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Ano da Eucaristia: reflexão e sugestões
2005-03-14 18:05:43

1. Valorizar o domingo como «dia do Senhor»
O Ano da Eucaristia passa, antes de mais, pela vivência do domingo como «dia do Senhor» e, portanto, pela participação activa e consciente na eucaristia dominical.


Nem podia ser de outro modo, pois é nesta celebração que se realiza e torna presente o mistério da fé: o pão e o vinho, pelo poder do Espírito Santo, tornam-se, à palavra de Cristo pronunciada pelo sacerdote, o corpo e o sangue do Senhor Jesus («tão real e perfeitamente como está no alto dos Céus», dizia-se no tempo em que ainda não se tinha medo das palavras...). A Igreja sempre celebrou deste modo «o primeiro dia da semana», assinalando a ressurreição do Senhor Jesus. E foi preciso esperar pelo séc. XX para que, devido a considerações pastorais mal amanhadas ou a reflexões teológicas talvez muito lidas mas pouco abebe-radas, o mistério da fé celebrado ao domingo deixasse de ter o lugar central na vida de muitos cristãos. Diz-se, às vezes, de muitos católicos que são mais «participantes» do que «praticantes» – ou seja, que «ir à missa» não lhes adianta nada. Cuidado! Não tenhamos a pretensão de julgar a obra de Deus no íntimo de cada um dos seus filhos! Seja como for, participar na Eucaristia, em comunidade, é sinal e testemunho do ser cristão, o sinal mais explícito e visível – e não há-de ficar sem consequências, se acreditamos no poder do Espírito de Deus. Além disso, quando nos sobra em dispersão e anonimato o que nos falta em comunhão e identidade, participar na Eucaristia, sobretudo na Eucaristia dominical, não é algo de somenos, que podemos deixar por qualquer motivo – deve antes ser, como escreve o Santo Padre: «o coração do domingo: um compromisso irrenunciável, abraçado não só para obedecer a um preceito mas como necessidade para uma vida cristã verdadeiramente consciente e coerente» (João Paulo II, Carta apostólica Novo millennio ineunte, nº 36).

2. A Eucaristia no centro da vida cristã
Neste Ano da Eucaristia, o mais eficaz, pastoralmente, não será «inventar» duas ou três actividades «eucarísticas» desligadas da vida quotidiana das comunidades. Pelo contrário, importa trabalhar pastoralmente «o de sempre», de tal modo que se torne evidente a afirmação do Concílio Vaticano II sobre a Eucaristia: é «cume e fonte de toda a vida cristã» (Presbyterorum ordinis, 5).
A prioridade pastoral neste Ano da Eucaristia passa, portanto, por revitalizar aquelas manifestações de paixão por Jesus no sacramento eucarístico que fizeram a história das comunidades cristãs num passado ainda não muito longínquo.
A propósito, a Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos publicou uma pequena instrução, com sugestões para a vida das comunidades. No que diz respeito às paróquias, por exemplo, lembra (n. 35): onde for necessário, reordenar de modo estável os lugares da celebração e dar dignidade ao sacrário; dotar-se dos livros litúrgicos e cuidar da autenticidade e beleza dos sinais (vestes, vasos sagrados, utensílios); assumir a existência de uma equipa litúrgica; atender à formação dos diversos inter-venientes na celebração eucarís-tica; programar encontros formativos sobre a Eucaristia; educar sobre o modo como estar na igreja; ajudar a redescobrir a própria igreja paroquial, na diversidade de elementos que a compõem; promover o culto eucarístico e a oração pessoal diante do Santíssimo (visita pessoal, adoração e bênção do Santíssimo, devoção das quarenta horas, procissões eucarís-ticas, lausperenes); valorizar a adoração eucarística depois da Missa da Ceia do Senhor em Quinta-Feira Santa; propor, em ocasiões especiais, a prática da adoração nocturna...

3. Um encontro pessoal com Cristo
Dir-se-á que tudo isto são sugestões com sabor a passado, quando se trata de anunciar o Evangelho numa Igreja que se quer «jovem», «divertida» e, por vezes, «light». E haverá também quem diga que estas propostas manifestam uma «religião intimista», esquecida dos mais desfavo-recidos e dos que andam afastados da Igreja. Uma objecção assim vê pouco e fica perto. A espiritualidade eucarística é eminentemente pessoal. É uma relação do crente (Manuel, Francisca, Ana...), com Aquele em quem se acredita (Jesus). Portanto, relação entre pessoas concretas. Ora, uma relação assim, em particular quando um dos implicados é Jesus Cristo, não pode ficar prisioneira do egoísmo, pois Cristo é dom pleno, total, e quem se relaciona com Ele não pode deixar de entrar nesse dinamismo, sob pena de ser infiel à relação – situação que em linguagem comum se diz «pecado».
A fé eucarística é eminentemente missionária, ou seja, é fé de enviados. A quem? A quem haveria de ser senão aos irmãos, sobretudo àqueles que, pelas mais diversas razões, vivem afastados de Deus ou oprimidos pelos homens? Não foi essa a missão que Jesus Se atribuiu, a Si e aos seus (cfr. Lc 4, 16-21)? Como pode aquele que se encontra com Cristo na Eucaristia deixar de assumir esta missão? E como pode alguém que se diz discípulo mas recusa encontrar-se com o Mestre e alimentar-se d’Ele dizer, com verdade: «Fui enviado a proclamar um ano da graça do Senhor»?

4. Pequenos nadas
Apenas um exemplo. Na minha paróquia, em cada mês, na primeira quinta-feira, há um tempo de adoração eucarística, seguido da celebração da Missa. Há participação e, acima de tudo, há alegria nessa participação. Umas vezes mais, outras menos... mas há. Em cada mês, todas as primeiras segundas-feiras, há um grupo que se reúne para rezar, meditar a palavra de Deus e um documento do Papa sobre a Eucaristia. Umas vezes vêm mais, outras menos, mas ainda não deixou de se realizar, pois apenas por dois ou três já valeria a pena. Vêm, rezam, partilham, meditam, trocam impressões sobre a vida comunitária... Pequenos nadas, capazes de mudar a vida de alguns ou de muitos, quem sabe? Perguntam-me pelos frutos? É assunto que não nos diz respeito. A nós cabe-nos semear. Há-de haver sempre terra boa, onde a semente produza cem por um. Para mim, o essencial do Ano da Eucaristia está aqui. O resto virá por acréscimo.

Elias Couto

Fonte Ecclesia

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