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Imigrantes aprendem bê-á-bá
2001-05-02 13:08:22

Igreja Católica, estimando em 30 mil o número de cidadãos de Leste no nosso país, disponibiliza e apoia cursos de português. No Colégio Marista de Carcavelos, voluntários ensinam primeiras letras


Elvira, ucraniana, 21 anos, há nove meses em Portugal, é enfermeira, mas está a "fazer limpezas", enquanto tenta obter a "equivalência de diplomas". Larissa, russa, 54 anos, em Junho fará um ano que está no nosso país, tem o curso de agronomia, só que agora é empregada doméstica. Bogdan, ucraniano, 33 anos, em Portugal há um ano, é licenciado em engenharia civil, trabalha como estucador. Estes são alguns dos imigrantes de Leste que, à procura de melhores dias, chegaram a Portugal, munidos de qualificações de nível superior, mas dispostos a aceitar tudo o que aparece pela frente porque, como muito bem sintetizou Bogdan, "aqui chegamos a ganhar num dia o que nos nossos países não ganhávamos num mês".
Mas, para isso, precisam de ultrapassar uma barreira que, a princípio, se afigura quase intransponível: a língua. É que, ao contrário dos imigrantes dos PALOP que, apesar de continuarem a enfrentar dificuldades de vária ordem, não "estranham" o português, os cidadãos de Leste continuam, exactamente pelo motivo inverso, a ser vítimas de empregadores pouco escrupulosos e de mafias tentaculares. Vale-lhes a força de vontade e o apoio da sociedade portuguesa, com forte protagonismo para a Igreja Católica, que, estimando em 30 mil os imigrantes de Leste no nosso país, tem procurado, sem discriminar nacionalidades, disponibilizar ou apoiar cursos de língua e cultura portuguesas para trabalhadores estrangeiros. Quem aparece, maioritariamente, são cidadãos de Leste.

Um desses cursos é ministrado no Colégio Marista de Carcavelos e é lá que Elvira, Larissa e Bogdan, entre outros, aprendem o nosso bê-á-bá. A ideia partiu de Albano dos Santos Teixeira, professor na Escola Secundária da Parede, e teve um acolhimento muito positivo, designadamente o apoio da associação Família Marista, Fundação Champagnat e Congregação Marista. O curso começou no dia 15 de Janeiro e caracteriza-se por uma grande flexibilidade. "Nem o contrário seria possível", diz Albano Teixeira ao DN, adiantando que "os patrões mandam-nos trabalhar frequentemente para sítios distantes do País". Aqui não se marcam faltas, portanto. Quem está, está e pronto. Às vezes, não estão muitos e, por isso, os alunos saem beneficiados: é que chegam a ter um professor só para eles.

A maioria tem habilitações de nível superior e, talvez por isso, revela grande facilidade na aprendizagem da língua. Bogdan, que pagou 600 dólares a "moldovos" para viajar até Portugal e, depois, mais 400 para arranjar um emprego, diz que "português não é difícil, é normal". Enquanto ele trabalha e aprende por cá, a mulher e as filhas estão à espera que as mande chamar, porque, em palavras só dele, "Ucrânia económica baixa".

Também Gelhco, sérvio, 27 anos, químico, em Portugal há ano e meio por via de um doutoramente na Estação Agronómica de Oeiras, afirma que "Jugoslávia agora muito difícil", razão pela qual não vê com maus olhos a possibilidade de ficar em Portugal. Pelo menos, já se interessa pela história do nosso país, a tal ponto que garante: "D. João VI foi o mais interessante pessoa e rei. Foi um homem bom. Acho que era um tipicamente português."

De uma coisa todos podem ficar descansados: no Colégio Marista de Carcavelos ninguém quer saber se são ilegais, porque, antes de mais, são seres humanos, explica Albano Teixeira. Também, apesar de estarem numa instituição católica, ninguém lhes tentará ensinar a religião maioritária no país que os acolheu. "Nunca fizemos perguntas sobre se são clandestinos ou não. A escola é católica, mas não estamos aqui para ensinar religião a ninguém, apesar de eles, sobretudo ortodoxos e alguns protestantes, serem muito religiosos."


Fonte DN

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