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Carta do Prelado do Opus Dei sobre a família
2006-01-19 21:27:59

No início de 2006 D. Javier Echevarría escreveu uma carta para as pessoas do Opus Dei e para os cooperadores. Destacamos as passagens que sublinham a necessidade de fortalecer a instituição familiar.

Neste tempo de Natal, a Sagrada Família ocupa de modo especial o centro dos nossos olhares. É, por isso, lógico que, ao contemplar a trindade da terra, venha ao nosso coração, com a gratidão e a adoração, a petição para que em toda a parte se respeite e se defenda a verdadeira natureza e dignidade da instituição familiar e para que especialmente as famílias cristãs sejam um reflexo do lar de Nazaré. Foi o que lemos na petição que a liturgia pôs nos nossos lábios no passado dia 30 de Dezembro, festa da Sagrada Família de Jesus, Maria e José, convidando-nos a rezar: Senhor, que na Sagrada Família nos destes um modelo de vida, imitando as suas virtudes familiares e o seu espírito de caridade, possamos um dia reunir-nos na Vossa casa para gozarmos as alegrias eternas (MISSAL ROMANO, Festa da Sagrada Família, Colecta).

Na sua última intervenção pública sobre este tema, já perto do final dos seus dias, o Santo Padre João Paulo II recordava que «precisamente contemplando o mistério de Deus que se faz homem e encontra acolhimento numa família humana, podemos compreender plenamente o valor e a beleza da família». De facto, continuava o Papa, «a família não só está no centro da vida cristã; é também o fundamento da vida social e civil e, por isso, constitui um capítulo central da doutrina social cristã» (JOÃO PAULO II, Discurso aos participantes na Assembleia do forum das Associações familiares, 18-XII-2004).

Também Bento XVI insiste na importância de compreender a fundo o significado do casamento e da família no desígnio divino, perante aqueles que se obstinam em reduzi-los a meras construções humanas e, portanto, susceptíveis de reformas arbitrárias com o passar dos tempos. Na realidade, indica o Papa, o casamento e a família não são uma construção sociológica casual, fruto de situações históricas e económicas particulares. Pelo contrário, a questão da correcta relação entre o homem e a mulher tem as suas raizes na essência mais profunda do seu humano e só a partir daí pode encontrar a sua resposta. Quer dizer, não se pode separar da pergunta antiga e sempre nova do homem sobre si mesmo: quem sou? Que é o homem? E esta pergunta, por sua vez, não pode separar-se da interrogação sobre Deus: existe Deus? Quem é Deus? Qual é verdadeiramente o seu rosto? (BENTO XVI, Discurso na abertura da assembleia eclesial da diocese de Roma, 6-VI-2005)

São perguntas, minhas filhas e meus filhos, que temos de conseguir que sejam feitas por muitos amigos e conhecidos, ajudando-os a resolvê-las de modo adequado. Ao suscitar essas interrogações, o Papa recorda alguns princípios fundamentais da Sagrada Escritura; entre outros, que o homem foi criado à imagem de Deus, e o próprio Deus é Amor. Por isso, a vocação ao amor é o que faz que o homem seja autêntica imagem de Deus: é semelhante a Deus na medida em que ama (ibid). E o amor, como bem sabemos, é o mais oposto ao egoísmo.

S. Josemaria repetiu-nos que a nossa fé não desconhece nada do que de belo, de generoso, de genuinamente humano há neste mundo. Ensina-nos [a fé] que a regra do nosso viver não deve ser a procura egoísta do prazer, porque só a renúncia e o sacrifício levam ao verdadeiro amor; Deus amou-nos e convida-nos a amá-Lo e a amar os outros com a verdade e com a autenticidade com que Ele nos ama (S. JOSEMARIA, Cristo que passa, n. 24). Só com esta convicção, levada, dia após dia, ao comportamento pessoal, à própria casa, ao local de trabalho, etc., se poderão refutar com eficácia, com a ajuda da graça, as ideias erróneas e conseguir que voltem para Deus as pessoas que as defendem.

