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Teólogos e filósofos reunidos em Gaia para discutir futuro do cristianismo
2005-09-08 09:33:40

Um congresso que reúne um importante grupo de teólogos, filósofos, sociólogos e outros pensadores irá debater, de hoje até domingo, em Valadares (Gaia), o tema Deus no século XXI e o futuro do cristianismo.

Trata-se de uma iniciativa que pretende afrontar "os grandes desafios que a Igreja e o cristianismo têm pela frente", na expressão do padre Anselmo Borges, principal responsável pela organização.
Questões como o diálogo inter-religioso, a globalização, o diálogo multicultural, a genética, a cibercultura, o lugar do feminino, a descentralização da Igreja ou o diálogo ecuménico são temas que o congresso abordará. "O cristianismo e os cristãos têm que assumir para si estes desafios", diz Anselmo Borges, que é também teólogo e professor de Filosofia na Universidade de Coimbra.
Para o cristianismo - e para a Igreja Católica, em particular - "a grande missão, hoje, é evangelizar Deus e des-romanizar a Igreja". Explica: "O evangelho é, em primeiro lugar, uma boa notícia sobre Deus, um Deus que olha para a humanidade que sofre, um Deus favorável à humanidade".
O congresso, que assinala os 75 anos da Sociedade Missionária da Boa Nova (SMBN), uma congregação fundada em Portugal que se dedica à missionação, quer afrontar desde logo o desafio de Deus, explica Anselmo Borges. "Não por causa de Deus, mas por causa do homem."
E cita um dos principais convidados, o teólogo alemão Johann Baptist Metz, contemporâneo do actual Papa na teologia alemã e com quem chegou a ter casos polémicos, e segundo o qual Jesus "não olhou para o pecado, mas para o sofrimento das pessoas".

"A teologia tem que ser significativa"
A "teologia da memória" de Metz - também conhecido por vezes como autor da "teologia da esperança" ou da "teologia política" - radica na sua própria experiência pessoal: aos 16 anos, no estertor do nazismo, Johann Baptist foi mobilizado para o exército alemão. Um dia, foi encarregado de entregar uma mensagem. Quando regressou, os seus companheiros estavam todos mortos.
O episódio levava-o a repetir com frequência aos seus alunos de Teologia: "Se o que aqui dizemos não tiver nada a ver com as nossas vidas e as nossa dores, de nada serve. A teologia tem que ser significativa".
Defensor da "unidade do amor a Deus e ao próximo", Metz advoga que "a paixão por Deus traduz-se na paixão pelo homem que sofre", recorda Anselmo Borges. É a "mística de olhos abertos", que deve levar o cristianismo também a não se remeter para o privado, mas a "participar nos grandes debates públicos".
De Johann Baptist Metz, que completou 77 anos no mês passado, foi publicado em Portugal, há 30 anos, o livro Teologia do Mundo, uma das suas obras mais importantes. Outros títulos fundamentais da sua vasta bibliografia (não editados em Portugal) são Esperar apesar de tudo, Iluminismo e teoria teológica, Para lá da religião burguesa, ou o recente Conceito da nova teologia política.
Metz chegou a ter um pequeno conflito com o então arcebispo de Munique, Joseph Ratzinger, o actual Papa Bento XVI, quando este contrariou a sua nomeação como professor de Teologia na década de 70. Já no ano passado, o teólogo foi um dos participantes convidados para o debate, sobre Deus e a modernidade, entre o cardeal Ratzinger e o filósofo Jurgen Habermas.
No congresso, que se inicia às 15h00 de hoje no Seminário da Boa Nova, em Valadares, participam mais de 160 pessoas. Nele intervêm outros importantes nomes estrangeiros, como os espanhóis José María Mardones, Andrés Torres Queiruga, Juan Martin Velasco e Juan Masiá Clavel e o mexicano Enrique Dussel.
De Portugal, são esperadas as intervenções de António Pedro Pita, Teresa Martinho Toldy, Manuel Pinto, João Maria André, Joaquim Fernandes, Alexandre Castro Caldas, Rui Coelho, Adriano Moreira, Fernando Regateiro, Daniel Serrão e Bento Domingues.

António Marujo

Fonte Público

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