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Um ano depois da beatificação dos pastorinhos
2001-05-08 23:27:24

Um ano depois da beatificação dos pastorinhos

“Deus quer servir-Se de ti” - com aquele misto de doçura e firmeza que se desprende de todos os diálogos de Fátima, estas palavras, ditas pela primeira vez em Junho de 1917, trazem a memória de gerações, atravessam o século XX, ressoam como eco do Grande Jubileu do ano 2000 e tornam-se certeza profunda e imperativo urgente no início do novo milénio.
“Deus quer servir-Se de ti” - entendeu Abraão quando se dispôs a partir de Ur dos Caldeus, percebendo toda a sua vida como resposta a um chamamento, a um desígnio, a uma ideia boa cheia de fecundidade.
“Deus quer servir-Se de ti” - e, com temor e tremor, cada um dos Profetas lançou-se a uma missão temerária, maior do que a sua própria natureza, certo desse Amor terno e poderoso que vale mais que a vida.
“Deus quer servir-Se de ti” - foi a intuição que fez do filho de Isabel e Zacarias o Baptista, o percursor, o homem que ousa olhar a sua vida como instrumento de um anúncio, de uma novidade, de uma mudança radical.
“Deus quer servir-Se de ti” – e, no silêncio escondido de uma pequena casa de Nazaré, por um Sim, nunca antes tão total, acontece o inesperado, o impossível, o imenso: “o Verbo fez-Se carne e habitou entre nós”.
“Deus quer servir-Se de ti” – durante quase dois séculos, esta foi a certeza dos cristãos, o nome dos cristãos, a vida dos cristãos. Fê-los santos, missionários e mártires, educadores, fundadores e governantes. Descreveu histórias famosas de mulheres e homens grandes, mas foi sobretudo o tecido quotidiano e oculto da existência de milhares.
“Deus quer servir-Se de ti” – quando, no início do século XX, os Pastorinhos de Fátima ouviram estas palavras na Cova da Iria, elas começavam a ser abafadas pela pretensão de autonomia dos seus contemporâneos e eram ameaçadas pela explosão mediática, que em breve faria crer ao mundo que só existe o que se vê e se sabe e só tem valor o que é público e notório.
“Deus quer servir-Se de ti” – distantes de todas essas distorções, indiferentes aos olhares alheios, para as crianças de Aljustrel, o sentido profundo destas palavras morava na relação única que tinham com “aquela Senhora tão bonita” e no amor crescente que Ela lhes fazia ter ao seu Jesus, que viam, misteriosamente dentro da “luz que Ela lhes metia no peito”. Era o bastante como modo de vida, como paixão missionária.
“Deus quer servir-Se de ti” – e ao som deste pedido, tudo era grande nas suas vidas pequenas: cada instante podia fazer-se oração, cada gesto podia tornar-se sacrifício, cada palavra era voz de uma sede incontida de amar e converter. Não foi preciso serem cultos, nem importantes, nem crescidos. Não foi sequer preciso terem uma vida longa. E mais que tudo, não foi preciso fazerem coisas fantásticas, grandiosas, inovadoras. Entregaram, com um amor incomparável, a totalidade da sua vida para consolar Jesus e salvar os homens. Morreram ainda pequeninos, sem barulho e sem notícia.
“Deus quer servir-Se de ti” – um homem vindo de um país distante, nascido já depois de terem ido para o Céu a Jacinta e o Francisco, traz à Cadeira de Pedro uma novidade e um desassombro que surpreende o mundo. Há nele qualquer coisa de seguro e mendigo, potente e suplicante, autoritário e peregrino. Há nele horas ocultas de silêncio a iluminar gestos de rasgada ousadia. Há nele a marca de uma maternidade que ele não esconde, a doçura de um rosto que o faz ir em frente e encher tudo do amor que o queima, do zelo que o consome. Ao seu gesto, verga-se a geografia do mundo e renasce o vigor confiante da Igreja.
“Deus quer servir-Se de ti” – é o ímpeto que o leva até ao Grande Jubileu do ano 2000. Repete esta certeza a todas as categorias de homens e mulheres com quem se cruza na longa jornada desse ano singular. De cada um quer fazer um Apóstolo, um Herói, um Santo. Lá fora, o mundo pede cada vez mais espectáculo, brilho, e emoções fortes. O Papa responde com o imperativo de Fátima, com o testemunho dos Pastorinhos, com a certeza que sustenta a sua vida.
“Deus quer servir-Se de ti” – no início deste terceiro milénio, esta é uma certeza capaz de mudar a nossa vida, esta é uma palavra que nos torna invencíveis. Um ano depois da Beatificação dos Pastorinhos de Aljustrel, cada um de nós é protagonista de uma aventura, que convoca cada recanto do nosso ser. É este o nosso poder, é esta a nossa bandeira, é esta a nossa missão.

Madalena Fontoura


Fonte Ecclesia

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