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Escritos da Irmã Lúcia marcaram a mudança na percepção de Fátima
2005-03-10 18:06:52

A Irmã Lúcia foi a memória de Fátima: relatou e escreveu o que viu e ouviu de Nossa Senhora. Os seus textos e cartas são um testemunho fundamental, como explicou ao programa Ecclesia o Pe. Jacinto Farias, presidente da Comissão Científica do Congresso de Fátima.

ECCLESIA – Acredita que o vasto património documental da Irmã Lúcia irá permitir a descoberta de aspectos novos sobre Fátima?
Pe. Jacinto Farias - Aspectos novos em termos de conteúdo talvez não, porque no fundo a mensagem está acabada, nos seus conteúdos fundamentais, seja pela documentação que o Santuário tem vindo a produzir na colecção científica, seja pelas memórias e publicações da Irmã Lúcia.
Julgo que muito será possível ainda saber-se a partir da vivência da Irmã Lúcia, do que ela terá escrito, das cartas que recebeu e enviou, documentos aos quais nós não tínhamos aceso, bem como outro tipo de escritos a partir de revelações que ela tenha recebido – sabe-se, dos testemunhos de quem com ela privou, que Nossa Senhora continuou a aparecer-lhe.

E – Poderá existir algum pormenor que seja contrário ao essencial da mensagem?
JF - A experiência da Irmã Lúcia é uma experiência de continuidade e ela foi fiel: penso que o que nos revelará o futuro é um desenvolvimento ainda mais profundo.
Novidades, propriamente, não deveremos encontrar. O grande facto que existe, com esta morte, é a passagem da contemporaneidade dos acontecimentos para a História.
A riqueza da mensagem de Fátima é de uma extrema simplicidade e, ao mesmo tempo, permite um aproveitamento pastoral e teológico.

E – Fala-se muito em “Fátima 1” e “Fátima 2” a partir dos escritos da irmã Lúcia. Podemos separa assim esta memória dos acontecimentos?
JF - Podemos, porque este foi um tema que foi abordado de várias maneiras e já é clássico. Até 1942, com os primeiros escritos, havia aspectos das aparições que se não conheciam. Depois das “Memórias”, essa “Fátima 2” seria já uma reconstrução da própria Irmã Lúcia e há muitas leituras desta evolução.
Um dos Congressos que nós realizámos em Fátima abordou precisamente esta questão da continuidade da mensagem. Foram feitas várias aproximações históricas, críticas e documentais, as quais demonstraram que, afinal, a partir de 1942 há elementos novos que já estavam latentes.
O que se verificou a partir das “Memórias” é um processo que podemos chamar de “interiorização” dos acontecimentos, porque uma criança de 10 anos e uma senhora de 40 têm uma percepção diferenciada das coisas. Penso que é clara a continuidade da própria memória da Irmã Lúcia, numa releitura interior.

E – Essa evolução não é espelho da conjuntura política, nacional e internacional?
JF - Têm sido feitas leituras nessa linha, respeitáveis, mas isso suporia uma preparação intelectual apuradíssima da Irmã Lúcia para acompanhar esses acontecimentos e fazer uma leitura crítica, o que não me parece ser o caso.
Na questão concreta da relação da mensagem de Fátima com o ateísmo militante do Marxismo e do materialismo dialéctico, há documentos em que se diz que a Irmã Lúcia pensava que a Rússia era mulher ou alguém cuja conversão era pedida. Havia uma mensagem que extravasava a consciência da própria vidente.
Agora, que a mensagem seja contextualizada, que no quadro do Catolicismo se tenha estabelecido uma série de relações e interpretações no sentido de uma estratégia pastoral, tudo isso me parece perfeitamente legítimo. O próprio Cardeal Cerejeira dizia que não a Igreja quem impôs Fátima, foi Fátima quem se impôs à Igreja.
Aliás, só a partir dos anos 30 é que a Igreja foi reconhecendo estes acontecimentos, em virtude da adesão popular maciça não só em Portugal, como no mundo.

E – As condições sociais e políticas no país também tinham mudado...
JF - Com certeza, mas penso que a evolução das condições socio-políticas no nosso país foi acompanhada pela evolução do próprio Santuário. A História de Portugal seria completamente diferente sem o efeitos espiritual e moral que Fátima representou, não só no Catolicismo como na própria sociedade.

E – Mesmo assim ,muitos interrogam-se sobre o contributo da Irmã Lúcia para a Nação. Merece ser considerada um símbolo nacional?
JF - Tudo isso depende das perspectivas em que vemos a questão, mas eu vejo que Fátima é um símbolo nacional, porque é uma referência para Portugal. O país é conhecido por causa de Fátima. Os três símbolos, Fátima, Fado e Futebol, são exemplos de três tradições diferentes – desportiva, cultural e religiosa – que mostram a nossa identidade, o nosso sentir.
É preciso lembrar, portanto, que em muitas partes do mundo nós somos conhecidos por causa de Fátima.

E – A análise da mensagem de Fátima continua a ser histórica ou será necessário interpretar o que se conhece?
JF - Eu penso que estamos no plano da hermenêutica, porque do ponto de vista histórico, com a Documentação Crítica elaborada pelo Santuário de Fátima, os Congressos e os estudos feitos, a análise histórica está encerrada.
É preciso fazer ainda uma exploração teológica, aproveitar o potencial que está latente no conteúdo do segredo, quer do ponto de vista de uma leitura pela História, quer da experiência mística do Francisco, da experiência do Mistério da Trindade.

E – Lúcia viveu quase 80 anos depois das aparições. A sua experiência é muito diferente da dos outros videntes?
JF - Eu penso que a Lúcia fará a síntese dos outros dois Pastorinhos, na medida em que relata com mestria e fidelidade a memória daquilo que ela interiorizou.
O Francisco no princípio não ouvia nem via, a Jacinta via e ouvia, mas não falava. A Lúcia era a voz, a protagonista, pelo que a sua espiritualidade estará sempre dentro destas vivências.

E – O que prevê que seja Fátima após o falecimento da Irmã Lúcia?
JF - Do ponto de vista dos conteúdos teológicos, não espero grandes novidades, até porque a revelação terminou com a morte da Vidente.
Acredito que possa acontecer que Fátima tenha um maior desenvolvimento em termos da sua irradiação espiritual e pastoral.

Fonte Ecclesia

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