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A minha palavra é a do Papa
2005-02-08 12:27:33

"A minha palavra não se afasta um ápice daquilo que é a palavra do Papa. Não sou um padre que me pregue a mim próprio ou coisas da minha intuição pessoal contrárias à Igreja. Estou inteiramente tranquilo e sereno”, declarou ontem ao CM o padre Lereno Sebastião Dias, pároco de São João de Brito, em Lisboa.

Foi durante a homilia da missa de domingo, no aniversário da Universidade Católica, transmitida pela Antena 1, que o padre Lereno Dias incendiou a campanha eleitoral, ao defender que a vida humana vai da concepção à morte e referiu que a ética cristã reprova que seja equiparada à família “uma união de um homem com outro homem” ou de “uma mulher com outra mulher”.

As suas declarações provocaram reacções dos partidos, merecendo a reprovação do PS, BE e CDU e a aprovação do CDS, partidos que têm diferentes ideias sobre o aborto, a eutanásia e direitos dos homossexuais.

O padre rejeita que tenha exortado os fiéis a não votarem nos partidos que defendam posições contrárias à da Igreja, considerando isso uma “calúnia”.

“Eu falei aos fiéis para que não queiram dar um voto distraído, um adjectivo bem empregue. Tem de ser um voto iluminado e reflectido, um cristão deve aprovar por voto uma ética que não seja indigna de si próprio, porque se a vida é um valor absoluto, deve ser defendida”, esclareceu o sacerdote, explicando que as suas homilias são sérias. “Por isso as escrevo todas, embora não seja um escravo da escrita”, referiu.

A homilia do padre Lereno foi ouvida com atenção pelas gentes da sua terra natal, Ramalhal, aldeia do concelho de Torres Vedras, onde é estimado.

“Falou muito bem, não devem querer calar a Igreja”, manifestaram ontem ao CM alguns populares, que definiram o pároco como uma pessoa “coerente naquilo que diz”.

Ordenado sacerdote há 50 anos, o padre Lereno tem 74 anos e recolhe o apoio dos seus conterrâneos, com quem está às segundas-feiras, seu dia de folga. A visita à aldeia é repartida contactando os cinco irmãos e rezando na Igreja do Ramalhal, que foi reconstruída e ampliada com a sua contribuição.

Apesar de nunca ter sido deslocado para a paróquia local, o padre é bastante conhecido e as suas palavras são tidas em consideração.

"VÃO CONSULTAR O CATECISMO" (Lereno S. Dias, Pároco de S. João de Brito)

Correio da Manhã – Que apelo fez na homilia?

Lereno Dias – Falei da vida e de como a Igreja Católica a defende. Citei uma carta aberta de um grupo de católicos aos partidos políticos e aos eleitores, que aponta uma ética própria dos cristãos e eu disse que cada um deve votar de acordo com a consciência religiosa.

Não quis dizer para não votarem nos partidos defensores do aborto e da eutanásia?

– Deus me livre. Nunca, jamais, de modo algum e se houvesse mais advérbios de negação eu usava. Nunca me referi a um partido específico.

Tem consciência da agitação que causou?

– Sou padre há 50 anos, faço muitas homilias e só tenho a intenção de pregar a doutrina da Igreja. Não quero alimentar polémicas, nem vejo razão para tanto comentário. Fiz três homilias iguais no mesmo dia e aquela, como foi transmitida pela rádio, é que levantou problemas, mas vão consultar o catecismo. Temos um dicionário da fé, está lá a doutrina.

REACÇÕES AO APELO DO PADRE LORENO

DOUTRINA REGULA O VOTO

“O Patriarcado aconselha os cristãos a analisar as propostas dos partidos para, em consciência, votarem de acordo com os príncipios da doutrina da Igreja. “Importa avaliar da justiça, da viabilidade, da consonância desses programas [eleitorais] com os príncipios da dignidade humana, do respeito pela vida, da dimensão social”, sublinhou o Padre Jardim Gonçalves, assessor do cardeal patriarca, D. José Policarpo.

DECISÃO CABE AOS ELEITORES

“As orientações que a Igreja fornece são sempre as mesmas: um padre não pode nem deve, de forma alguma, participar activamente na política, nem no altar nem cá fora”, disse ao ‘CM’ D. Jorge Ortiga. “No entanto, os sacerdotes não podem deixar de pregar a doutrina, e, a partir daí, cada cristão saberá como orientar o seu voto”, sublinhou o arcebispo de Braga.

"PALAVRAS MUITO INFELIZES"

“Foram declarações muito infelizes, mas que o PS não valoriza, porque essas declarações não representam a posição da Igreja Católica”, considerou o líder socialista, José Sócrates. O porta-voz do PS, Pedro Silva Pereira, acrescentou que a posição do padre Lereno “não é representativa” e que “as relações entre o PS e a Igreja Católica são normalíssimas”.

IGREJA TEM DIREITO A COMENTAR

Paulo Portas defendeu o direito de expressão da Igreja Católica, mas sem comentar o apelo ao voto feito pelo padre Lereno. “A Igreja é também muitas vezes atacada, não a queiram silenciar”, pediu o líder do CDS-PP. Ressalvando que não ouviu a homilia, acrescentou: “A autoridade da Igreja já disse qualquer coisa sobre a visão da cidadania que recomenda aos cidadãos”.

Fonte CM

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