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Igreja sem Eucaristia é uma casa vazia - Carta Pastoral de D. António Marto sobre "Servidores da Alegria do Evangelho: Ministérios e vocações na Igreja"
2005-09-27 22:15:55

Caros Diocesanos, irmãos e irmãs no Senhor,
Em comunhão de cordial e fraterno afecto desejo saudar-vos com as palavras do apóstolo Paulo a Tito: a todos vós “graça e paz da parte de Deus Pai e de Cristo Jesus, nosso Salvador”(1, 4) Quero também expressar-vos a profunda gratidão pelo caloroso acolhimento, a colaboração pronta e o testemunho de fé que me dispensastes durante o primeiro ano que estou entre vós.


Considero um dom da Providência ter iniciado o meu ministério na Diocese precisamente quando o saudoso Papa, João Paulo II proclamou para toda a Igreja um “especial ano da Eucaristia”. Sim, a Eucaristia é o sacramento que ao longo dos meus anos de estudo e docência mais procurei aprofundar e sempre me fascinou: Deus connosco, Deus por nós, Deus para nós, Deus em nós. É um mistério admirável que desconcerta a inteligência mas comove o coração. Assim vivemos um ano pastoral de 2004/05 polarizados na contemplação, no aprofundamento e na vivência do mistério da Eucaristia “coração da Igreja”.
Ao longo do ano foi grande a alegria da igreja diocesana que se dedicou a contemplar o rosto de Cristo que é na Eucaristia o coração da Igreja. Sem a Eucaristia, ela tornar-se-ia uma casa vazia, desolada, um museu de coisas antigas e preciosas mas sem dinamismo vital. Por isso, a Igreja vive da Eucaristia.
O nosso empenhamento com os seus generosos esforços e as naturais fragilidades só Deus o conhece. Não é possível medir o acontecimento de graça que durante o ano tocou as consciências e as comunidades. Mas não posso deixar de lembrar a série de iniciativas que se empreenderam a nível dos arciprestados e, de modo particular, o entusiasmo que despertou nos encontros em que participei com os catequistas, os adolescentes e os jovens. Das mais variadas formas, com o auxílio dos modernos audiovisuais, eles conseguiram captar e exprimir, com surpresa e até comoção minhas, de modo belo e profundo, as diversas dimensões do mistério eucarístico. Por isso, no termo deste ano pastoral quero convosco agradecer as pequenas e grandes maravilhas que o Senhor fez por nós, com as palavras do salmista: “Louvai ao Senhor porque Ele é bom, porque é eterno o seu amor” (Sl 118, 1).
Terminou o ano pastoral dedicado à Eucaristia, coração da Igreja. Mas não como quem fecha uma gaveta para abrir outra. O mistério da Eucaristia continua a inspirar-nos no nosso caminho pastoral. Abre-nos para o mistério da Igreja, para que esta resplandeça cada vez mais na variedade dos seus dons e das vocações e na unidade do seu caminho.
Assim, após a ampla consulta realizada aos vários conselhos diocesanos, cujos preciosos contributos agradeço, apresento-vos, agora, o plano pastoral para o ano 2005/06 com o título “Ministérios e Vocações na Igreja” e o lema: “Servidores da Alegria do Evangelho”. Neste ano, dedicaremos pois especial atenção a estes dois aspectos intimamente ligados “ministérios e vocações”, tão importantes e necessários, para refazer o tecido da comunidade cristã, prover às suas necessidades, renovar as suas energias, a vitalidade da sua fé e o dinamismo da missão.
1. A Assembleia Eucarística, rosto visível do mistério da Igreja

