paroquias.org
 

Notícias






«Evangelizar é abrir as fontes da salvação»
2005-11-09 22:08:04

Homilia do Cardeal-Patriarca de Lisboa na Capelinha das Aparições, por ocasião do ICNE em Fátima.

1. Neste dia em que o nosso Congresso se fez peregrino do Santuário da Virgem, Senhora do Rosário, celebramos a Festa da Dedicação da Basílica de São João de Latrão, a Catedral da Igreja de Roma, a primeira entre as Igrejas, porque construída sobre os túmulos dos Apóstolos Pedro e Paulo, a que preside o Bispo de Roma, o Sucessor de Pedro. Esta coincidência litúrgica convida-nos a meditar sobre a evangelização como construção da unidade da Igreja, porque toda ela, enquanto anúncio do Evangelho, encontra o selo da sua autenticidade na unidade com o Magistério de Pedro. Evangelizar é proclamar a mensagem da salvação e a sua autenticidade é garantida pela comunhão sincera e obediente com a verdade proclamada na Igreja de Roma, a que tem a primazia da verdade e da caridade. Nada enfraquece mais a missão evangelizadora da Igreja do que a quebra desta unidade, garantia da objectividade da verdade, reduzindo a mensagem à verdade de cada um, ao sabor de correntes de pensamento, sujeitando-a aos ditames de uma racionalidade mal compreendida. Passa por aqui a fidelidade à verdade de todos os anunciadores do Evangelho, em primeiro lugar a nossa fidelidade de Pastores, que unidos ao Bispo de Roma no Colégio Apostólico, somos, com ele, esse templo vivo donde jorra a água viva que recria e transforma. A nossa fidelidade é a garantia da fidelidade de todo o povo dos crentes, que na adesão sincera à verdade proclamada pela Igreja, constituem aquele “sentido da fé” de todo o Povo de Deus, enquadramento seguro de toda a evangelização.

2. Na visão de Ezequiel estão já enunciadas algumas características essenciais de toda a proclamação da verdade: a sua fonte é divina e sacramental, porque brota como água viva, do próprio Santuário; o seu fruto não é apenas convencer mas recriar, dando uma vida nova a tudo o que é fecundado por esse rio de água viva.
Na Igreja esse santuário donde jorram, abundantemente, esses rios de água viva, autêntica “fonte da salvação” é Jesus Cristo Vivo, que se dá à Igreja e ao mundo em cada Eucaristia. O próprio Senhor se considerou a Si Mesmo o verdadeiro Templo, destruído e definitivamente reconstruído na Sua ressurreição. Como o Evangelista São João anteviu, simbolicamente, na água que jorrou do lado aberto do crucificado, é de Cristo morto e ressuscitado que brota toda a água viva da verdade, com a força transformadora própria de um acto criador. No centro desse santuário, tornado fonte inexaurível de vida e de graça, está Maria, pela misteriosa união co-redentora ao seu Filho Jesus Cristo. Em Maria, a co-redenção é o novo rosto e a nova dimensão da sua maternidade. Neste novo e definitivo santuário, Ela, que a Tradição viu figurada na “Arca da Aliança”, que no Antigo Testamento ocupava o centro do santuário, não é apenas a água que jorra e purifica, ela é também a fonte, porque mediadora da graça, a sua ternura maternal é fonte da graça da redenção.

3. Quanto acabámos de dizer convida-nos a tomar consciência de algumas qualidades fundamentais de toda a evangelização:

* A sua fonte é divina e sacramental. A fonte donde jorra a água viva, que é Palavra e Sacramento, é Jesus Cristo ressuscitado, que nos dá continuamente o Espírito que vivifica e transforma. O santuário donde brota a salvação, é Cristo e a Igreja, sobretudo no Sacramento da Eucaristia, donde brota a força recriadora da Páscoa. Evangelizar não é simples tarefa humana, com os critérios de eficácia que lhe são próprios. A sua fecundidade é a de Cristo ressuscitado, que actua, em ritmo sacramental, através da acção da Igreja. A evangelização é expressão da caridade, do infinito amor redentor de Jesus Cristo.

* Os agentes da evangelização têm de mergulhar, continuamente, na fonte da graça e da verdade. A capacidade evangelizadora é uma graça baptismal e eucarística e é expressão do anseio de santidade.

* A evangelização exprime o que de mais profundo existe na Igreja, na sua fidelidade a Jesus Cristo, na sua fé que desabrocha em comunhão, no seu desejo de diálogo com o mundo. O anúncio do Evangelho, se visa a salvação das pessoas, é fundamentalmente expressão da vitalidade da Igreja, da sua fidelidade e busca de autenticidade. Quem evangeliza é a Igreja, que cresce na sua autenticidade, evangelizando.

* Por isso a evangelização tem uma dimensão marial. Nossa Senhora, que no dizer do Concílio “é um membro super-eminente e absolutamente único da Igreja para quem é, modelo e exemplar admiráveis da fé e da caridade” (LG. nº 53) é parte constitutiva da riqueza da Igreja. “Sede da Sabedoria”, ela ajuda a Igreja a mergulhar na Páscoa de Jesus, única fonte dessa água viva que pode recriar o homem e o mundo. Aqui aos seus pés, no seu Santuário, dizemos-lhe, com confiança filial, que queremos partir dela e com ela, no anúncio da salvação.


Santuário de Fátima, 9 de Novembro de 2005

† José, Cardeal-Patriarca

Fonte Ecclesia

voltar

Enviar a um amigo

Imprimir notícia