Uma das consequências imediatas dessa vocação original para o amor é que ninguém pertence exclusivamente a si mesmo. Todos nos encontramos firmemente entrelaçados pelos vínculos de uma mesma origem e de um mesmo fim, que têm o seu fundamento em Deus. Todos estamos chamados a assumir a nossa responsabilidade pessoal pelo bem da sociedade, cada um de acordo com as circunstâncias da sua própria situação. No caso das famílias e do casamento, é claro que as leis que regulam essas instituições, tanto as da Igreja como as de qualquer sociedade que procure rectamente o bem comum, não são, assim sem mais, uma forma imposta do exterior, mas uma exigência intrínseca do pacto do amor conjugal e da profundidade da pessoa humana. Pelo contrário, as diversas formas actuais de dissolução do casamento, como as uniões livres e o "casamento à experiência", até ao pseudo-casamento entre pessoas do mesmo sexo, são expressões de uma liberdade anárquica, que se quer apresentar erroneamente como verdadeira libertação do homem. Essa pseudo-liberdade funda-se numa trivialização do corpo, que inevitavelmente inclui a trivialização do homem. Baseia-se na suposição de que o homem pode fazer de si mesmo o que quiser: assim o seu corpo converte-se em algo secundário, algo que se pode manipular do ponto de vista humano, algo que se pode usar como se quiser. O libertarismo, que se quer fazer passar como descoberta do corpo e do seu valor, é, na realidade, um dualismo que torna o corpo desprezível, situando-o, para dizê-lo de alguma maneira, fora do autêntico ser e da autêntica dignidade da pessoa (BENTO XVI, Discurso na abertura da assembleia eclesial da diocese de Roma, 6-VI-2005).

Como cidadãos e cristãos responsáveis, temos de fazer tudo o que é possível para defender e promover os valores irrenunciáveis neste campo fundamental para a vida da Igreja e, não o esqueçamos, da sociedade civil. Isto apresenta-se-nos como uma das tarefas mais urgentes da nova evangelização. A obrigação de difundir recta doutrina sobre o casamento e a família afecta a responsabilidade de todos. As festas destes dias põem-no-lo graficamente diante dos olhos e impulsionam-nos a não adormecer, a despertar muitas outras pessoas do mau sono que às vezes as invade.

Não quero terminar sem uma menção especial às famílias numerosas, que o nosso Padre tanto apreciava. Como fruto da sua longa experiência, costumava comentar: conheci muitos casais que, quando o Senhor não lhes dá mais do que um filho, têm também a generosidade de o entregar a Deus. Mas não são muitos que fazem assim. Nas famílias numerosas é mais fácil compreender a grandeza da vocação divina e há, entre os seus filhos, para todos os estados. Mas comprovei também com acção de graças a Nosso Senhor, e não poucas vezes, que outros, a quem Deus não concede família, sendo casais exemplares, sabem aceitar com alegria a santa vontade de Deus e dedicar mais tempo à caridade com o próximo (S. JOSEMARIA, Apontamentos da pregação, Obras X-63, pp. 20-21).

Tal como o nosso Padre, todo o meu afecto, como o vosso, vai também para os casais a quem o Senhor não concede filhos. Vi muitas vezes que se cumpria literalmente o que o nosso Fundador afirmava: que essas famílias não somente podem santificar o seu lar, mas que além disso têm mais tempo para se dedicarem aos filhos dos outros, e são já muitos os que o fazem com uma abnegação comovedora (S. JOSEMARIA, Apontamentos de uma tertúlia, 10-IV-1969), realizando uma paternidade e uma maternidade fecundíssimas. Consola-me o pensamento de que muitos fiéis vieram para a Obra pela acção generosa destes "pais e mães".

Recentemente, o Papa Bento XVI afirmou que no actual contexto social, os núcleos familiares com muitos filhos, constituem um testemunho de fé, de valentia e de optimismo, porque sem filhos não há futuro. E acrescentava: formulo o auspício de que se promovam novas e adequadas iniciativas sociais e legislativas para tutelar e defender as famílias mais numerosas, que constituem uma riqueza e uma esperança para todo o país (BENTO XVI, Palavras no final da audiência de 2-XI-2005). Que estas palavras do Santo Padre nos levem fortemente a continuar com o esforço de que, em toda a parte, se ajude a fundo as famílias a cumprir a sua missão, sobrenatural e humana, indispensável para o futuro da sociedade.

Voltemos à contemplação do mistério do Natal, que de algum modo se reitera todos os dias porque diariamente Jesus vem aos nossos altares e quotidianamente nasce e renasce nas nossas almas pela graça. Não deixemos de ir com frequência ao presépio perene do sacrário (S. JOSEMARIA, Janeiro de 1939; cit. em Caminho, ed. crítico-histórica de Pedro Rodríguez, Rialp, Madrid, 2004, 3ª ed., p. 1051), para lhe pedir luz e aprender dEle.

Como já vos indiquei antes, todos estamos implicados nesta tarefa, primeiro com uma oração generosa e, sempre que for oportuno, com o conselho adequado. O Senhor, que em Caná da Galileia se serviu da docilidade dos servos para converter água em vinho, também agora deseja servir-se dos cristãos, de nós, para renovar os seus prodígios, de modo que muitas pessoas acreditem nEle (Cfr. Jo 2, 6-11).


+ Javier

Roma, 1 de Janeiro de 2006

http://www.opusdei.org/art.php?w=28&p=11631


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