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Grupo católico denuncia Feytor Pinto ao Vaticano
2005-07-16 10:49:35

Sítio na Internet divulga carta e dá a conhecer endereços aos interessados.
A redacção de um sítio na Internet ligado a um grupo de católicos pôs a circular uma carta sugerindo aos eventuais interessados que "informassem" três organismos do Vaticano das declarações do padre Vítor Feytor Pinto ao PÚBLICO, domingo passado, a propósito do aborto e do preservativo. Na carta, os responsáveis do grupo, identificado como a redacção do sítio Internet www.pensabem.net, dizem que as declarações de Feytor Pinto os deixam "pelo menos, muito perplexos".


Na entrevista, o actual responsável da Comissão Nacional da Pastoral da Saúde e pároco do Campo Grande, em Lisboa, admitia o uso do preservativo, quando esteja em causa o "não matar", numa referência implícita à luta contra a sida. E admitia, em relação ao aborto que, em casos extremos - como a violação -, se a pessoa "não encontra uma alternativa", deve ser ajudada "ao máximo para que não destrua uma vida". "Mas, se a destruir, compreendemos que o conflito interior foi de tal natureza que não encontrou outra saída. Não vamos dizer que esta pessoa é uma criminosa."
Ontem, em declarações ao PÚBLICO, o padre Feytor Pinto reiterou o conteúdo das suas afirmações na entrevista (ver frases), dizendo que não quer alimentar polémicas. Já o grupo que dinamizou a iniciativa, apesar da tentativa de contacto via correio electrónico, não respondeu à solicitação. Mas, a avaliar pelo conteúdo da página, o grupo aparenta ser católico.
Na carta, assinada pela redacção do Pensar Bem e enviada a um conjunto de pessoas, começa-se por dizer ser "com muita pena" que se envia cópia da entrevista. Tendo em conta o "grande relevo de que goza" o pároco do Campo Grande junto da opinião pública, "é evidente" que as "afirmações controversas podem suscitar confusão em muitas consciências, já bastante confusas, ou até encaminhá-las por sendas gravemente erradas", acrescenta o texto.
É isso que leva os responsáveis do sítio Internet a pensar que seja "oportuno informar deste assunto as autoridades vaticanas competentes". A quem concorde com a iniciativa, dão-se a conhecer os endereços electrónicos e de correio da Congregação para a Doutrina da Fé, do Conselho Pontifício para a Família e do arcebispo Elio Sgreccia, presidente da Academia Pontifícia para a Vida.

"Não me preocupa nada"
Curiosamente, não é sugerido o envio da mesma carta ao presidente do Conselho Pontifício da Pastoral da Saúde, cardeal Javier Lozano, que Feytor Pinto citava nas declarações ao PÚBLICO sobre o preservativo.
"Não me preocupa nada o que estão a fazer, sei que sou profundamente fiel à Igreja e à sua doutrina", afirmou. O pároco do Campo Grande acrescenta que, sobre o preservativo, as declarações que citou são do cardeal Lozano. "Há um princípio ético que diz que toda a regra tem excepção quando está em causa o bem da pessoa", acrescenta. E recorda o exemplo da legítima defesa ou da pena de morte, que a doutrina da Igreja admitiu, como excepções, precisamente quando estava em causa o bem comum.
A carta foi enviada pelo grupo logo às 11h32 de domingo passado, pouco antes de se iniciar, no Campo Grande, a missa que assinalava os 50 anos de padre de Vítor Feytor Pinto. Presidida pelo cardeal-patriarca de Lisboa, a missa teve também a participação do núncio apostólico (embaixador do Vaticano), que leu uma mensagem do secretário de Estado do Vaticano, cardeal Angelo Sodano, escrita em nome do Papa, felicitando o homenageado.
Vítor Feytor Pinto foi até Maio último assistente da Federação Internacional de Médicos Católicos, cargo que exerceu durante dez anos. E integra, até fim de 2006, o Conselho Pontifício para a Pastoral da Saúde, onde trabalha há 14 anos.
Sobre o preservativo:
(...) [Recentemente], o cardeal-presidente do Conselho Pontifício [para a Saúde] disse à imprensa que estão em questão dois mandamentos: o sexto, [que se relaciona com] os nossos comportamentos sexuais, e o quinto, "não matarás". E que, quando o que está em questão é o não matar, e a única forma de não matar é o uso de um profilático, ele pode justificar-se.

Sobre o aborto:
A pessoa pode dispor da própria vida, não da vida dos outros. Dispor da vida dos outros é egoísmo, oferecer a minha vida pela dos outros é generosidade. [A pessoa] pode ter uma pressão de tal natureza que, em consciência, não é capaz de encontrar outra saída. Não vou dizer que, em teoria, é bem. No caso de uma violação, a pessoa não encontra uma alternativa. Vamos ajudá-la ao máximo para que não destrua uma vida. Mas, se a destruir, compreendemos que o conflito interior foi de tal natureza que não encontrou outra saída. Não
vamos dizer que esta pessoa é uma criminosa. (...)

Por António Marujo

Fonte Público

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