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Aldeias vão perder missas
2004-12-15 11:11:50

A falta de sacerdotes é um problema que tende a agravar-se cada vez mais em Portugal, seja em zonas de maiores tradições religiosas ou não.

A Igreja Católica reconhece a crise vocacional e começa a preparar-se para a necessidade de eliminar a prática da missa dominical em cada paróquia, como ainda acontece no Norte e Centro do País.

Em face da evolução negativa do quadro de sacerdotes, a Igreja tem já vindo a encetar algumas iniciativas para, de forma gradual, adaptar os fiéis mais tradicionais à necessidade de reduzir determinados actos de culto onde é indispensável a presença de um padre, como a missa – que em muitos casos teve de ser substituída por Celebrações da Palavra.

“Em Portugal, ainda estamos muito habituados a que cada terra tenha a sua igreja e a sua missa dominical, mas isso vai ter de mudar porque não vai haver padres suficientes. Os fiéis terão de procurar a missa dominical noutras localidades, como acontece já no Alentejo e no Algarve, e noutros países como a França e a Alemanha”, explicou ao CM o arcipreste vilaverdense Roberto Rosmaninho, a quem a diocese de Braga solicitou um estudo sobre a situação.

Em Portugal há actualmente 1400 sacerdotes para cerca de 4400 paróquias, com a agravante da média de idades dos padres rondar os 60 anos. A ausência de renovação do clero está a obrigar a Igreja a reestruturar a sua representação nas freguesias, sobretudo nas zonas rurais, havendo o risco de muitas igrejas ficarem votadas ao abandono.

Na diocese de Braga – onde se regista um dos maiores índices de presença de sacerdotes –, o padre Roberto Rosmaninho adianta que, com base na tendência dos últimos anos, se conclui que “a diocese vai viver um período muito problemático”.

Os padres são cada vez menos e mais velhos. Nos seminários, o número de alunos tem igualmente diminuído de forma sucessiva. “Em média, morrem 14 a 15 padres por ano, e são ordenados 4 a 5 novos sacerdotes, o que significa que a diocese de Braga está a perder 10 padres por ano”, adiantou o sacerdote.

Com o agravamento sucessivo do problema da falta de padres, a diocese terá obrigatoriamente de proceder rapidamente a alterações profundas ao nível do trabalho eclesiástico nas comunidades. “A continuar assim, se agora tenho quatro paróquias, dentro de pouco tempo vou ter aí umas quinze, pelo menos”, desabafou, por seu turno, o padre Carlos Lopes.

O padre Rosmaninho reconhece essa possibilidade, acrescentando que o problema acarreta ainda riscos no que toca à preservação do enorme património religioso, que deixará de ter utilidade corrente. “É como uma casa que, quando não é habitada, degrada-se com maior facilidade e fica mais sujeita a actos de vandalismo”, reconheceu o sacerdote, defendendo um cuidado especial na promoção de organizações de fiéis que assegurem o tratamento e utilização das instalações para serviços sociais.

CRISE POR RAZÕES CULTURAIS

No entender do padre Roberto Rosmaninho, a actual crise de vocações sacerdotais é uma questão cultural. “Até há pouco tempo, quando numa casa surgia um filho que dizia que queria ser padre, isso era um motivo de grande alegria, mas hoje a manifestação de um sentimento desses leva a pessoa a sentir-se retraída e inibida”, explicou.

O arcipreste de Vila Verde chamou a atenção para o facto da vocação sacerdotal implicar um ‘eu’ e um ‘tu’, já que se trata de uma acção em que alguém chama e um outro que responde. “No entanto, os modelos de vida actualmente preferidos em sociedade apenas promovem e deixam espaço para o ‘eu’, ou seja, só fazer o que me apetece agora”, sustentou o sacerdote.

Em seu entender, para que a actual tendência de crise ao nível das novas vocações sacerdotais se inverta, há uma necessidade premente da Igreja valorizar na sociedade o serviço comunitário e o exemplo de vida cristã no meio envolvente.

Fonte JN

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