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Padre Carreira das Neves diz que New Age é o desafio do Cristianismo
2005-10-07 16:07:11

O grande desafio que se coloca "às igrejas cristãs, nos próximos tempos, reside na New Age", afirmou ontem o padre e biblista Joaquim Carreira das Neves, na lição pública com que assinalou a sua jubilação académica.

"A fome cultural pelo esotérico e excêntrico explica o boom literário" de livros como O Código Da Vinci, afirmou.
Carreira das Neves, 71 anos, foi escutado por uma plateia de cerca de três centenas de pessoas que enchiam o Auditório Cardeal Medeiros, na Universidade Católica, em Lisboa. Jesus Cristo: história, fé e Igreja foi o tema escolhido pelo teólogo biblista, numa referência à investigação sobre a figura histórica de Jesus que, ao longo de quatro décadas, o padre franciscano perseguiu.
"A pessoa de Jesus marcou e continua a marcar a humanidade. A gosto ou a contragosto, une e divide, atrai e afasta", começou por referir Carreira das Neves. Há quem reduza a figura de Cristo "à fasquia mais baixa: Jesus foi um grande homem e nada mais do que um homem".
Isto não significa que a investigação histórica deva ser menosprezada. A aproximação histórica a Jesus Cristo tem provocado "um certo mal-estar" e "João Paulo II, Bento XVI e, entre nós, D. José Policarpo, têm manifestado esse parecer". Mas o investigador defende que "o estudo sobre o Jesus da história é importante e necessário".
Torna-se preciso, isso sim, alerta o professor de teologia, "saber distinguir entre a investigação séria sobre o Jesus da história, com todas as suas consequências, e a investigação" preconceituosa. É nesta última que Carreira das Neves coloca toda a literatura recente do género de O Código Da Vinci. O fenómeno, compara, assemelha-se ao gnosticismo que existia nos primeiros tempos do cristianismo e negava a dimensão histórica de Jesus.

Dimensão histórica
Carreira das Neves alerta para a necessidade de a Bíblia não ser tomada como um absoluto: ela "pode tornar-se numa tirania, à maneira do Alcorão de certos fundamentalistas islâmicos".
Entre os que recusam a descodificação do texto sagrado e os que, pelo contrário, se colocam nas perspectivas gnosticista ou historicista, o teólogo defende que a Bíblia resulta de um processo de construção. Por exemplo: "É a Igreja com a sua fé, isto é, a fé de comunidades cristãs apostólicas primitivas que impõe o género literário dos evangelhos da infância e não o género literário que se impõe à Igreja na construção da pessoa de Jesus."
Nesta lição de jubilação académica, Carreira das Neves demorou-se na dimensão histórica. Desmontou algumas ideias feitas sobre os evangelhos: nada leva a crer que tenha havido, exemplificou, a "matança dos inocentes" decretada por Herodes.
Os quatro relatos sobre Jesus não têm em vista a "veracidade histórica" dos pormenores e têm, mesmo, contradições entre si, como acontece em relação às narrativas da ressurreição, "acto fundador do cristianismo". A variedade de narrativas prova, antes, "a verdade do facto da ressurreição como algo de único, a crer e não a provar".
Querer harmonizá-las, como preferem "os historicistas e fundamentalistas do texto, é um erro", defende.
Ao contrário dos exegetas bíblicos do grupo norte-americano Seminário de Jesus, que pretendem definir, nos evangelhos, o que terá sido ou não dito por Jesus, Carreira das Neves pensa que "nunca será possível distinguir com precisão total o que pertence à fé, à história e à Igreja". É antes "o texto" que interessa e não "a sua génese e história".

Fonte Público

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