paroquias.org
 

Notícias






Certos intrusos ao espírito do Natal... cristão
2005-12-13 21:34:11

Por muito que procuremos estar em atitude de abertura aos mais diversos sinais da expressão da fé e doutras vertentes sociais, o Natal veicula-se (com especial linguagem) através de um código com raiz, matiz e significado cristãos. Mesmo que referindo-nos a uma envolvência (mais ou menos nostálgica), o espírito do Natal faz-nos reportar, em vivência mais profunda, ao nascimento de Jesus. No entanto, pelas mais díspares razões e até distor-ções, o Natal tem-se vindo a tornar uma festa demasiado horizontalista, sendo mesmo cerceada, nalguns meios (escolar, comercial, desportivo ou ético...) dos sinais tipicamente cristãos.
É sobre estes ‘intrusos’ ou até substitutos do essencial do nosso Natal, que tentaremos partilhar nesta reflexão:


* Figuras supletivas
Para além do uso e algum abuso do bonacheirão ‘Pai Natal’ temos visto serem acrescentados outros ingredientes, tais como: a árvore (seja pinheiro ou qualquer outra espécie arbórea, tendencialmente plastificada e de razoável duração), as luzes (mais lâmpadas eléctricas do que velas naturais, a treluzir, multicolores e diversificadas, razoavelmente baratas, compradas na loja mais atractiva), simulações de neve ou de ruralidade, subtilezas de festa e outros adereços ao sabor da sensibilidade decorativa ou da moda reinante... em cada ano, embora a imaginação esteja a esgotar-se!
Algumas destas substituições podem envolver aspectos mais ou menos consentâneos com um certo espírito natalício, mesmo que envoltos numa linguagem esotérica e nem sempre acessível a todos. A ‘árvore de Natal’ como figuração da ‘árvore da vida’ e em correlação com a mãe-natureza, enquanto referência à árvore do paraíso perdido ou esquecido. As ‘luzes’ (seja qual for a forma, de expressão que revistam) podem-nos recordar a dinâmica de iluminação que o baptizado recebeu no baptismo e a consequente vida irradiadora da luz de Deus neste mundo. No entanto, esta leitura cristianizada poderá não estar claramente presente na mente e, sobretudo, no comportamento de muitos dos nossos contemporâneos. Desta forma a figuração supletiva como que precisará doutro aprofundamento para que não sintamos alguma desvirtuação do espírito do (verdadeiro) Natal cristão. Com efeito, a Mãe, no presépio, é Maria e Cristo é que é, de facto, a luz verdadeira na qual participamos como rosto de Deus, que brilha em nós e através de nós. Será que alguém se questiona sobre este ser luz para os outros, mesmo que as estrelas não brilhem refulgentes sempre e em toda a parte?

* Substitutos figurativos
Temos sido, desde há algum tempo, como que metralhados por campanhas mais ou menos filantrópicas onde vão pontificando certas figuras ten-dencialmente compreendidas por iniciados, onde a mensagem do Natal é como que arranjada para fazer notar a onda e não o mar donde provém. A tal ‘campanha sorriso’ com que uma cadeia comercial está a repromover-se. Referimo-nos à esbelta ‘leopoldina’, essa diva com sentimentos de sal-vadora auto-suficiente, benfazeja e sem rótulo crente... mas (en)cantante e sedutora.
De facto, muitas das músicas de teor natalício parecem mais rapsódias com sabor duvidoso em vez de nos fazerem voltar o olhar, a mente e o coração para Aquele que nos fez irmãos – de verdade e universalmente – pelo seu nascimento em condição humana. Tal como dizia, há anos, um bispo: ‘o Natal traz fraternidade, mas com dificuldade gera conversão’. Com efeito, nem que seja de forma distraída, não podemos deixar passar em claro aquilo que é essencial na celebração do Natal.
O ambiente musical – até nalguns concertos em locais de culto – tem, por vezes, mais uma tonalidade de dissipação do que de ajuda espiritual ao encontro com o divino em nós, nos outros, na Igreja, na natureza e em abertura ao próprio Deus.
Quantas vezes os brinquedos – esse novo culto sorvido avidamente pela sociedade de consumo – as prendas, mescladas com os presentes e certas formas de promoção do lazer, como que nos fazem desviar a atenção do que é – na linguagem cristã – essencial: a família, a amizade, a partilha e mesmo a fé celebrada em atitude comunitária. Mesmo que de forma residual não podemos perder de vista que os presentes – esse ‘fazer-se presente’ a quem nos oferecemos – mais do que as prendas – isso a que estamos presos por interesse ou conveniência – são, afinal, uma forma de exercitarmos a atenção aos outros, tal como os magos, que abrindo os seus tesouros ofereceram presentes a Jesus. Será que temos cultivado este sentido humano e cristão daquilo que damos? Atendemos ao que damos ou a quem damos? Que espaço têm os sinais cristãos – agora que somos confrontados com ataques sórdidos e anti-cristãos – nos presentes que damos?

* ‘Natal pela rua
– presépio para a vida’
Eis um desafio com que, nós cristãos, poderíamos tentar remar contra certos intrusos – de conveniência, de conivência ou de inconsciência – atentatórios do Natal de Jesus: não podemos enclaustrar hoje a Família Sagrada; não podemos permitir que nos imponham outros sinais para além dos verdadeiros rostos da Sagrada Família; não permitiremos que façam do presépio um resquício mais ou menos cultural de circunstância...
Meditando nas lições do presépio queremos expurgar certos intrusos do nosso Natal!

A. Sílvio Couto

Fonte Ecclesia

voltar

Enviar a um amigo

Imprimir notícia