É deveras significativo o começo da celebração eucarística quando dizemos: “Bendito seja Deus que nos reuniu no amor de Cristo”. De facto, a Igreja não é uma multinacional religiosa à qual se possa pertencer à distância, por inscrição e pagamento de quotas; nem é uma sociedade de televidentes, teleleitores, radiouvintes ou internautas, nem um clube de sócios ou amigos. Ela é um projecto de comunhão de Deus com os homens e destes entre si. Por isso, não há Igreja de Jesus Cristo sem assembleia eucarística.
Por sua vez, a assembleia eucarística é o ícone, o rosto visível, a manifestação mais expressiva e acessível do mistério da Igreja. Nela acontece a novidade que distingue a Igreja de qualquer associação ou comunidade humana. É o Senhor ressuscitado que convoca a comunidade dos baptizados; é Ele que verdadeiramente preside a cada celebração da Eucaristia, Se torna realmente presente e celebra a Aliança de Deus com os homens; é Ele o primeiro servidor, o ministro por excelência da sua Igreja. Serve-a oferecendo-lhe os seus dons: a sua Palavra, a Comunhão do seu “Corpo entregue” e do seu “Sangue derramado” no sacramento do pão e do vinho, o seu Amor até ao fim que une na caridade e a participação da sua missão para o mundo. Em síntese, Deus entra em contacto connosco, dá-se a nós, faz-se nosso pão para vivermos d’Ele.
Assim, a Igreja na celebração descobre o que realmente é e é chamada a ser: comunidade da Palavra, dos Sacramentos da graça, da Caridade e Sacramento (sinal) de salvação para o mundo.
Ela é antes de mais obra e construção de Deus que nos chama a colaborar com Ele. Na sua bondade, Deus dá tudo o que é necessário para que esta comunidade se mantenha viva, cresça na fé, floresça no amor, dê testemunho do Evangelho e produza frutos de vida nova no mundo. Para isso, através do Espírito Santo suscita e distribui dons, serviços e ministérios. “A cada um de nós foi dada a graça segundo a medida do dom de Cristo...A uns, Ele constituiu apóstolos; a outros, profetas; a outros, evangelistas, pastores e mestres, em ordem a preparar os santos para uma actividade de serviço, para a construção do Corpo de Cristo até que cheguemos todos à unidade da fé e do conhecimento do Filho de Deus, ao estado de homem adulto, à medida completa da plenitude de Cristo” (Ef 4, 7. 11-13).
A própria celebração da Eucaristia põe diante dos nossos olhos esta dimensão da Igreja: a assembleia participante, o que preside em nome do Senhor, o leitor ao serviço da Palavra, o acólito ao serviço do altar, o ministro extraordinário da comunhão que a leva aos doentes e idosos (caridade), etc.
A assembleia eucarística é pois a Igreja reunida em comunhão na variedade das diferentes vocações e dos diferentes ministérios, é a expressão de um povo ministerial, animado pelo amor do Pai, pela graça do Filho e pela comunhão do Espírito Santo e enviado em missão.

