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"Não Corresponde à Verdade Que a Igreja Condene Os Homossexuais"
2004-07-18 09:00:47

A imagem de condenação dos homossexuais por parte da Igreja não corresponde à verdade, diz o abade do mosteiro espanhol de Montserrat. Em 2025, a abadia, que recebe dois milhões e 200 mil pessoas por ano, completará um milénio sobre a sua criação. Soler foi uma das pessoas cujas intervenções marcaram o Parlamento das Religiões do Mundo, em Barcelona.

Antes da realização do Parlamento das Religiões do Mundo, entre os dias 7 e 13 deste mês, o abade de Montserrat acolheu no seu mosteiro, a 50 quilómetros de Barcelona, uma assembleia de 500 líderes de várias religiões. No final destas iniciativas, Josep Soler diz que o diálogo inter-religioso pode ajudar a aprofundar a própria fé de cada um e afirma que os mosteiros têm um contributo a dar ao mundo contemporâneo.

PÚBLICO - As suas intervenções no Parlamento das Religiões do Mundo foram muito saudadas. Isso significa que as pessoas têm necessidade de respirar mais a espiritualidade dos mosteiros?
P. JOSEP M. SOLER - Todas as pessoas, pelo facto de terem sido criadas à imagem e semelhança de Deus, têm uma dimensão espiritual que pode crescer e desenvolver-se. É muito bonito comprovar que há algo de comum no fundo de cada pessoa, que é como um desejo de infinito, de amor, de plenitude, de comunhão pessoal.

Santo Agostinho expressou-o magistralmente com a famosa frase: "Criaste-nos para ti, Senhor, e o nosso coração está inquieto até que repouse em ti." Por isso, creio que quando se fala do fundo do coração, quando se tenta comunicar uma intensa experiência espiritual, nota-se essa sintonia. Nós, os monges, temos, em certo sentido, a responsabilidade de dar esse contributo aos nossos contemporâneos.

P. - Enquanto dizia, numa das intervenções, que Deus ama os homossexuais, um grupo deles entregava, no arcebispado de Madrid, a sua renúncia à sua condição de católico. Como deve a Igreja evidenciar mais que ama os homossexuais?
R. - Poderíamos encontrar numerosos exemplos nos quais a Igreja afirma, com palavras e com os factos, o amor de Deus para com todas as pessoas, porque Deus ama cada ser humano, seja qual for a sua condição e a sua história pessoal. Outra coisa é afirmar que, a nível objectivo, alguns comportamentos não são conformes ao plano de Deus, tal como se nos revelou na Bíblia, em Jesus Cristo e na tradição viva da Igreja. Sempre a partir de um grande respeito pela consciência e pelo mistério pessoal de cada um. No entanto, em muitos meios de comunicação, continua a insistir-se numa imagem de condenação das pessoas, por parte da Igreja, que não corresponde à verdade.

P. - Os grandes mestres espirituais da Igreja (como São Bento, S. João da Cruz ou Santa Teresa dÁvila) estão hoje muito esquecidos pelos católicos. O que podem ou devem fazer a Igreja e os mosteiros para recuperar essas espiritualidades esquecidas?
R. - Por um lado, há que continuar o trabalho de divulgação que já se leva a cabo. Hoje é possível aceder facilmente aos textos mais importantes desses grandes santos, há traduções e edições muito acessíveis. Por outro lado, é importante mostrar a actualidade da sua vida e do seu carisma. O caminho proposto por São Bento, por exemplo, não é uma velha relíquia medieval, mas uma proposta válida para o nosso mundo de hoje, tanto a nível pessoal (pacificação, unificação, cura das feridas mais profundas da personalidade, comunhão com Deus), como comunitário (experiência de vida em comum, co-responsabilidade comunitária, exercício da autoridade, critérios económicos, de saúde...).

Como dizia [o Papa] Paulo VI, o nosso tempo é muito mais sensível aos testemunhos pessoais que às teorias. Fazem falta mestres espirituais que vivam hoje o carisma desses grandes santos.

P. - O diálogo inter-religioso é uma ameaça para a identidade católica, como alguns membros da Igreja pensam?
R. - Não, se for vivido de forma adequada. Inclusivamente, pode ajudar a aprofundar a própria fé. Para que o diálogo seja autêntico e dê fruto, é importante que cada um dos seus participantes viva a fundo a sua própria religião. Não se trata de dialogar para chegar a uma espécie de religião universal, fruto do sincretismo, mas de avançar conjuntamente até à verdade através do conhecimento mútuo, do respeito e da comunicação. Esta é a linha traçada pelo Concílio Vaticano II.





"Montserrat Continua a Ser Um Centro Espiritual"

Daqui a duas décadas a abadia completa mil anos de existência

P. - Montserrat está a 20 anos de completar um milénio sobre a sua criação. Que contributo pode dar a abadia para concretizar o acolhimento proposto pela regra beneditina aos cidadãos contemporâneos?

R. - Ao fim de quase um milénio, Montserrat continua a ser um centro espiritual, uma comunidade de monges beneditinos que acolhe, no santuário da Virgem, peregrinos, viajantes e turistas de todo o mundo, de todas as idades e condições.

P. - E que contributos pode dar?
R. - O nosso primeiro contributo deve ser o anúncio do evangelho de Jesus Cristo, o qual implica uma preocupação por cada pessoa e, segundo a tradição de Montserrat, pela cultura nas suas múltiplas expressões, desde a música - penso no trabalho tão importante da nossa "Escolania", o coro de crianças - até à arte ou à arqueologia (como se pode ver no nosso museu), passando pela reflexão intelectual ou a edição de livros, pelo amor e o respeito para com a natureza, o qual significa conhecer e cuidar o ambiente natural em que nos encontramos.

Montserrat deseja ser um gérmen de comunhão no seio da Igreja, assim como um lugar de encontro e de acolhimento, onde seja possível o diálogo sincero e respeitoso entre pessoas e organizações de índole diversa.

Fonte Público

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