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Papa João Paulo II pensou renunciar, mas não quis abrir "perigoso precedente"
2006-01-31 17:18:49

O Papa João Paulo II, que morreu a 2 de Abril do ano passado, pensou em renunciar ao seu lugar, mas não o fez para não criar um "perigoso precedente para os seus sucessores".

A informação, divulgada pela agência Zenit, do Vaticano, foi revelada pelo antigo secretário particular do Papa Wojtyla, Stanislaw Dziwisz, actual arcebispo de Cracóvia (Polónia), ao cardeal Julián Herranz, presidente do Conselho Pontifício para os Textos Legislativos, a 17 de Dezembro de 2004.
Agora, num livro em que recolhe as memórias que guarda de João Paulo II e do fundador da Opus Dei, Escrivá de Balaguer, o cardeal Herranz revelou o conteúdo das conversas tidas em 2004 e diz que, de acordo com o seu secretário, o Papa se sentia pouco apegado ao cargo, numa altura em que a sua saúde já estava muito debilitada. Ainda de acordo com Dziwisz, João Paulo II tinha medo de "criar um perigoso precedente para os seus sucessores, pois algum deles poderia ficar exposto a manobras e pressões subtis por parte de quem desejasse sua deposição".
A hipótese da renúncia do Papa foi sugerida várias vezes como possível. No próprio Testamento de João Paulo II, o Papa dava a entender ter colocado essa possibilidade. Comentando o cânone 332, do Código de Direito Canónico, que deixa em aberto - embora de modo não definitivo - a possibilidade da renúncia do Papa ao lugar, o cardeal transcreve as notas que escreveu depois da conversa com Dziwisz.
"Falámos da opinião que lhe havia manifestado - a seu [de Dziwisz] pedido - sobre a oportunidade de que o Santo Padre renunciasse ao cumprir 75 ou os 80 anos. Respondi que, por motivos de idade "não deveria" fazê-lo: é muito diferente a "missão canónica" que os bispos recebem do Papa, para governar uma Igreja particular ou uma diocese, da missão que o Papa recebe no momento da eleição e da aceitação."
O cardeal referia-se deste modo à idade canónica actualmente em vigor para que um bispo local renuncie ao seu cargo: 75 anos. No livro, Herranz explica que a constituição apostólica Universi Dominici Gregis, que regula a eleição do Papa, afirma que a doutrina católica vê a figura do Papa como derivando "directamente de Cristo, de quem é vigário na terra", mesmo se eleito pelos cardeais.
"Pelo que se refere à possibilidade de renunciar por motivos de saúde, escrevi naquela nota algo que agora me parece oportuno dar a conhecer, como exemplo da obediência e da prudência heróica de João Paulo II", conta o cardeal Herranz no livro publicado.
O cardeal conta ainda que o secretário de João Paulo II "limitou-se a comentar que "o Papa - que pessoalmente está muito desapegado do cargo - vive abandonado à vontade de Deus, põe-se nas mãos da divina providência"".
Karol Wojtyla foi o primeiro polaco e o primeiro não italiano em 450 anos a ser eleito Papa. O sucessor, o alemão Joseph Ratzinger, foi eleito a 19 de Abril e adoptou o nome de Bento XVI.

António Marujo

Fonte Público

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