2. Os Ministérios na Igreja
Os carismas e ministérios estão, pois, ao serviço de Jesus Cristo, dos seus dons salvíficos, do seu Evangelho, da vida da comunidade cristã e da sua missão no mundo. Visibilizam o mistério invisível: através deles, a Igreja torna presente no tempo e no mundo a graça do Ressuscitado. Como diz um grande teólogo H.U.von Balthasar, um carisma e um ministério autêntico é como um clarão do céu, destinado a iluminar um aspecto da vontade de Deus para a Igreja e para o mundo num determinado lugar e numa determinada época.
Na sua dimensão de serviço, de disponibilidade e de generosidade, os ministérios dão expressão visível à beleza do mistério da Igreja-Comunhão. Ao nível pastoral, a comunhão expressa-se na participação de todos os baptizados na edificação e na missão da Igreja, enquanto comunidade do anúncio da Palavra, da celebração dos Sacramentos e do testemunho da Caridade. Todavia, trata-se de uma comunhão orgânica, articulada e diferenciada, como acontece num corpo vivo. Realiza-se na diversidade e complementaridade das vocações e condições de vida, dos ministérios, carismas e responsabilidades. Cada um é chamado a dar o seu contributo.
Graças à inserção baptismal na Igreja e aos dons do Espírito, todo o cristão pode e deve, com a vida, as suas obras e o seu testemunho, contribuir para o crescimento da Igreja e a sua missão no mundo. Deste ponto de vista, todos somos sujeitos activos e responsáveis na Igreja. Colaborar responsavelmente na vida da Igreja, segundo os dons recebidos, é direito e dever de todos os cristãos.
Mas para poder exprimir e realizar mais plenamente a sua natureza, a comunidade cristã precisa de homens e mulheres que assumam um ministério, isto é, um serviço mais explícito e directo, de algum modo estável e público, reconhecido na e pela comunidade. Todos os ministérios participam da única missão da Igreja embora a título diferente, em modalidades diversas e em diversos graus de responsabilidade. Alguns são estruturantes e fundadores da Igreja: os ministérios ordenados. Têm a sua origem no sacramento da Ordem graças ao qual é conferido o ministério pastoral em ordem a edificar e guiar a comunidade cristã em nome de Cristo, Pastor da Igreja, em graus de responsabilidade diversos, como bispo, presbítero e diácono. Outros são ministérios instituídos: têm o seu fundamento no baptismo mas são oficialmente instituídos e conferidos pela Igreja em ordem a um determinado serviço na comunidade, em razão das necessidades e actividades da Igreja, como por exemplo os ministérios de leitor e acólito. E, finalmente, temos ainda os chamados “ministérios de facto”: são simplesmente reconhecidos de facto pela Igreja, sem nenhum título ou missão oficial, para assegurar um serviço particular na comunidade.
Aos ministérios instituídos ou reconhecidos chamamos ministérios não ordenados ou laicais enquanto são próprios dos fiéis leigos. A eles se refere, de modo significativo, o Papa Paulo VI: “Ao lado dos ministérios ordenados graças aos quais alguns fiéis são colocados na ordem dos Pastores e passam a consagrar-se de uma maneira particular ao serviço da comunidade, a Igreja reconhece também o lugar de ministérios não ordenados e que são aptos para assegurar um especial serviço da mesma Igreja… Tais ministérios são preciosos para a implantação, para a vida e o crescimento da Igreja e para a sua capacidade de irradiar a própria mensagem à sua volta e para aqueles que estão distantes” (EN n.73).
Torna-se pois urgente promover a corresponsabilidade nas nossas comunidades cristãs com a riqueza de todos os ministérios e serviços necessários para renovar a sua vitalidade a fim de que irradiem a beleza do evangelho e da comunhão e a façam chegar ao coração de todos os homens.

