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Primeiro Catecismo Social da Igreja apresentado no Vaticano
2004-10-27 16:07:47

O “Catecismo Social” da Igreja Católica, um documento sem precedentes na história da Igreja, foi hoje apresentado no Vaticano. A obra mostra uma explicação sistemática e oficial dos princípios católicos sobre questões como os direitos humanos, a guerra, a democracia, a vida económica, a comunidade internacional, o terrorismo ou a ecologia.

Este foi um pedido explícito do Papa ao Conselho Pontifício Justiça e Paz, em 1998, a quem encomendou um "compêndio ou síntese autorizada da Doutrina Social católica" que mostrasse a conexão entre esta e a Nova Evangelização.
A síntese da Doutrina Social da Igreja (DSI) destina-se a Bispos, sacerdotes, leigos – sobretudo aos políticos, empresários e sindicalistas -, mas também a fiéis de outras religiões e a todos os “homens de boa vontade que desejam servir o bem comum”, como refere o prefácio do documento.
A apresentação do Compêndio da Doutrina Social da Igreja, título oficial do documento, esteve a cargo do Cardeal Renato Martino, presidente do Conselho Pontifício Justiça e Paz, o qual explicou que “o Compêndio tem uma estrutura simples e linear”.
Após uma Introdução, a obra está dividida em três partes, que abordam os fundamentos, os conteúdos e as perspectivas pastorais dos ensinamento da Igreja nos domínios sociais, políticos, económicos e morais.
A primeira parte tem quatros capítulos, onde se tratam os pressupostos fundamentais da Doutrina Social: o projecto de Deus para o homem e a sociedade; a Missão da igreja e a Natureza da DSI; a pessoa humana e os seus direitos; os princípios e os valores da DSI.
A segunda parte, composta por sete capítulos, apresenta os conteúdos e os temas clássicos da DSI: a família, o trabalho, a economia, a política, a paz e o ambiente.
A última parte, mais breve, apresenta um único capítulo com uma série de indicações para a utilização da DSI na acção pastoral da Igreja e na vida dos cristãos. A Conclusão, intitulada “Por uma civilização do amor”, exprime o entendimento de fundo de todo o documento.

Desafios
O Cardeal Martino explicou que o Compêndio pretende estar na base de um discernimento capaz de fazer face a alguns desafios que considerou “decisivos e de grande relevo”.
Em primeiro lugar, está um desafio cultural, que apela à dimensão inter-disciplinar da DSI, por forma a estimular “um novo projecto social, económica e política, capaz de colocar no centro a pessoa humana, em todas as suas dimensões”.
D. Renato Martino frisou, em segundo lugar, os problemas levantados pela situação de indiferença ética e religiosa na sociedade actual. “A nível social, os aspectos mais importantes desta indiferença são a separação entre ética e política, bem como a convicção de que as questões éticas não podem aspirar a um estatuto público nem constituir objecto de debate racional e político, por serem expressões de decisões individuais, privadas”.
O último desafio para a DSI nos dias de hoje é de um âmbito propriamente pastoral. De acordo com o presidente do Justiça e Paz, “o futuro da DSI no mundo de hoje dependerá da contínua recompreensão do enraizamento da Doutrina Social na missão específica da Igreja”.

Diálogo
Um dado que está presente em várias partes do documento é o facto de este Compêndio ser apresentado como um instrumento para alimentar o diálogo ecuménico e inter-religioso.
Segundo o Cardeal Martino, “a Doutrina Social implica responsabilidades relativas à construção, organização e funcionamento da sociedade (...) e este compromisso será mais facilmente exequível se for empreendido em diálogo com as confissões cristãs e mesmos as não-cristãs”.
Neste âmbito, ganha especial relevo o tema da paz e dos direitos humanos. “A colaboração inter-religiosa será um dos recurso de valor estratégico para o bem da humanidade, decisivo no futuro da Doutrina Social”, assegura D. Renato Martino.
“O terreno dos direitos humanos, da paz, da justiça social e económica, do desenvolvimento, do futuro, estará cada vez mais no centro do diálogo entre religiões, no qual os católicos participam com a sua Doutrina Social”, apontou.

Terrorismo
O Compêndio é muito duro na condenação do terrorismo, afirmando que “os que se declaram terroristas em nome de Deus blasfemam”.
“Qualificar como mártires os que morrem por cometer actos terroristas significa desnaturar completamente o conceito de mártir”, acrescenta o documento.
No “Catecismo Social” defende-se que “nenhuma religião pode tolerar o terrorismo e, muito menos, pregá-lo”. Neste sentido, o recurso ao terror é considerado como “uma das formas mais brutais que perturba hoje a comunidade internacional: semeia o ódio, a morte, a vingança e as represálias”.
A análise que o Vaticano oferece deste fenómeno destaca-se pela sua profundidade e actualidade. O Compêndio da Doutrina Social da Igreja lembra que o terrorismo começou por ser uma estratégia de organizações extremistas para se transformar, nos nossos dias, “numa obscura rede de cumplicidades políticas, que utiliza mesmo meios tecnológicos sofisticados, recursos financeiros importantes, elaborando estratégias de larga escala”.
A posição oficial da Igreja na luta contra o terrorismo continua a ser a de que esta “deve conduzir-se no respeito pelos direitos humanos e pelos princípios de um Estado de Direito”.
“A luta contra o terrorismo implica o dever moral de contribuir na criação de condições para que este não nasça nem se possa desenvolver”, diz o documento. Na mesma linha, exige-se que “a identificação dos culpados seja provada devidamente, porque a responsabilidade penal é sempre pessoal e não pode ser atribuída a religiões, países ou etnias de que os terroristas façam parte”.

Fonte Ecclesia

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