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Prelado explica essência da mensagem do Opus Dei
2005-12-22 21:50:49

Em entrevista concedida a Marcin Przeciszewski director de KAI (agência católica polaca), D. Javier Echevarría aborda diversas questões como a santidade no mundo, a participação na vida pública, a cultura contemporânea e o futuro da evangelização.

Em que consiste a essência da mensagem do Opus Dei para o mundo e o homem contemporâneos?
A mensagem do Opus Dei é simplesmente uma expressão da chamada do amor de Deus a todas as mulheres e homens para viverem a fundo e para difundirem a mensagem cristã. É peculiar a incidência na santificação do trabalho e nas circunstâncias comuns da vida.
Para dizer de forma gráfica, São Josemaria Escrivá uniu duas considerações que com frequência se tem tendência para focar de modo separado. Por um lado, repetiu que o mundo não é uma realidade negativa:”viu que Deus era bom”, diz o livro do Génesis. Por outro, que o homem foi colocado no mundo precisamente para trabalhar – e isto também o ensina o Génesis.
Como consequência, para cumprir a vontade de Deus, para ser um cristão coerente, para ser santo, não é necessário abandonar o mundo: o trabalho e as ocupações comuns duma pessoa corrente convertem-se em meio e ocasião para viver, de modo heróico, a caridade com Deus e com o próximo.

Desde o início, o Opus Dei propõe o ideal da santidade no quotidiano realizado em cada momento da vida. Como ideal é muito bonito, mas como levá-lo à prática no meio de tantos problemas que encontramos em cada dia, nesse dia-a-dia que nos distrai com o seu ritmo vertiginoso?
A primeira condição é aceitar com brio os problemas e esse ritmo vertiginoso que referiu. Se não nos espantarmos nem desanimarmos perante as dificuldades, já teremos meio caminho andado.
Mas o factor fundamental é cultivar a amizade com Jesus Cristo todos os dias, mostrando que o amamos de modo objectivo e subjectivo, não teórico. Refiro-me também à necessidade de dedicar um tempo diário à intimidade com Deus: à participação na Santa Missa, à oração, à leitura do Evangelho… Não é assim tão difícil: basta tomar a decisão e programar, embora possa ser preciso pensar como aproveitar melhor o tempo ou prescindir um pouco da televisão.
Jesus Cristo disse-nos: “Vinde a mim os que estais sobrecarregados e angustiados, que eu vos aliviarei”. Se permitirmos que Deus entre na nossa vida, os problemas não vão desaparecer, mas, partilhados com Ele, poderemos vê-los doutra maneira, como ocasião de O servir e aos outros. Se abrimos a Deus a porta da nossa conduta, da nossa alma, por ela terão também entrada as pessoas que nos rodeiam.
Além do diálogo com Deus também é preciso praticar as virtudes humanas. São Josemaria Escrivá destacou sempre a importância das virtudes que tornam grata a convivência: a generosidade, a alegria, o espírito de serviço, o amor à liberdade…

Alguns membros do Opus Dei desempenham funções de relevo na vida pública: há intelectuais, empresários e políticos. Como se pode ser cristãos na política – até ao fim e sem condescendências? A política define-se como a “arte do compromisso”. Como é que estes aspectos encaixam?
Em primeiro lugar, julgo que não devemos exagerar: ser coerente com a fé pode, às vezes, custar, mas não é uma tragédia. Também muitos não cristãos actuam em consciência, com pontos de referência firmes, que consideram inegociáveis: se não, seriam pessoas sem princípios, o tipo de pessoa em que uma pessoa recta não se pode fiar. Sei de políticos não cristãos que abandonaram uma pasta ministerial por razões de consciência, por desacordo com uma decisão do seu governo. Se um cristão, para defender a sua fé, se visse moralmente obrigado a chegar a esse ponto, não faria nada de inaudito, embora se trate dum caso excepcional.
A política, pela sua natureza, implica debate, consenso, procura de acordos. Mas, antes, exige prudência, e – de modo especial – desejo de servir o bem comum, honradez. Com essa base, o esforço dos políticos, também dos cristãos, consiste em trabalhar seriamente, explicar com claridade as suas razões, atender à razão ou à parte de razão que os outros têm. Para santificar esse tipo de trabalho é preciso fazê-lo bem feito, sem trapalhice nem enganos, com qualidade e com caridade, rectificando quando haja erros. Para os católicos, as tarefas políticas não são uma tarefa incómoda, mas um desafio apaixonante.
Deixe-me acrescentar que a maior parte dos fiéis do Opus Dei desempenham profissões correntes na sociedade, embora todos procurem descobrir o brilho que se esconde em todo o trabalho realizado com amor de Deus e desejos de servir o próximo.