Ministérios laicais
1. Através do anúncio da Palavra, a Igreja cresce como “comunidade de fé”, na qual os homens e as mulheres escutam a Palavra de Deus e lhe respondem com a sua liberdade, comprometendo-se no seguimento do Senhor Jesus. O anúncio tem como finalidade alimentar-nos da Palavra, a fim de que possamos ser seus ouvintes, discípulos e servidores, vivendo a missão evangelizadora da Igreja.
Se, como recorda João Paulo II, esta “é seguramente uma prioridade para a Igreja no início do novo milénio” (NMI nº 40), é significativo e precioso o ministério dos fiéis leigos que se empenham na catequese para as várias faixas etárias, nos itinerários de preparação para os sacramentos (concretamente para o matrimónio), no apostolado bíblico, nos grupos de escuta ou de leitura orante da bíblia, nas iniciativas de evangelização.
2. Com a celebração da Liturgia, a Igreja é edificada e cresce como “comunidade redimida”, continuamente vivificada pela graça do Senhor, na celebração dos sacramentos. O mistério da salvação realizado por Jesus (mistério pascal) alcança os homens mediante um encontro vivo e vivificante com o próprio Senhor ressuscitado que, especialmente nos sacramentos, está sempre presente e actuante na sua Igreja (cf. SC nº 7).
Para que a Palavra e a acção santificante de Deus continuem a impregnar a vida dos cristãos ao longo da sua existência quotidiana, são também necessários tempos e espaços de oração, pessoal e comunitária, como “relação viva dos filhos de Deus com o seu Pai infinitamente bom, com o seu Filho Jesus Cristo e com o Espírito Santo” (CICat nº 2565) e como preparação e extensão das próprias celebrações litúrgicas, em particular da Eucaristia.
Nesta perspectiva, para favorecer a qualidade das celebrações e para educar à oração devem ser promovidos os ministérios laicais que digam respeito à celebração litúrgica – os leitores, os acólitos, os animadores litúrgicos, os animadores do canto, os que recolhem as ofertas, os ministros extraordinários da comunhão, os animadores da assembleia dominical na ausência do presbítero, os que se ocupam do acolhimento – como também aqueles que se referem à animação de momentos ou grupos de oração. Graças ao seu ministério as nossas paróquias e todo o grupo ou comunidade eclesial poderão tornar-se “autênticas escolas de oração” (NMI nº 33).
3. Há, enfim, o testemunho da caridade ou comunhão no amor fraterno. Através dele, a Igreja, à semelhança do seu Senhor e Mestre, constrói-se e cresce como comunidade do amor, servindo a pessoa e a sociedade através de um amor que se dá e partilha, se faz promoção humana e acolhimento, alma da sociedade e fermento de um mundo novo na solidariedade, na justiça e na paz. É este o sinal distintivo de cada cristão e de cada comunidade cristã: “Vede como eles se amam”! De facto, a Igreja anuncia o Evangelho não só com a pregação da Palavra e a celebração dos sacramentos, mas também com o testemunho concreto da caridade nas mais diversas formas que ela pode e deve assumir.
Entre as muitas formas com que se exprime o testemunho da caridade, ocupa um lugar especial o cuidado ou a solicitude pelos mais necessitados. Para realizar isso – dando espaço à “nova fantasia da caridade”, pedida por João Paulo II a cada comunidade (NMI nº 50) – devemos promover os ministérios laicais de atenção e assistência aos pobres, aos marginalizados, aos imigrados, aos presos, etc; da assistência aos doentes, às pessoas portadoras de deficiências e aos idosos como em numerosas formas de voluntariado e na actuação das obras de misericórdia corporais e espirituais.
O testemunho da caridade exige também a solicitude ou o cuidado pela comunidade cristã no seu conjunto e nas várias formas de acção pastoral, na lógica da comunhão entre todos e da corresponsabilidade na vida da comunidade. Nesta perspectiva devemos promover e valorizar os organismos de participação eclesial em que os fiéis leigos podem exercer um ministério de (cor)responsabilidade: como membros dos conselhos pastorais paroquiais e das assembleias arciprestais, dos conselhos económicos paroquiais, ou responsáveis de diversos grupos, associações e movimentos eclesiais.

