana de Estudos Teológicos que decorre na Universidade Católica Portuguesa.

A Faculdade de Teologia da UCP lembra que, nos nossos dias, a figura de Jesus emerge "em itinerários contrastantes, entre a releitura devocional e a demanda da verdadeira história".
Curandeiro, sábio, profeta, contador de histórias, rabino galileu, militante social, judeu marginal, camponês mediterrânico ou filósofo itinerante são várias das “hipóteses de leitura” que se lançam sobre Jesus, completando-se ou mesmo contradizendo-se e excluindo-se. Quer isto dizer que não o podemos conhecer?
O Pe. Tolentino Mendonça, poeta e exegeta, lançou ontem o debate sobre as “certezas e enigmas” em volta de Jesus, dos evangelistas aos nossos dias. Este especialista lembrou que as imagens construídas de Jesus “se acumulam ao longo do tempo”, sem que nenhuma delas seja a palavra definitiva.
A vaga de estudos sobre o chamado “Jesus histórico”, que tende a recusar imagens criadas pelas confissões cristãs, serviu para que, 200 anos após o seu início, a diversidade de opiniões e posições ainda seja maior. “Facilmente se acaba na fabricação de um novo Jesus”, alerta o Pe. Tolentino Mendonça.
Apesar destes riscos, os contributos de áreas tão diversas como a linguística, a arqueologia e outras ciências sociais e histórica facilitam, hoje em dia, o acesso aos textos do Evangelho e à cultura judaica em que Jesus se inscreveu. “A figura de Jesus aparece sempre através da mediação da linguagem e da mediação da fé da comunidade que a professa”, lembra este especialista.
Qualquer investigador que se debruce sobre esta figura deve ter, por isso, a consciência de que “não opera em directo sobre Jesus”, só através de mediações. Caso contrário, corre-se o risco de desembocar em “invenções”.
Assim, a nova vaga de estudos tende a centrar-se mais na “plausibilidade de Jesus” nos seus vários contextos. A questão de Jesus, essa “permanece em aberto”, não porque seja impossível de resolver, como explica Tolentino Mendonça, mas porque esse carácter enigmático é já uma espécie de “marca genética” que já está presente no Novo Testamento, que já inclui a diversidade em volta da pessoa de Jesus.
“Não se pode dizer o que Jesus foi sem dizer o que Jesus é”, completa.

Imagens de Jesus
O Pe. Joaquim Carreira das Neves, exegeta, centrou a sua intervenção na obra de EP Sanders “A Verdadeira História de Jesus” ("The historical Figure of Jesus"), questão, que desde logo, desperta a atenção: há uma verdadeira história de Jesus? A verdadeira história de Jesus não está na Bíblia?
Retomando o que afirmara o Pe. Tolentino Mendonça, para quem não é possível fazer a história de Jesus sem o Novo Testamento, Joaquim Carreira das Neves destacou que “os critérios utilizados têm de ser diferentes dos utilizados com outras personagens da história”. Em crítica à obra de Sanders, em particular, o exegeta português assinala que não é possível abordar a figura histórica de Jesus ignorando “a sua auto-consciência de Filho de Deus”.
“O historiador não pode ignorar a audácia de Jesus, que enfrentou as instituições judaicas como mediações de Deus”, acrescentou.
Já o Pe. Peter Stilwell, director da Faculdade de Teologia, olhou para a situação mundial e interrogou-se sobre os limites “à abordagem dos símbolos religiosos”, lembrando que há muitas representações “não-tradicionais” das coisas cristãs. Para este responsável, é fundamental centrar a atenção sobre a “forma e a capacidade de recepção” dessas interpelações, dado que não temos a tutela sobre quem as produz.
Em conclusão, uma certeza: “Se Jesus fosse apresentado na sua evidência, ficaríamos pela superfície”.

Programa
Dia 16
17.30 h - Conferência: "Testemunho de fé e história de Jesus" - Noronha de Galvão.
18.45 h - Atelier: "A mediação estética" - "O rosto de Jesus: perspectivas iconológicas" - D. Carlos Azevedo; "A "Paixão" na criação musical europeia: notas para uma audição teológica" - Alfredo Teixeira.

Dia 17
17.30 h - Mesa-redonda: "Seguir Jesus, hoje" - Cristina Sá Carvalho, João Resina Rodrigues, José Eduardo Borges de Pinho - Moderado por Paulo Rocha.
18.45 h - Conferência: "A evidência de Jesus: anúncio e narratividade" - Arnaldo Pinho.

Fonte Ecclesia

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