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Bispos espanhóis surpreendem ao eleger presidente
2005-03-13 17:53:39

Para surpresa de muitos, começando por alguns dos envolvidos, o bispo de Bilbau, Ricardo Blázquez, 62 anos, foi eleito anteontem para o cargo de presidente da Conferência Episcopal Espanhola (CEE), em substituição do cardeal António Maria Rouco Varela, arcebispo de Madrid.

O novo líder do episcopado espanhol é considerado mais moderado do que o seu antecessor.
Mal Blázquez foi eleito, o presidente do Governo, José Luis Zapatero telefonou a Blázquez a felicitá-lo. As relações entre o vencedor das eleições de há um ano e o anterior presidente da CEE estavam muito tensas. Os socialistas - primeiro na campanha eleitoral, depois já no Governo - anunciaram projectos legislativos em relação ao aborto, uniões de facto e adopção de crianças por casais homossexuais. O telefonema distendeu o clima institucional e ficou já combinado entre ambos um próximo encontro.

Surpreendidos ficaram também os nacionalistas bascos. Natural de Villanueva del Campillo, Ávila, em plena região de Castela, Ricardo Blázquez Pérez foi muito mal recebido quando, há dez anos, foi nomeado para Bilbau. "Esse tal Blázquez", foi como um dos líderes nacionalistas do País Basco se referiu ao bispo.
Cinco anos depois, já Blázquez tinha aprendido a falar basco, provocou nova polémica, desta vez com o Governo central. Uma carta pastoral, intitulada Preparar a Paz, assinada pelos bispos do País Basco, criticava duramente a Lei dos Partidos cuja consequência principal era a ilegalização do Batasuna, braço político dos separatistas da ETA - à qual o bispo apelou várias vezes a que depusesse as armas. Anteontem, a eleição de Blázquez já foi recebida pelo porta-voz do Governo autonómico basco com o voto de que ele ajude a "sair do túnel" o diálogo entre o Governo e a autonomia.

A eleição teve dois elementos de surpresa: além da novidade de Blázquez, foi a primeira vez, em 40 anos, que a CEE elegeu um bispo - e não um cardeal ou arcebispo - para presidente. Rouco Varela esteve a um voto de ser reeleito para um terceiro mandato no cargo: teve 51, precisava de 52 dos 77 votantes.

Nacionalistas e descontentes coligados

Perante o impasse, os bispos voltaram-se então para o colega de Bilbau, que ganhou por 40 votos contra 37 de Antonio Cañizares, arcebispo de Toledo (nesta votação, bastava a maioria absoluta). Cañizares acabaria por ser eleito vice-presidente. Acabaram por ser decisivos os votos dos bispos nacionalistas, dos adeptos de Tarancón (antigo arcebispo de Madrid que foi obreiro da transição da Igreja da ditadura para a democracia) e de alguns descontentes da presidência de Rouco Varela.
A eleição de Blázquez foi recebida com algum optimismo também entre observadores da vida da Igreja. José María Vidal, especialista do El Mundo para assuntos religiosos, caracteriza o novo presidente da CEE como "inteligente, simples, próximo, bem preparado, um dos melhores teólogos do episcopado" e que "simpatiza com o nacionalismo, sem ser nacionalista".

Ontem, em entrevista à rádio católica Cope, Ricardo Blázquez reiterou a oposição da Igreja ao aborto e à eutanásia - "Não se pode cortar o itinerário da vida" - bem como ao casamento homossexual: "De um ponto de vista cristão, ético e cultural, não se trata de um casamento. Deus criou [homem e mulher] diferenciados para que eles sejam complementares e para a fecundidade."
A reafirmação da doutrina tradicional da Igreja não é novidade neste bispo: autor de várias obras de teologia, Blázquez presidiu, durante nove anos, à Comissão Episcopal para a Doutrina da Fé. Mas os teólogos que com ele tiveram problemas são unânimes, escreve Juan Bedoya no El País, em dizer que o bispo "guardou sempre as boas normas da caridade para explicar as suas polémicas decisões doutrinais".

Fonte Público

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