Ministérios ordenados
Um lugar específico e insubstituível na edificação e missão da Igreja têm-no os bispos, os presbíteros e os diáconos, isto é, todos aqueles que recebem o sacramento da Ordem. Pela ordenação sacramental, eles recebem um dom e uma missão próprias e peculiares no povo de Deus e ao seu serviço.
Quero debruçar-me, de modo particular, sobre o ministério específico dos presbíteros. “A função dos presbíteros, enquanto unida intimamente à ordem episcopal, participa da autoridade com a qual o próprio Cristo faz crescer, santifica e governa o próprio Corpo. (…) Em virtude da unção do Espírito Santo são marcados por um especial carácter que os configura a Cristo Sacerdote de modo a poderem agir em nome e na pessoa de Cristo Cabeça” (PO nº 2).
Pelo dom que recebem no sacramento, eles tornam-se sinal visível e eficaz da presença e da presidência de Cristo como Cabeça e Pastor da sua Igreja. Não se substituem a Jesus. Mas é Jesus Cristo que se serve deles para pôr à disposição dos seus fiéis os dons da salvação, para a edificação da Igreja na fé e no amor, para a santificação do povo de Deus. O seu ministério é todo ele um serviço a Cristo e ao seu povo.
Os presbíteros recebem a missão de edificar a comunidade cristã como comunidade da Palavra, do Sacramento e da Caridade. O seu modo específico de a edificar é o que se exprime no “ministério da presidência” entendido como serviço à comunhão dos fiéis com Cristo e entre eles e como promotor da comunhão e da corresponsabilidade de todos na vida e na missão do povo de Deus.
Faz parte do ministério da presidência a tarefa de discernir e educar, valorizar, promover e coordenar o exercício concreto dos ministérios e serviços dos fiéis em ordem a um crescimento comunitário da comunidade cristã.
Além disso, os presbíteros, pela graça do sacramento e pela ligação sacramental ao bispo, constituem um único presbitério, ao qual é confiado solidariamente (in solidum) o serviço e a responsabilidade pela Igreja-comunhão, nas suas várias articulações. A comunhão entre os presbíteros é uma dimensão constitutiva e uma realidade decisiva do seu ministério e da sua vida espiritual e pastoral. “Em virtude da comum ordenação e missão, todos os presbíteros estão unidos entre si por um íntima fraternidade que deve manifestar-se espontaneamente e de bom grado na ajuda recíproca espiritual e material, pastoral e pessoal, nas reuniões e na comunhão de vida, de trabalho e de caridade” (LG 28). Eis aqui delineado um programa a desenvolver e actuar, de modo particular nos dias de hoje: a comunhão é a força da missão.
Confio ao Secretariado Diocesano do Clero a sua realização em iniciativas concretas que promovam a fraternidade sacerdotal e o trabalho pastoral em comunhão de intenções e projectos pastorais a nível arciprestal e diocesano.
Para uma revitalização das comunidades e um maior enriquecimento da ministerialidade na Igreja com novos dons e talentos, queremos dar vida na nossa diocese ao Diaconado permanente. É um ministério ordenado específico de colaboração com o bispo e o seu presbitério no serviço da Palavra, da Liturgia e da Caridade.
Confio também ao mesmo Secretariado a tarefa de criar as condições para realizar esta iniciativa: o perfil do candidato, o discernimento vocacional, o itinerário formativo, segundo as indicações do Directório para o ministério e a vida dos Diáconos permanentes.

3. Unidade na diversidade
Esta grande variedade de ministérios, serviços e funções está ligada à missão profética (Palavra), sacerdotal (Sacramentos da Graça) e caritativa da Igreja. Deriva da riqueza de carismas ou dons espirituais que o Espírito Santo continua a distribuir aos fiéis para o serviço dos irmãos. E é requerida pelas situações novas em que o Evangelho deve ser anunciado e testemunhado.
Peço pois que em cada articulação da nossa diocese (paróquia, arciprestado ou zona pastoral), para além de valorizar os ministérios e serviços já presentes, se identifiquem outros ministérios que devam ser concretamente promovidos.
Trata-se de um discernimento necessário para verificar as exigências reais da acção pastoral hoje, em cada comunidade cristã, e criar condições para uma resposta adequada a essas exigências.
A diversidade de ministérios não deve pôr em causa a profunda unidade que há-de caracterizar todos os agentes pastorais. Todos os ministérios na Igreja existem na comunhão e para a comunhão. Não podemos cair na fragmentação ou desagregação da acção pastoral ou, pior ainda, em formas inaceitáveis de concorrência e competitividade. Embora em modalidades diversas, todos e cada um dos ministérios estão ao serviço do único Evangelho de Jesus. Todos e cada um dos agentes pastorais estão ao serviço do Evangelho, da fé, da edificação e missão da Igreja, não em nome próprio e solitários, mas em nome da Igreja, no sinal da comunhão e da corresponsabilidade.
É pois necessário educar adequadamente para este “sentido de Igreja” através de cada iniciativa e de cada itinerário de formação. Neste sentido, daremos início a uma Escola Diocesana de Formação Cristã, onde se ofereça uma formação doutrinal e metodológica específica para os vários ministérios. Cada ministro deve conhecer e saber desempenhar bem o seu próprio ministério com competência, dignidade e espiritualidade.
Espírito de serviço sem vaidade, aplicação ao ministério para não cair na improvisação, disponibilidade sem arrogância, esforço de coerência entre ministério e vida, espírito de comunhão e comunidade sem individualismo: eis algumas das virtudes indispensáveis para exercer dignamente um ministério à imitação d´Aquele que veio para servir e não para ser servido (Mc 10, 45).

