paroquias.org
 

Notícias






Teólogo despedido por defender uso do preservativo
2006-02-06 16:44:43

Juan Masiá Clavel, director da cátedra de bioética da Universidade Pontifícia de Comillas, de Madrid, foi demitido do seu cargo e deixará, no final deste ano lectivo, de ensinar naquela escola. Em causa, estão as posições deste teólogo e padre jesuíta, que defende o uso dos meios anticoncepcionais e do preservativo, bem como a possibilidade de discordância dentro da Igreja.

Por detrás da decisão, de acordo com diversas fontes eclesiásticas citadas pela imprensa espanhola, estão os cardeais Alfonso López Trujillo, presidente da Comissão Pontifícia para a Família, e Antonio María Rouco Varela, arcebispo de Madrid. Masiá, padre jesuíta, viveu 35 anos no Japão, onde dirigiu o Instituto de Ciências da Vida da Universidade de Sofia.
Com 65 anos, a completar em Março, Masiá ocupava a direcção da cátedra em Madrid desde Fevereiro de 2004. Aqui substituíra o também jesuíta Javier Gafo - que, apesar de ser assessor dos bispos espanhóis e do Vaticano, também teve problemas com sectores da hierarquia. Masiá publicou, em Portugal, A Sabedoria do Oriente (ed. Notícias).
O fundador dos jesuítas era referência de Masiá, segundo a última lição que o teólogo proferiu. Dizia ele que os seguidores de Inácio de Loiola sentem a vocação de "fazer pontes e equilíbrios na fronteira": "Entre a investigação e a divulgação, entre estar presente nos meios de comunicação e não deixar-se manipular por eles, entre a pastoral e o trabalho em terrenos de marginalização, entre a espiritualidade e a moral, entre Oriente Ocidente, entre Roma e Jerusalém, entre ciências e crenças, entre a fidelidade e a criatividade, entre a pastoral ad intra [para dentro da Igreja], e a missão ad extra [para fora]."
O mal-estar em relação a Masiá vinha de 2004, quando, no artigo Exageros no meu país, na revista Eclesalia, comparava o que vivera no Japão com o que encontrara em Espanha: "Por exemplo, no caso - meio cómico, meio anacrónico - à volta do preservativo: não se sabe se havemos de rir ou chorar. Nem sequer tinha que ser problema. Não só como prevenção de um contágio, mas como anticonceptivo corrente, pode usar-se para evitar uma gravidez não desejada e evitar o aborto. Há muito que a teologia moral superou esse falso problema." E acrescentava que se pode discordar no interior da Igreja, "por fidelidade à própria Igreja".
Sobre a sua destituição, Masiá pediu apenas que o reitor e o superior dos jesuítas em Espanha não fossem responsabilizados. O reitor da Universidade assumiu sozinho "a responsabilidade de algo de que não tem a culpa, poupando às autoridades eclesiásticas os incómodos de dar a cara para se responsabilizarem", escreveu, numa carta dirigida aos colegas de Comillas.

AM

Fonte Público

voltar

Enviar a um amigo

Imprimir notícia