O Opus Dei dá um grande valor à confissão. Contudo, este sacramento em muitos países e nalgumas igrejas locais está quase a desaparecer. Qual deve ser o papel da confissão na vida de quem quer ser cristão?
O Opus Dei não dá “um grande valor” à confissão, como se fosse uma novidade da sua mensagem: basta reler o Catecismo da Igreja Católica para recordar que uma realidade querida por Deus e recomendada Igreja. A Prelatura sente o dever de relembrar aos fiéis católicos que a possibilidade de dispor deste sacramento é um enorme dom de Deus que temos de agradecer, não é uma incómoda imposição; é um meio que necessitamos.
Na confissão, Deus perdoa os nossos pecados. a palavra “pecado” talvez soe forte nos nossos dias, mas o conceito está tão vigente como o de “consciência”. Na vida de cada um coexistem o bem e o mal, e do mal não teremos de responder apenas diante da justiça humana, mas sobretudo diante Deus. A diferença está em que Deus fará todo o possível para nos perdoar.
Repito: julgo que a fé nos mostra o sacramento da penitência como um dom imenso e uma libertação; ajuda-nos a ser realistas e a reconhecer as nossas limitações, sem eufemismos; descobre-nos o amor de Deus que perdoa sempre, porque é Pai. Além disso, experimentar a misericórdia convida-nos a praticar sinceramente essa misericórdia com todos.

Como avalia a cultura contemporânea? A Igreja sempre manteve o diálogo com a cultura procurando evangelizá-la. Que correntes – como católicos – podemos aceitar na cultura contemporânea, e quais devemos decididamente repudiar?
Não me parece possível exprimir um juízo sobre a cultura contemporânea de modo sumário, porque qualquer a apreciação necessitaria de muitos matizes. Em relação à segunda parte da sua pergunta, penso que o dilema dos católicos não se encontra na distinção entre correntes da cultura que podem aceitar e tendências que devem repudiar. Ao longo da história os católicos foram, antes de mais nada, criadores de cultura: acertaram em exprimir a fé em forma de filosofia, a esperança em arte, a caridade em obras de serviço. Uma grande responsabilidade do cristão, na hora presente, traduz-se em manifestar a sua fé com expressões culturais compreensíveis e atraentes para os seus concidadãos.
Penso que a superação do relativismo – a que se referiu várias vezes Bento XVI - exige dos católicos, e especificamente dos leigos, uma contribuição construtiva, e não apenas uma denúncia. Em particular, isto aplica-se ao que poderíamos chamar “culturas profissionais”, que se estendem mais além das fronteiras geográficas: a cultura própria da comunidade científica ou jurídica, a do mundo do cinema ou da moda… Em todas as culturas profissionais honradas têm de estar presentes os cristãos, não tanto para encetar um diálogo externo, como a partir de fora, mas para oferecer a sua contribuição desde dentro: realizar investigações científicas que respeitem a dignidade da pessoa e melhorem a nossa qualidade de vida, propor leis que protejam a família, etc.
Para dizê-lo com uma imagem, temos de “traduzir” o grande léxico cristão para todas as linguagens profissionais; um léxico que também resume algumas dos mais importantes conquistas do progresso humano: verdade, liberdade, beleza, caridade.