4. As Vocações na Igreja
Depois da apresentação dos diversos ministérios queria ainda reflectir sobre um valor fundamental que lhes está intimamente ligado e é condição imprescindível para o compromisso apostólico e missionário: a vocação.
De facto, Deus no seu amor chama e envia todos e cada um ao serviço do Evangelho. Mas cada cristão recebe d’Ele a sua própria e específica vocação e missão.
Em primeiro lugar, o problema vocacional põe-se a cada um: a exigência de discernir a vocação específica que Deus nos reserva na nossa tarefa de anunciar o Evangelho e edificar a Igreja de Jesus Cristo. Isto significa não só saber o que Deus quer de nós, mas também o compromisso de fazer o que Ele nos pede. É uma responsabilidade pessoal que recebe aquele que é chamado: manter sempre viva, grata e alegre a consciência da própria vocação e dar uma resposta livre, generosa e cheia de amor a Deus que chama: “E eu respondi: eis-me aqui, envia-me” (Is 6,8).
Mas o problema vocacional diz também respeito a toda a vida e acção pastoral da Igreja, chamada a suscitar, discernir, acompanhar e apoiar todas as vocações na sua variedade e complementaridade: ao matrimónio, à vida consagrada, aos ministérios, ao apostolado em geral. As vocações na igreja surgem num apelo que vem de Deus, mas que se realiza normalmente através da mediação humana.
Neste contexto, não há dúvida de que deve ser reservada hoje uma singular atenção às vocações sacerdotais. Trata-se de “um problema vital para o futuro da fé cristã”, como dizia João Paulo II. Sem vocações suficientes ao sacerdócio será mais difícil o serviço ao Evangelho e não será possível uma renovada evangelização da nossa Igreja e do nosso território.
Nós, padres e bispos, em primeiro lugar e a um título específico, somos chamados a realizar uma verdadeira e própria pedagogia vocacional que passa, antes de mais, pelo nosso testemunho comunitário, convicto e alegre de vida e serviço, que deixe transparecer a beleza do sacerdócio.
Todavia, suscitar vocações é uma corresponsabilidade de todo o povo de Deus e de cada comunidade cristã. Na carta apostólica “Dar-vos-ei Pastores”, o Papa João Paulo II insiste especialmente neste ponto de que devemos começar a preparar nas paróquias um terreno fértil para que a acção de Deus se desenvolva e o seu apelo possa ser ouvido e seguido. Para que estes primeiros passos possam ter possibilidades de sucesso é preciso estar convicto de que “todos os membros da Igreja, sem excepção, têm a graça e a responsabilidade do cuidado pelas vocações” (n.41). De um modo particular, as famílias cristãs devem ser o lugar primordial onde se educa e abre o coração para as diversas vocações do Espírito.
É preciso animar e acompanhar vocacionalmente cada idade desde o começo da iniciação cristã até aos anos da juventude madura. Para esse efeito, a Diocese dispõe do serviço do Pré-Seminário, mas cada comunidade tem uma responsabilidade inalienável. Em cada comunidade seria desejável a criação de um grupo de apoio às vocações.
Por fim, sabemos que toda a vocação é dom de Deus. Faço pois um apelo sentido a toda a Diocese para dar vida a “uma grande oração pelas vocações”, uma oração vivida com intensa confiança e perseverança, capaz de envolver pessoalmente todos os membros do povo de Deus e a realizar com oportunas modalidades comunitárias.
“É necessário estruturar uma vasta e capilar pastoral das vocações, que envolva as paróquias, os centros educativos, as famílias, suscitando uma reflexão mais atenta sobre os valores essenciais da vida, cuja síntese decisiva está na resposta que cada um é convidado a dar ao chamamento de Deus, especialmente quando este pede total doação de si mesmo e das próprias forças à causa do Reino de Deus”(NMI 46).
Peço pois ao Secretariado Diocesano das Vocações que estude as iniciativas mais oportunas e adequadas a propor à Diocese para uma renovada e mais vigorosa pastoral vocacional, como também as modalidades concretas para promover “a grande oração pelas vocações” nas paróquias, nos arciprestados, nas associações e movimentos eclesiais.

