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Viver a vocação à santidade no matrimónio - Intenção do Santo Padre para o Apostolado da Oração – Novembro
2005-11-08 14:40:28 Que os esposos sigam o exemplo de santidade conjugal, vivido por tantos casais, que se santificaram nas condições ordinárias da vida.
1. Vocação à santidade. A afirmação, por parte do Concílio Ecuménico Vaticano II, de que todos os cristãos são igualmente chamados à santidade de vida é para ser tomada em toda a sua exigência: «... todos na Igreja, quer pertençam à Hierarquia quer por ela sejam pastoreados, são chamados à santidade, segundo a palavra do Apóstolo: “esta é a vontade de Deus, a vossa santificação” (1 Tes 4, 3; cfr. Ef, 1, 4)» (Lumen gentium, 39).
O mesmo Concílio recorda não se tratar de uma novidade doutrinal, mas da reafirmação de uma verdade contida nas Sagradas Escrituras e proclamada pelo próprio Cristo: «Sede perfeitos [santos] como é perfeito o vosso Pai celeste» (Mt 5, 48) – isto, na sequência de um discurso em que Jesus exorta os seus ouvintes a deixarem-se guiar pela exigência da perfeição que brota do amor, não se limitando ao simples cumprimento exterior da lei religiosa.
2. Dificuldades em assumir a vocação à santidade. A vocação à santidade não tem resposta fácil, dada a nossa condição pecadora e a facilidade com que o mal, sob todas as suas formas, encontra acolhimento na nossa vida. É, porém, a vocação primeira do cristão, aquela sem a qual nenhuma outra faz sentido. Infelizmente, a lenda apoderou-se demasiadas vezes da santidade, colocando-a sob o signo das façanhas extraordinárias, próprias de personagens exóticas, mas não dos fiéis «comuns». E a santidade refugiou-se nos conventos, tornou-se «coisa» da vida religiosa e, quando muito, de sacerdotes e bispos que, embora vivendo no mundo, levavam vida própria de religiosos. Os fiéis leigos, entretanto, iam ficando cada vez mais arredios destas coisas da santidade – a não ser quando, em alguma perseguição, davam provas heróicas da sua fé, pelo martírio.
3. Matrimónio, caminho de santidade. Para os esposos cristãos, chamados por Cristo a esta particular forma de consagração sacramental, a vocação à santidade há-de encontrar resposta na sua condição de homens e mulheres casados, com as exigências que a vida matrimonial implica: a relação afectiva mútua, que se exprime também pela vivência plena da sexualidade, a partilha das dificuldades e alegrias de cada dia, o saber perdoar e «perder» para que o outro se possa realizar como pessoa, a educação dos filhos (caso os tenham), a partilha com os mais desfavorecidos, o serviço à comunidade eclesial, a dedicação profissional... Tudo quanto permita fazer da vida conjugal muito mais do que a simples soma de duas pessoas a viverem sob o mesmo tecto. Esta comunidade familiar tem na oração o seu alimento quotidiano – e deve sentir-se comprometida a viver, cada qual a seu modo, a exigência evangélica de «orar sempre». A participação comunitária na Eucaristia dominical há-de ser o centro desta vida de oração, de onde ela brota e para a qual se orienta.
4. Exemplos de santidade conjugal. A grande multidão dos santos – Todos os Santos, que celebrámos no início deste mês de Novembro – é composta, na sua maioria, por gente anónima que encontrou em Deus o justo prémio de uma existência escondida, vivida no serviço aos outros. Entre eles, estão certamente muitos esposos, conhecidos talvez apenas dos filhos e de poucos mais, cuja vida foi um hino de amor a Deus, concretizado sobretudo no amor sem condições: entre si, aos filhos, aos mais necessitados... Santificaram-se, verdadeiramente, na vida comum, por vezes no meio de imensas dificuldades. Levaram ao fim a graça da vocação matrimonial e agora, diante de Deus, experimentam a bem-aven-turança do amor que não passa nem conhece os limites próprios da condição humana, finita e pecadora. Se procurarmos bem, encontraremos gente assim, em muitas casas das nossas aldeias, vilas e cidades – exemplos de vida conjugal cristã e sinal claro de que também no matrimónio a santidade é possível.
Elias Couto
Fonte Ecclesia
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