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Morreu Teólogo Belga
2005-01-03 11:08:08

O padre jesuíta e teólogo Jacques Dupuis, forçado pelo Vaticano ao silêncio entre 1998 e 2000, morreu na cidade italiana de Roma, aos 81 anos. Na condenação que o calou durante dois anos e meio estavam em causa as ideias do seu livro "Para uma Teologia Cristã do Diálogo Inter-Religioso".

Nessa obra, Dupuis propunha "a possibilidade de uma convergência mútua das diversas tradições no pleno respeito das suas diferenças e, enfim, o seu enriquecimento e a sua fecundação mútuos".

De tal modo essa ideia era mal acolhida por alguns católicos que a presença de Dupuis em Fátima, há pouco mais de um ano, foi mal recebida por grupos fundamentalistas.

O teólogo, de origem belga, foi consultor do Conselho Pontifício para o Diálogo Inter-Religioso entre 1985 e 1995. Mas foi também um homem do terreno e construiu a sua teologia a partir da experiência que teve, como missionário, na Índia, onde ensinou entre 1948 e 1984 - durante mais de 35 anos. Quando voltou à Europa, leccionou também na Universidade Pontifícia Gregoriana, em Roma, e dirigiu a prestigiada revista "Gregorianum".
Voz do diálogo inter-religioso

Perito em religiões orientais - dedicou-se a estudar o hinduísmo, em Calcutá, após o curso de teologia -, foi na Índia que o jesuíta desenvolveu a maior parte do seu labor teológico. Já estava em Roma, no entanto, quando publicou, em 1991, "Jesus Cristo ao encontro das religiões mundiais". Seis anos depois, editou o livro que levou a Congregação para a Doutrina da Fé, do Vaticano, a mandá-lo calar.

Na nota que o remetia ao silêncio, o cardeal Ratzinger, prefeito da congregação, dizia que Dupuis procurava "o significado que tem a pluralidade das tradições religiosas dentro do desígnio divino para a humanidade". Ou seja, qual o contributo de todas as crenças - e não apenas do cristianismo - na salvação das pessoas.

Dois anos e meio depois, uma nova notificação sobre o caso tentava pôr fim ao conflito, mas o cardeal Ratzinger ainda acusava a obra de Dupuis de conter pontos doutrinais "que podem conduzir o leitor a opiniões erróneas e perigosas". O superior-geral dos jesuítas dizia, entretanto, que a obra de Dupuis se tornaria fundamental para o futuro do diálogo inter-religioso.

Há um ano, em entrevista ao PÚBLICO, Dupuis - que esteve em Fátima em Outubro de 2002 - afirmava que o cardeal Ratzinger não percebera a sua argumentação. E acrescentava que se pode acreditar em Jesus "como salvador universal e, ao mesmo tempo, dizer que as tradições religiosas têm um sentido positivo no plano divino para a humanidade".

E, depois de séculos em que se ensinou que "fora da Igreja não há salvação", o diálogo inter-religioso é hoje "parte integrante" da missão da Igreja católica, defendia.

Jacques Dupuis nasceu em Huppaye, Bélgica, em 1923. Morreu de hemorragia cerebral no passado dia 28 de Dezembro, mas o facto foi anunciado apenas no último dia do ano.

Das suas dezenas de livros, entre os quais o mais recente "Cristianismo e Religiões: do Confronto ao Diálogo", nenhum está traduzido em português.

Fonte Público

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