5. Servidores da alegria do Evangelho
Todos os ministérios na Igreja são um serviço à alegria do Evangelho enquanto notícia alegre da salvação de Deus para os homens. Qualquer ministério é belo e grande porque, em definitivo, é um serviço à alegria de Deus que quer fazer a sua entrada no mundo e à alegria da comunhão. “Como são belos os pés dos que anunciam a Boa Nova”(Rom 10, 15). Por isso, o próprio exercício do ministério é chamado a tornar-se uma fonte e uma experiência de alegria.
É cheio de significado que S. Lucas refira esta experiência dos 72 discípulos no regresso da missão recebida de Jesus: “Os setenta e dois voltaram cheios de alegria, dizendo: Senhor, até os demónios se sujeitaram a nós em teu nome. Disse-lhes Ele: Não vos alegreis porque os espíritos vos obedecem; alegrai-vos, antes, por estarem os vossos nomes escritos no Céu”(Lc 10, 17-20). Cada um de nós é chamado a viver com alegria, serenidade e simplicidade o próprio ministério ou serviço, pequeno ou grande que seja.

Acolhamos pois o convite de Paulo VI: “Conservemos o fervor do espírito. Conservemos a doce e constante alegria de evangelizar, mesmo quando é preciso semear nas lágrimas. Seja isto para nós – como o foi para João Baptista, para Pedro e Paulo, para os apóstolos e para uma multidão de extraordinários evangelizadores ao longo da história da Igreja – um impulso interior que ninguém nem nada poderá extinguir. Possa o mundo do nosso tempo – que busca na angústia ou na esperança – receber a Boa Nova não de evangelizadores tristes e desencorajados, impacientes e ansiosos, mas de ministros do Evangelho cuja vida irradie fervor, que tenham recebido em primeiro lugar a alegria de Cristo e aceitem arriscar a própria vida a fim de que o Reino seja anunciado e a Igreja implantada no coração do mundo” (EN 80).
Não queria terminar esta carta sem expressar mais uma vez todo o meu reconhecimento aos padres da diocese pela sua dedicação ao ministério pastoral e também a minha estima particular a todos os leigos que aceitam consagrar uma parte do seu tempo e das suas energias, com tanta generosidade, aos vários serviços e ministérios em prol da comunidade cristã.
Sigamos em frente com esperança, confiando a realização do nosso plano pastoral ao Senhor Jesus e a Maria, Sua Mãe:

Senhor Jesus,
Concede-nos meditar sobre o sentido do mistério da Igreja
Para podermos realizar a responsabilidade eclesial
Que cada um deve assumir na própria comunidade.
Concede-nos meditar este mistério de que participamos por tua graça
E de que somos chamados a ser colaboradores por chamamento teu.
Senhor, Tu vives e estás presente na tua Igreja:
Nela infundes o teu Espírito; nela difundes os teus dons e carismas;
Nela nos abrigas, proteges e consolas; nela e por ela crias um Corpo visível
Para irradiar a tua luz, a tua graça e a tua paz a todos os homens.
Faz-nos conhecer a grandeza da vocação a que nos chamas
Mediante a vida, o serviço e o ministério neste Corpo que é teu
E que irradia o esplendor da tua Beleza no tempo,
À espera da tua plenitude na glória.
Nós to pedimos por intercessão de Maria, tua e nossa Mãe,
Nossa Senhora da Esperança, que é a imagem da Igreja peregrina. Ámen!

Festa da Natividade de Nossa Senhora, 08 de Setembro de 2005
António Marto, Bispo de Viseu

Fonte Ecclesia

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