Há uns meses faleceu o irmão Roger Schutz de Taizé, grande promotor do ecumenismo. Como trabalha o Opus Dei neste campo? Como devemos trabalhar cada um de nós, como cristãos, pela unidade dos cristãos?
Quanto à acção do Opus Dei no campo do ecumenismo, poderia assinalar aspectos muito variados, em função da condição dos fiéis da Prelatura. Por exemplo, recentemente tive a oportunidade de participar na ordenação episcopal dum sacerdote da Prelatura em Tallin, onde desenvolve uma intensa actividade ecuménica, num clima fraterno, com cristãos não católicos e também com crentes doutras religiões.
Mas gostaria de me referir a um aspecto mais institucional, muito querido por São Josemaria: os cooperadores do Opus Dei que não são católicos. Desde que a Santa Sé concedeu a sua aprovação, em tempos de Pio XII, milhares de pessoas de todas as confissões cooperam com o trabalho do Opus Dei no mundo inteiro. A colaboração com a Prelatura representa, como é óbvio, uma relação de afecto com a Igreja católica, superação de diferenças, proximidade que prepara o caminho da unidade.

Depois da sua visita à Polónia, como vê o nosso país e a Igreja desta terra? Quais os pontos fortes do nosso cristianismo e em que pontos devemos melhorar?
Penso que a melhor maneira de responder às suas perguntas é voltar às mensagens que João Paulo II dirigiu aos polacos, especialmente aos discursos pronunciados nas diferentes viagens.
Tive oportunidade de vir a esta amada terra em várias ocasiões, de conhecer muitos polacos, de saborear a sua hospitalidade. Posso dizer que para mim a história da Igreja da Polónia representa um contínuo estímulo. A fortaleza na fé e a lealdade ante as dificuldades constituem um ponto de referência. Conforta também saber que Deus premeia a fidelidade, como se pode verificar pelo florescimento das vocações sacerdotais.
Talvez aqui se encontra um dos desafios do momento presente: as circunstâncias mudaram, agora não está em jogo a liberdade; chegou o momento de lutar pelos bens. Sempre é tempo de fidelidade.

O Servo de Deus João Paulo II animou muitas vezes os católicos polacos para uma “criativa participação no ambiente europeu”. Qual deve ser, na sua opinião, o papel do cristianismo da Polónia na evangelização da Europa? Concretamente, como deveríamos realizar a missão da evangelização da Europa?
Pelo que acabo de dizer, estou convencido de que a Polónia está chamada a representar um papel destacado na nova evangelização da Europa. Em relação ao modo de levá-lo a cabo, parece-me fundamental que nos demos conta de que nos encontramos, precisamente, diante duma evangelização que é nova, como repetia João Paulo II, e como assinalou também Bento XVI: nova porque, para muitos europeus, o nosso será o primeiro anúncio que recebem da boa nova do Evangelho; e nova porque temos de transmitir a fé com novo vigor, com renovada alegria, com entusiasmo. A Europa não só tem raízes cristãs: acolhe também um formoso futuro cristão.

O Santo Padre João Paulo II encontrou-se várias vezes com o Opus Dei e valorizou muito positivamente a Obra. Levou aos altares o Fundador. Dentro da riquíssima herança deste Papa, que aspectos considera especialmente importantes? Como deveríamos desenvolver esta obra que nos deixou?
João Paulo II transmitiu-nos uma herança muito rica. Deixou-nos entre outras coisas, o exemplo da sua valente coerência: pode parecer paradoxal, mas penso que foi um Papa popular, porque soube ser “impopular” quando, em defesa da verdade, lhe correspondeu sê-lo.
João Paulo II era consciente de que Cristo salvou todos os homens, e não duvidou em se deslocar ao último recanto do planeta para anunciar o Evangelho. Adiantou-se aos tempos, deu passos de gigante na linha da “mundialização” do apostolado. O seu exemplo move-nos a não limitar o nosso afã de evangelização à Europa ou às fronteiras históricas do cristianismo, mas a estendê-lo a todo o mundo com magnanimidade. A sua figura santa evidenciou a perene novidade da mensagem cristã.
Na realidade, João Paulo II legou-nos muitas heranças, todas de uma grande riqueza. Assinalei só duas porque nos mostram uma oferta e também uma tarefa. Para fazer frutificar a sua herança contamos com outro grande dom seu: o testemunho de esperança. Certamente, a esperança é um dom de Deus, mas aviva-se com o exemplo dos santos. E um testemunho heróico de esperança foi-nos oferecido dia após dia, no nosso tempo, por João Paulo II.

Gabinete de Informação do Opus Dei na Internet

Fonte Ecclesia

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