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Milhares de Voluntários Apoiam Peregrinos a Caminho de Santiago
2004-07-18 08:53:22

Tudo começou com o desastre do "Prestige", o navio que pintou de negro a costa galega. Os voluntários foram aos milhares mas ninguém os coordenava. Agora é a própria Xunta de Galicia que pede pessoas para ajudar a proteger o Caminho Francês de Santiago.

Cerca de sete mil voluntários de vários países andam, por esta altura, a percorrer o Caminho Francês de Santiago de Compostela para auxiliar os peregrinos e sobretudo para vigiar a floresta.

Em ano de Xacobeo (data em que a festa de Santiago coincide com um domingo) e com cerca de mil pessoas diariamente a percorrer o caminho, a Xunta de Galicia, criou a Direcção-Geral do Voluntariado e montou toda a máquina que dá suporte e gere os sete mil voluntários que estão no terreno, bem como os cerca de 50 mil candidatos que já se disponibilizaram a trabalhar na ajuda aos caminhantes. Só este ano, são esperados três milhões de peregrinos em Compostela.

A necessidade de organização do voluntariado, apesar de não ser frequente, surgiu logo após o desastre do petroleiro "Prestige", que pintou de negro toda a costa galega. Dias após o derrame, milhares de voluntários acorreram à Galiza para auxiliar na limpeza da costa mas trabalhando sempre na base do improviso.

"O Prestige formou uma consciência solidária nos galegos que não tem comparação em mais nenhum lugar do mundo", referiu ao PÚBLICO Maria José Bravo, directora-geral do Voluntariado e responsável pelo projecto de apoio aos peregrinos no Caminho Francês que leva a Santiago de Compostela.

Dos oito caminhos devidamente identificados (o de Fisterra e Muxía, a rota marítima Mar de Arousa, o Caminho Primitivo, a Ruta del Norte, a Via de la Plata, o Caminho Português, o Caminho Inglês e o Caminho Francês), este último é, "sem dúvida", o mais frequentado. "Este projecto de voluntariado é um projecto-piloto que tinha que começar por algum lado. Optamos por iniciá-lo no caminho mais usado pelos peregrinos", referiu ainda Maria José Bravo.

O Caminho Francês tem cerca de 1100 anos e é também o que oferece o maior número de albergues e serviços de apoio aos peregrinos que, entrando pela fronteira francesa, atravessam Espanha até chegar à Galiza e a Santiago de Compostela. Esta é, de resto, a via mais usada, quer pelos peregrinos que se deslocam a pé, quer pelos que viajam de bicicleta ou a cavalo.

Com a grande peregrinação anual a Santiago marcada para o próximo dia 25, os voluntários estão agora repletos de trabalho. A equipa foi mesmo reforçada durante os meses de Julho, Agosto e Setembro, embora o serviço se mantenha até ao final deste ano.

Com voluntários oriundos de todo o mundo (nove por cento dos quais portadores de deficiências físicas que não os impedem de ajudar os outros), o serviço está organizado para que não ocorram "alguns problemas" como aquando do "Prestige".

A novidade dos "ecovigias"

"É preciso boa vontade para ajudar os outros mas também é necessário existir alguém que organize, que coloque os voluntários nos locais onde são precisos e na altura certa", explicou a directora-geral do Voluntariado na Galiza que, após a apresentação do projecto, foi confrontada com alguns protestos por parte de populares que temiam que o "voluntariado organizado" acabasse com alguns empregos.

"Um voluntário não vai tirar o emprego a ninguém. Eles não entram nos albergues nem em espaços privados. Não vão ingerir em nada a não ser na preservação do caminho", finaliza Maria José Bravo.

Apesar de haver três tipos de voluntários, os mais conhecidos são os voluntários ambientais ou, como carinhosamente são tratados, os "ecovigias". Os diversos caminhos de Santiago são maioritariamente florestais e rurais. Assim também acontece com o Caminho Francês por onde, diariamente, passam, em média, mil pessoas.

Mil pessoas que acabam sempre por deixar algum lixo, que destroem alguma vegetação, que fumam e atiram os restos de cigarro para a mata, que se sentam a descansar em locais não indicados e que, entre outras coisas, podem provocar incêndios.

Os "ecovigias" estão encarregues de sensibilizar os peregrinos para a protecção da natureza, cabendo-lhes ainda funções mais trabalhosas como a limpeza das matas existentes junto ao caminho, a plantação de árvores e sebes, o arranjo do ladrilho e do piso do caminho, bem como pequenas reparações que sejam necessárias.

Entre os conselhos dados aos peregrinos os voluntários ambientais pedem que seja usado um cantil para a água (que pode ser reabastecido nas muitas fontes de água potável existentes no caminho) em vez de garrafas em plástico, evitando a acumulação de lixo.

É ainda solicitado, entre outros exemplos, aos caminhantes que lavem a roupa apenas nos locais indicados para o efeito, para não contaminarem com detergentes lagos e ribeiros.

Para a Asociación de Periodistas e Estudiosos do Camiño de Santiago", o mau estado de conservação em que se encontram os seculares caminhos de acesso a Santiago de Compostela constitui a principal preocupação.

Cristóbal Ramírez, presidente deste organismo que reúne jornalistas de todo o mundo e tem por função divulgar e proteger os diversos caminhos que levam a Santiago de Compostela, diz mesmo que o Caminho Francês é o único que está bom.

"Os outros caminhos não estão bem sinalizados e o asfalto já tomou conta dos antigos caminhos de terra e do ladrilho", referiu, salientando ainda o aumento do perigo para os peregrinos que são agora "obrigados" a caminhar lado a lado com os automóveis. "Em comum os membros da associação têm um grande amor pelo caminho e pela sua protecção que os leva a sair diariamente em sua defesa", finaliza Cristóbal Ramírez.

Um amor que é agora partilhado pelos milhares de voluntários de todo o mundo que, algures no terreno, vigiam para que os caminhos de Santiago permaneçam genuínos.

Fonte Público

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